Publicidade

Estado de Minas PERFIL

Mineiro vira soldado do exército americano

Confira a história curiosa de Maurício Lima, que vivenciou as guerras no Iraque e no Afeganistão. Ele estava lá quando Bin Laden foi capturado


postado em 09/05/2014 10:15 / atualizado em 09/05/2014 11:35

Quem poderia imaginar que um DJ belo-horizontino iria se tornar um soldado do exército americano, do US Army? Essa é a história de Maurício Lima, de 44 anos, que trabalhava em casas noturnas de BH, e chegou até a ser sócio da extinta boate Ciao Ciao, que ficava no bairro São Pedro. “Decidi ir para os Estados Unidos, já pensando em ajudar nas guerras. Recebi uma oferta de emprego num bar no estado do Arkansas, e quando já estava lá, os próprios americanos me ajudaram a conseguir o green card (passe livre para se viver nos EUA). Com isso, fixei residência e me inscrevi no US Army (exército)”, conta. Isso tudo aconteceu entre 2004 e 2006.

Com 37 anos, Maurício entrou para a escola de infantaria do exército americano, que fica no Fort Benning, no estado da Geórgia. Após o período de treinamento, foi enviado para a Alemanha, em 2007. Ficou apenas um ano em terras alemãs, na base ultramar americana, até ser enviado, com outros 5 mil soldados, para ajudar os colegas no Iraque. Seu pelotão era formado por militares de várias partes do mundo, como Inglaterra, Rússia, Ilhas Fiji, México, Cuba, Porto Rico e Ucrânia.

Nas bases dentro da favela de Sadr City, perto de Bagdá, o espaço era bem pequeno. Os soldados se distraíam com livros e filmes, que eram vistos em  em aparelho de DVD portátil(foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
Nas bases dentro da favela de Sadr City, perto de Bagdá, o espaço era bem pequeno. Os soldados se distraíam com livros e filmes, que eram vistos em em aparelho de DVD portátil (foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)


Quando foram encaminhados para o país do Oriente Médio, a batalha que se instalou lá vivia o pior momento de sua história – os Estados Unidos invadiram o país de Saddam Hussein em 2003, e o ditador foi enforcado em 2006. “Acho que o exército americano estava com cerca de 150 mil combatentes no Iraque, sem contar o pessoal de apoio”, lembra o ex-DJ e atual sargento do exército americano.

Além dos conflitos constantes que aconteciam no país árabe, o pelotão de Maurício Lima se instalou numa base situada na mais violenta favela do país, próxima da capital Bagdá, chamada de Sadr City. “Dos 90 soldados que morriam por mês, no Iraque, em 2008, 60 eram vitimados apenas em Sadr City”. Ele também se lembra de onde foi travada a batalha que mais mobilizou tanques e soldados na guerra: na chamada route gold (rota ouro), ou seja, na rua al-Quds, que fica ao norte de Bagdá, próximo à principal avenida da cidade.

Dos três dias que se repetem na vida de um soldado americano no Iraque, um deles é destinado à vigilância nas torres que circundam bases militares(foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
Dos três dias que se repetem na vida de um soldado americano no Iraque, um deles é destinado à vigilância nas torres que circundam bases militares (foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)


Cotidiano militar

De acordo com o mineiro, o ano de um soldado americano, durante a guerra iraquiana, se resumia a uma rotina de três dias, que se repetem indefinidamente: o primeiro dia é dedicado a missões, por exemplo, de patrulha, de busca ou de investigação de denúncias; no segundo, o soldado fica por conta de situações de emergência, dando suporte a equipes de patrulha; por fim, no terceiro dia, o militar se dedica à manutenção dos equipamentos e ao período de vigilância nas torres que circundam as bases americanas. Descansos só são concedidos após 15 meses de trabalho, e neste caso, o militar tem direito a 18 dias, apenas.

Questionado sobre o terror que é vivenciar uma batalha tão sangrenta, Maurício recorda do momento mais trágico que presenciou em solo iraquiano: um atentado. “Um carro-bomba acertou em cheio um ônibus escolar que transportava meninas, todas estudantes. Quando a equipe de socorro estava atendendo as vítimas, e recolhendo os corpos das garotas, um homem-bomba explodiu no meio desse resgate. Foi chocante”.

Depois de dois anos servindo no Iraque, o mineiro foi enviado para a guerra no Afeganistão. Seu esquadrão se instalou na cidade de Kandahar, que fica na parte sudoeste do país, a mais de 450 km de distância da capital, Kabul. “Em Bagdá a guerra era urbana, e quando fui para o Afeganistão, passou a ser nas montanhas. Fiquei lá até 2011, no período em que Osama Bin Laden foi capturado”, conta o sargento. A captura do líder do grupo terrorista al-Qaeda, responsável pelo ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em 2001, na verdade, foi uma ação ultrassecreta do exército americano, e, segundo Maurício, foi realizada por um grupo pequeno de soldados altamente especializados, que formam a elite dos Navy Seals (fuzileiros da marinha).

No Afeganistão, Maurício passou a travar lutas mais fechadas, nas montanhas que compõem o país(foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
No Afeganistão, Maurício passou a travar lutas mais fechadas, nas montanhas que compõem o país (foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)


“Estávamos realizando uma patrulha na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, sem saber o que estava se passando no resto do país. Quando retornamos à base da montanha, vimos outros soldados comemorando, e ficamos sabendo da captura e morte do Bin Laden”, lembra. Com relação às teorias da conspiração que surgiram após esse célebre acontecimento, que chegam a dizer que o líder terrorista estaria vivo, ao invés de ter sido morto e o corpo jogado no mar pelos militares americanos, Maurício as desmente: “Eu não acredito nessas teorias. Acho que foi morto e jogado no mar, sim. Não se pode correr o risco de manter um corpo de alguém tão visado como ele, já que poderia se transformar em moeda de troca para terroristas radicais”.

Hoje, com 44 anos, e já aposentado, depois de sofrer uma fratura no pé, no Afeganistão, Maurício Lima passou a trabalhar com serviço de segurança privada, na cidade em que vive, Colorado Springs, no estado do Colorado, região central dos Estados Unidos. Em suas lembranças, restam momentos diversos e até destoantes, sejam os de descontração entre os amigos de farda, que chegaram até a criar um mercado paralelo para troca de DVD’s de filmes – essa era a maior distração disponível na base militar –, sejam as cenas bárbaras de civis matando civis nas ruas de Bagdá. O ex-DJ, na verdade, guarda a amizade como principal medalha das batalhas que vivenciou: “Numa guerra, não se pode fazer nada sozinho, é preciso trabalhar em equipe”.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade