Encontrar ingressos para um show que está esgotado há meses, desfazer de um computador antigo, ou mesmo doar uma geladeira: quem já passou por alguma dessas situações sabe como pode ser trabalhoso encontrar quem queira receber uma doação ou comprar um eletrodoméstico usado. O ato de se desfazer do que não precisa está virando algo comum nas redes sociais. Basta procurar no Facebook por palavras-chaves como "bazar", "troca" e "desapego", que inúmeros grupos de usuários aparecem na resultado.
Mãe de quatro filhos, a artesã Gislaine Ribeiro Simões, de 35 anos, se encontra nessa situação. Ela achou uma solução para manter o armário do filho caçula Miguel, de apenas dois anos, sempre renovado e com brinquedos variados, sem pesar no orçamento da casa. Por indicação de uma amiga, ela entrou para o grupo Bazar do Desapego, no Facebook, que é restrito a convidados, e engloba apenas mulheres, em sua maioria, mães. O objetivo desse grupo é vender ou trocar roupas infantis em bom estado, que não servem mais, além de artigos que normalmente são usados por pouco tempo, como cadeira de papinha e carrinho de passeio. Os preços são mais baixos do que os encontrados em lojas.
Criado pela fisioterapeuta Lisianne Silva Rodrigues, mãe de um menino de quatro anos, e pela nutricionista Luana Fernandes, mãe de uma menina de dois anos, o Bazar do Desapego surgiu com o intuito de ajudar as usuárias a repassar os objetos de seus filhos que não têm uso prolongado. Como esse é um problema enfrentado por várias mães, o grupo cresceu além do esperado – mesmo sendo fechado – e atualmente está com mais de 4 mil membros, em dois anos de existência. "Hoje, a gente vende de tudo. Tem até concessionária divulgando no bazar!", explica Lisianne.
A maioria dos grupos do Facebook possuem regras para os usuários, que, caso não sejam seguidas, após três advertências, pode resultar na expulsão. As normas vão desde a boa conduta com os outros participantes, até a forma de se publicar uma oferta. No caso do Bazar do Desapego, uma das regras características do grupo é aceitar apenas usuárias que forem convidadas por outras já participantes. Para manter a comunidade ainda mais restrita, o bazar não aparece nas buscas da rede social.
É possível também encontrar grupos abertos e com diferentes propostas no Facebook, como é o caso do Comprei e Não Vou – BH, em que qualquer pessoa pode participar e anunciar ingressos para shows ou eventos que não poderá comparecer. O curioso é que muitas pessoas costumam acessá-lo na tentativa de encontrar ingresso já esgotado em bilheterias. Criado há um ano pelo analista de suporte Thiago Silva, de 24 anos, juntamente com sua namorada, o grupo é aberto e já tem mais de 6,5 mil membros. "A gente percebeu que tinha esse tipo de grupo no Rio de Janeiro, mas não existia ainda em BH. É tão bom que até eu já consegui comprar ingressos. Nós temos regras rígidas, para que não apareçam cambistas", conta.
Para entender porque esses grupos de venda e troca de produtos ganham tantos adeptos na rede social, a analista de atendimento do Sebrae-MG, Gabriela Godoy, explica que a divulgação, que é feita à moda antiga, no "boca a boca" – só que neste caso, via mensagem privada – é uma das razões do sucesso. Segundo ela, melhor do que um banner de publicidade anunciando uma loja, é a indicação de amigos, que já experimentaram e podem comprovar a qualidade do serviço. Por isso, até grupos fechados como o Bazar do Desapego atraem tantas pessoas.
Outra questão apontada pela especialista do Sebrae é como esse fenômeno reflete o auge do consumismo vivido pelos brasileiros. "Atualmente, está se comprando tanto, que às vezes, nem lugar para guardar os objetos a pessoa tem. Por isso surge a necessidade de se desfazer do que não se usa mais, ou que nunca foi usado. Sem, claro, ter prejuízo", explica Godoy.
De acordo com o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio), Gabriel de Andrade Ivo, as vendas online aumentam a cada ano, e já representam cerca de 5% do comércio formal em geral. "Não podemos considerar o comércio nas redes sociais como tendência de mercado, mas é a sinalização de uma nova fonte de aquisição de bens", diz.
Quem está aproveitando essa onda no Facebook são os profissionais autônomos, que entram nos grupos, conforme o perfil de público, e oferecem serviços sem nenhum custo publicitário. Isso pode ser visto em diversas comunidades de troca e venda.