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Estado de Minas POLêMICA

Alimento transgênico pode ser uma alternativa para driblar a seca

Apesar de ser uma possibilidade para "acabar" com a fome no mundo, especialistas ainda divergem sobre o consumo seguro desses produtos geneticamente modificados


postado em 17/10/2014 18:56 / atualizado em 20/10/2014 13:38

A matemática é simples: se há pouca oferta de produto no mercado para uma demanda em crescimento, maior será o preço final da mercadoria. O longo período de seca vivido atualmente em Minas Gerais será sentido nas prateleiras dos supermercados até 2015. Isso por que o plantio da safra de café para o próximo ano já está atrasada, devido à má condição da terra. Além disso, houve perda de 40% de grãos da última safra. "O café é um dos nossos principais produtos. O clima também comprometeu a área de pastagem, prejudicando a produção de leite e de gado de corte", afirma Aline Veloso, coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais.

Para o biólogo e engenheiro agrônomo José Luis Araus Ortega, adotar alimentos transgênicos – modificados geneticamente – será fundamental para se evitar os problemas causado pela falta de comida, especialmente no futuro. Isso poderia ser adotado, por exemplo, para a escassez de café que pode afetar os consumidores brasileiros em 2015.

Além do clima, o aumento populaional também é um desafio para os agricultores. Estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que a população mundial deve chegar a 9 bilhões de pessoas em 2050, o que significa, claro, aumento da demanda por alimentos, água e energia.

José Luis Ortega chegou a explicar ao Conselho de Informações sobre Biotecnologia – organização não-governamental ligada às pesquisas de biosegurança – que, "no futuro, as plantas que responderem melhor a situações de escassez de água e de excesso de calor serão fundamentais" para a sobrevivência no planeta. Porém, transformar uma planta, para que se torne tolerante à seca, é difícil, já que essa característica é ligada a vários genes, que teriam de ser descobertos e alterados. Além disso, há a dificuldade em se repetir no campo o desempenho dos testes feitos em laboratório.

Na prática

Segundo Vasco Azevedo, professor de genética da UFMG, as modificações feitas nas plantas, até agora, para a criação de transgênicos da chamada 3ª geração, em sua maioria, é ligada à inserção de algum valor vitamínico ao vegetal. "No arroz, conseguiram adicionar vitamina A. Mas, para combater a seca, é preciso desenvolver plantas capazes de crescer com menos água e com solos mais degradados. Neste caso, uma opção seria o uso de genes de cactos", diz o especialista.

Para avançar nas pesquisas dessa tecnologia, principalmente no Brasil, Azevedo lembra que o país precisa ser mais ativo nos testes das espécias modificadas genéticamente: "Todo alimento transgênico tem de ser testado, mas a maioria desse procedimento é feita no exterior. A Comissão Nacional de Biosegurança deveria ser uma agência, como a Anvisa, e permitir que os laboratórios de universidades realizem os testes. Com isso, os centros de ensino e pesquisa ganham mais autonomia".

Transgênicos vs câncer

A soja é o transgênico mais produzido e consumido no mercado, segundo o professor de genética da UFMG. Alguns alimentos que têm a soja como ingrediente precisam alertar o consumidor, na embalagem, sobre sua adição, caso a porcentagem do transgênico seja superior a 3%.

Vasco Azevedo explica que, por ser usado em baixa quantidade, o alimento geneticamente modificado não afeta a saúde da mesma forma que os agrotóxicos. "A vantagem do transgênico é que demanda menor manejo em sua produção. Hoje, temos até peixe modificado, que cresce mais rápido. Em relação ao pesticida usado nas culturas, é muito mais perigoso. Um morango lindo e enorme, cheio de agrotóxico, é mais perigo do que um alimento geneticamente alterado".

Mas, nem todos pensam assim. Beatriz Carvalho, presidente do Conselho Regional de Nutricionistas da 9 ª Região em Minas Gerais, afirma que alguns testes feitos com transgênicos apresentaram uma relação direta entre o consumo desses alimentos e o surgimento de câncer. "Uma pesquisa realizada na França, em 2012, apontou o aumento de tumores em camundongos alimentados com produtos geneticamente modificados". Ela lembra que quanto mais genes são alterados nas sementes, maior o risco para a saúde do consumidor.

A nutricionista ressalta que a proposta inicial dos transgênicos, quando surgiram na década de 1970, era aumentar a produção de alimentos no mundo, e isso ainda não foi cumprido. "Em torno de 70% de tudo que comemos vêm da agricultura familiar, que tem condições de cultivar sem necessidade de semente transgênica". Como ela explica, os pequenos produtores são responsáveis por importantes culturas no Brasil: 83% da produção de mandioca, 70% de feijão, 58% de leite, 33% de arroz, 46% de milho e 38% de café.

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