A alta tecnologia presente em smartphones, tablets e outros equipamentos eletrônicos que lidamos, diariamente, pode ser uma arma poderosa no combate ao crime. É o que defende o empresário mineiro Renato Werner. Ele e sua equipe desenvolveram o observador, um aparelho capaz de mostrar a localização de uma pessoa e qual a sua visão naquele exato momento. Com isso, centrais de comando policial podem ter maior controle das ações de seus agentes, e conseguem, também, agir integradas ao efetivo presente nas ruas das cidades.
O novo equipamento consiste numa discreta câmera de alta resolução, fixada em um suporte auricular, e conectada a um dispositivo similar ao rádio que os policiais já utilizam. Assim como os celulares, o observador possui suporte ao sistema de navegação GPS e conexão com a internet, por meio de redes wi-fi, 3G e 4G. "Caso alguma das redes não esteja disponível, o equipamento alterna automaticamente a conectividade até retomar a comunicação com a internet", explica Renato Werner.
Além da transmissão de imagens em tempo real, o aparelho consegue gravar até 12 horas de vídeo, sendo possível, ainda, o envio dos dados para um servidor autorizado. Através de um programa instalado no computador, as centrais de segurança podem monitorar, em tempo real, a movimentação de todos os policiais por meio de um mapa da cidade. Clicando sobre o ícone de um agente específico, é possível ver todos os detalhes do aparelho utilizado por ele, incluindo as imagens que está transmitindo.
O monitoramento pode ser feito também por meio de um aplicativo para celular. Tanto no computador como nos dispositivos móveis, é necessária uma autenticação com usuário e senha – sistema de segurança que faz o controle dos equipamentos vinculados à conta.
Lançado oficialmente neste mês de setembro durante a Feira Industrial do Vale da Eletrônica (Fivel), na cidade mineira de Santa Rita do Sapucaí, no sul do estado, o observador já foi testado pela secretaria extraordinária de Segurança para Grandes Eventos – órgão vinculado ao governo federal – durante a Copa do Mundo de 2014.
A empresa presidida por Renato Werner, a Polsec, possui sede em Belo Horizonte e inaugurou, há pouco tempo, uma fábrica na cidade sede da Fivel, onde será fabricado o novo aparelho. Segundo o empresário, ele já possui reuniões agendadas com órgãos governamentais para negociar a utilização do observador pelas forças policiais brasileiras.
Nosso "Vale do Silício"
Com apenas 40 mil habitantes e ares tranquilos de cidade do interior, a pequena Santa Rita do Sapucaí – localizada a 400 km de Belo Horizonte – é conhecida como Vale da Eletrônica e vem sendo comparada ao famoso Vale do Silício, no estado americano da Califórnia, onde nasceram empresas como Apple, Microsoft e outras gigantes da computação.
Tudo isso, por que o município mineiro possui nada menos que 153 empresas de tecnologia instaladas em seu território. Na cidade, entre outros produtos, são fabricadas as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições brasileiras, além de tablets, chips de celular e cartões magnéticos.
Para apresentar as novidades do setor tecnológico e reunir os empresários do ramo, Santa Rita do Sapucaí promove, anualmente, a Feira Industrial do Vale da Eletrônica, que este ano chegou a sua 13ª edição. "Foram mais de 12 mil visitantes e R$ 800 milhões em movimentação de negócios durante o evento. Estamos muito felizes com o resultado", afirma Roberto Souza, presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica.
Visão de futuro
No ano de 1959, Santa Rita do Sapucaí começou a dar os primeiros passos para se tornar tecnológica. Nessa época foi inaugurada a Escola Técnica em Eletrônica (ETE), primeira do ramo na América Latina. A fundadora, Sinhá Moreira, filha de um coronel da cidade, resolveu criar a escola após retornar de um casamento frustrado no Japão. "Ela se dedicava a ações de ajuda à população da cidade. Construiu casas e criou a escola, que foi o primeiro passo para Santa Rita se tornar a potência eletrônica de hoje", conta o deputado federal Bilac Pinto, sobrinho-neto da fundadora da ETE.
Nos últimos meses de vida, Sinhá Moreira entregou a escola aos cuidados dos jesuítas, que a administram até hoje. Além da Escola Técnica em Eletrônica, a cidade possui também outro importante centro de educação em tecnologia, o Instituto Nacional de Telecomunicações.