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Estado de Minas PESQUISA

Que tal destruir bactérias com outras bactérias?

É justamente a capacidade antibacteriana de alguns micro-organismos que está sendo pesquisada por cientistas brasileiros e argentinos para a produção de alimentos mais saudáveis


postado em 10/04/2015 11:35

A pesquisa que estuda bactérias benéficas no combate a bactérias nocivas está conseguindo promover uma melhoria da qualidade do leite usado na produção de queijo minas(foto: Pixabay)
A pesquisa que estuda bactérias benéficas no combate a bactérias nocivas está conseguindo promover uma melhoria da qualidade do leite usado na produção de queijo minas (foto: Pixabay)
Aumentar o valor nutricional e melhorar a segurança de produtos alimentícios a partir da utilização de compostos produzidos por microrganismos presentes nos próprios alimentos são objetivos de um grupo de pesquisadores paulistas, que conta com a colaboração de colegas argentinos.

Um dos resultados da pesquisa foi a bem-sucedida utilização de bacteriocinas para aumentar a segurança do queijo minas, um queijo típico brasileiro e muito fácil de ser preparado, como explica Bernadette Gombossy de Melo Franco, professora titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP). "O queijo minas é feito em pequena escala no Brasil e tem muitos casos de contaminação por Listeria monocytogenes. Nosso propósito foi usar bactérias que já estão no leite, selecionando entre elas as que são produtoras de bacteriocinas, isolando-as e colocando-as de volta no leite com a função específica de inibir a multiplicação do patógeno", diz a especialista.

Mas o que são essas bacteriocinas, que têm atraído a atenção de pesquisadores e da indústria de alimentos? "São polipeptídeos sintetizados nos ribossomas de bactérias láticas que exibem atividade bactericida ou bacteriostática, ou seja, ou matam microrganismos ou inibem a sua multiplicação sem matá-los", explica Bernadette Franco.

Por sua vez, as bactérias láticas são microrganismos presentes em vários ambientes e que apresentam a propriedade de transformar açúcares (carboidratos) em ácido lático. "Essa propriedade pode ser explorada de várias maneiras tecnológicas para aumentar o valor nutricional ou a segurança do produto alimentar. E elas podem ter muitas outras funções. Em fins terapêuticos, por exemplo, já que podem ser utilizadas como vetores de uma série de genes responsáveis pela produção de compostos importantes do ponto de vista médico, ou químico, devido à grande variedade de compostos que elas podem produzir", conta a professora.

A atividade antimicrobiana é justamente o objeto de trabalho da pesquisa dos paulistas e argentinos. "Esses agentes antimicrobianos, que podem ser usados tanto na área médica como na conservação de alimentos, são também muito variados. Podem ser ácidos orgânicos, diacetil, peróxido de hidrogênio, dióxido de carbono, compostos de baixo peso molecular e, principalmente, as bacteriocinas", conta Franco. A pesquisadora explica que as bactérias láticas são utilizadas como bioconservantes em alimentos há milênios – cerca de 6 mil anos a.C. –, sem que se soubesse qual era o composto químico responsável pela conservação.

(com Agência Fapesp)

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