Publicidade

Estado de Minas INTERNET

Mercado paralelo: grupos de venda e troca são a nova moda no Facebook

O aumento do consumismo, especialmente nos meios digitais, criou o fenômeno das comunidades e grupos, na maior rede social, para dispensar objetos encalhados em casa e ainda lucrar


postado em 09/04/2014 18:43 / atualizado em 10/04/2014 09:31

Encontrar ingressos para um show que está esgotado há meses, desfazer de um computador antigo, ou mesmo doar uma geladeira: quem já passou por alguma dessas situações sabe como pode ser trabalhoso encontrar quem queira receber uma doação ou comprar um eletrodoméstico usado. O ato de se desfazer do que não precisa está virando algo comum nas redes sociais. Basta procurar no Facebook por palavras-chaves como "bazar", "troca" e "desapego", que inúmeros grupos de usuários aparecem na resultado.

Mãe de quatro filhos, a artesã Gislaine Ribeiro Simões, de 35 anos, se encontra nessa situação. Ela achou uma solução para manter o armário do filho caçula Miguel, de apenas dois anos, sempre renovado e com brinquedos variados, sem pesar no orçamento da casa. Por indicação de uma amiga, ela entrou para o grupo Bazar do Desapego, no Facebook, que é restrito a convidados, e engloba apenas mulheres, em sua maioria, mães. O objetivo desse grupo é vender ou trocar roupas infantis em bom estado, que não servem mais, além de artigos que normalmente são usados por pouco tempo, como cadeira de papinha e carrinho de passeio. Os preços são mais baixos do que os encontrados em lojas.

Gislaine Simões e seu filho mais novo, Miguel, que tem várias peças do armário compradas a partir de um bazar no Facebook(foto: Facebook/Gislaine Ribeiro Simões/Reprodução)
Gislaine Simões e seu filho mais novo, Miguel, que tem várias peças do armário compradas a partir de um bazar no Facebook (foto: Facebook/Gislaine Ribeiro Simões/Reprodução)
Segundo Gislaine, desde que foi aceita no Bazar do Desapego, em novembro passado, já conseguiu substituir todas as roupinhas de Miguel por outras maiores, e já vendeu até uma cadeirinha de balanço. "Eu acho o grupo uma beleza! Os preços são atraentes e, mesmo de segunda mão, os artigos são de ótima qualidade", diz.

Criado pela fisioterapeuta Lisianne Silva Rodrigues, mãe de um menino de quatro anos, e pela nutricionista Luana Fernandes, mãe de uma menina de dois anos, o Bazar do Desapego surgiu com o intuito de ajudar as usuárias a repassar os objetos de seus filhos que não têm uso prolongado. Como esse é um problema enfrentado por várias mães, o grupo cresceu além do esperado – mesmo sendo fechado – e atualmente está com mais de 4 mil membros, em dois anos de existência. "Hoje, a gente vende de tudo. Tem até concessionária divulgando no bazar!", explica Lisianne.

A maioria dos grupos do Facebook possuem regras para os usuários, que, caso não sejam seguidas, após três advertências, pode resultar na expulsão. As normas vão desde a boa conduta com os outros participantes, até a forma de se publicar uma oferta. No caso do Bazar do Desapego, uma das regras características do grupo é aceitar apenas usuárias que forem convidadas por outras já participantes. Para manter a comunidade ainda mais restrita, o bazar não aparece nas buscas da rede social.

É possível também encontrar grupos abertos e com diferentes propostas no Facebook, como é o caso do Comprei e Não Vou – BH, em que qualquer pessoa pode participar e anunciar ingressos para shows ou eventos que não poderá comparecer. O curioso é que muitas pessoas costumam acessá-lo na tentativa de encontrar ingresso já esgotado em bilheterias. Criado há um ano pelo analista de suporte Thiago Silva, de 24 anos, juntamente com sua namorada, o grupo é aberto e já tem mais de 6,5 mil membros. "A gente percebeu que tinha esse tipo de grupo no Rio de Janeiro, mas não existia ainda em BH. É tão bom que até eu já consegui comprar ingressos. Nós temos regras rígidas, para que não apareçam cambistas", conta.

Para entender porque esses grupos de venda e troca de produtos ganham tantos adeptos na rede social, a analista de atendimento do Sebrae-MG, Gabriela Godoy, explica que a divulgação, que é feita à moda antiga, no "boca a boca" – só que neste caso, via mensagem privada – é uma das razões do sucesso. Segundo ela, melhor do que um banner de publicidade anunciando uma loja, é a indicação de amigos, que já experimentaram e podem comprovar a qualidade do serviço. Por isso, até grupos fechados como o Bazar do Desapego atraem tantas pessoas.

Para o economista Gabriel Ivo, do Fecomércio, comércio nas redes sociais ainda não é uma tendência(foto: Fecomércio/Divulgação)
Para o economista Gabriel Ivo, do Fecomércio, comércio nas redes sociais ainda não é uma tendência (foto: Fecomércio/Divulgação)
Outra questão apontada pela especialista do Sebrae é como esse fenômeno reflete o auge do consumismo vivido pelos brasileiros. "Atualmente, está se comprando tanto, que às vezes, nem lugar para guardar os objetos a pessoa tem. Por isso surge a necessidade de se desfazer do que não se usa mais, ou que nunca foi usado. Sem, claro, ter prejuízo", explica Godoy.

De acordo com o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio), Gabriel de Andrade Ivo, as vendas online aumentam a cada ano, e já representam cerca de 5% do comércio formal em geral. "Não podemos considerar o comércio nas redes sociais como tendência de mercado, mas é a sinalização de uma nova fonte de aquisição de bens", diz.

Quem está aproveitando essa onda no Facebook são os profissionais autônomos, que entram nos grupos, conforme o perfil de público, e oferecem serviços sem nenhum custo publicitário. Isso pode ser visto em diversas comunidades de troca e venda.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade