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Estado de Minas SAÚDE

Tomar ácido acetilsalicílico pode ajudar a prevenir AVC e infarto

Isso é o que diz um estudo inédito realizado no Brasil e que levou em conta o consumo de 81 mg do remédio a cada 72 horas


postado em 19/08/2016 16:06

(foto: Bayer/Divulgação)
(foto: Bayer/Divulgação)
Para pacientes de risco, a ingestão de uma dose de ácido acetilsalicílico (AAS) a cada três dias pode ser tão eficiente na prevenção de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e doença vascular periférica quanto consumir o medicamento tradicional, diariamente. E com uma vantagem: a probabilidade de complicação gastrointestinal diminui.

A conclusão é de um estudo brasileiro apoiado publicado no periódico científico The Journal of Clinical Pharmacology em janeiro deste ano. "Há 50 anos o AAS tem sido adotado na prevenção de eventos cardiovasculares, mas seu uso constante pode causar irritação e sangramento gástrico – muitas vezes sem sintomas prévios. Por isso, nos últimos anos, vem se tentando reduzir a dose. Neste estudo, propomos um esquema terapêutico diferente", diz Gilberto De Nucci, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da USP, e coordenador do estudo.

Conforme explica De Nucci, o ácido acetilsalicílico inibe a ação da enzima cicloxigenase (COX). Nas plaquetas, isso diminui a produção de tromboxano, um tipo de lipídeo que favorece a agregação plaquetária. Por essa razão, na linguagem popular, costuma se dizer que o AAS "afina" o sangue, ou seja, diminui a probabilidade de formação de coágulos que podem obstruir o fluxo sanguíneo.

Por outro lado, na mucosa gástrica, a inibição da enzima COX diminui a produção de prostaglandinas – substâncias que protegem o estômago e o intestino. "Originalmente, o AAS americano tinha 325 mg do princípio ativo. Na tentativa de diminuir os efeitos adversos, a dose foi reduzida para 162 mg e, depois, para 81. Também há comprimidos de 75 mg. Mas, a verdade é que, até hoje, ainda não se sabe ao certo qual é a dose necessária para obter o benefício cardiovascular", comenta o pesquisador.

No estudo publicado no The Journal of Clinical Pharmacology foi adotada a dose de 81 mg. Vinte e quatro voluntários sadios foram divididos em dois grupos. Metade recebeu AAS todos os dias durante um mês. Os demais receberam o fármaco a cada três dias e, no intervalo, apenas placebo. Antes e ao final do tratamento, todos passaram por diversos exames, entre eles endoscopia, biópsia gástrica e teste de agregação plaquetária. Também foi medido no sangue o nível de tromboxano e, no estômago, o de prostaglandina do tipo 2 (PGE2).

"No grupo que tomou AAS todos os dias, houve uma redução de 50% na síntese de PGE2, enquanto nos voluntários que tomaram a cada três dias não foi observada diferença em relação aos níveis basais. Por outro lado, em ambos os grupos, a inibição de tromboxano foi superior a 95% e o resultado no teste de agregação plaquetária foi equivalente", explica Gilberto De Nucci.

Segundo o resultado do estudo, o uso de AAS a cada 72 horas é tão eficaz quanto – e mais seguro – do que seu uso diário. Essa descoberta, na opinião do pesquisador, abre a possibilidade de adotar o fármaco também na prevenção primária de eventos cardiovasculares.

Atualmente, o Food and Drug Administration (FDA) – órgão que regulamenta o consumo de alimentos e de medicamentos nos Estados Unidos – recomenda que o AAS seja usado apenas na prevenção secundária de doenças cardiovasculares, ou seja, em pacientes diagnosticados com doença vascular periférica e os que já tiveram algum episódio de infarto ou AVC e correm risco de um segundo evento. Somente nessa situação, segundo o FDA, os benefícios da terapia suplantariam os riscos de efeitos adversos.

(com Agência Fapesp)

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