Em audiência pública realizada na Câmara dos Deputados pela comissão mista que analisa a Medida Provisória 671/15 (conhecida como MP do Futebol), especialistas criticaram a realidade gerencial dos principais clubes do país. Todos eles alertaram para a necessidade de a modernização do futebol brasileiro ir além do refinanciamento das dívidas dos clubes – tema da medida provisória – porque os problemas não se limitam a isso.
O consultor Amir Somoggi, especialista em gestão e marketing esportivos, assinala que as entidades insistem em um modelo de gestão "sem racionalidade, insustentável e que caminha de lado". Ele considera necessário exigir um choque de gestão. "Mesmo que se resolva a questão fiscal, não se resolverá a gestão. Temos que forçar os clubes a reequalizar suas finanças. Se não repensarmos o modelo de administração do futebol brasileiro, ainda veremos clubes tradicionais fechando as portas", comenta o consultor.
Em levantamento apresentado aos parlamentares, Somoggi mostra que o ano de 2014 foi o pior da história do futebol brasileiro em termos financeiros. Os clubes da primeira divisão do Campeonato Brasileiro acumularam um déficit de R$ 598 milhões e o endividamento coletivo chega a R$ 6,6 bilhões – o que equivale a dois anos de faturamentos. As dívidas são de natureza fiscal, trabalhista, bancária e com fornecedores.
Segundo o especialista, não há perspectiva de recuo desses números. "As receitas não crescem há três anos e mesmo assim as dívidas evoluem. Há dependência quase extrema das cotas de televisão, patrocinadores não estão colocando mais recursos, falta criatividade no marketing e os estádios continuam vazios. Daqui a alguns anos vamos estar falando em déficit de bilhões", alerta Amir Somoggi.
Subordinados
O advogado Pedro Trengrouse, especialista em legislação esportiva, critica a estrutura de poder do futebol brasileiro, que subordina os clubes às federações estaduais e as federações à Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Para ele, o sistema é uma herança do regime de exceção. "Esse modelo foi criado na ditadura do Estado Novo, quando determinou-se que deveria haver uma única entidade para gerir o esporte. Ele concentra a riqueza na CBF e nas federações. A autonomia da vontade, ser membro por querer ser membro, não estava na origem do sistema. Mesmo assim, ele foi recepcionado na Constituição de 1988 com autonomia. Somos reféns dele", lamenta o advogado.
Pedro questiona também os mecanismos eleitorais dentro dessas entidades, que, em sua avaliação, são refratários à renovação de lideranças. "Por que atletas e clubes não têm direito a voto nas organizações que administram suas competições? Dirigentes se sucedem e a base de poder permanece a mesma. Se a ditadura criou esse sistema hermeticamente fechado, não dá para esperar nada mais", reclama.
(com Agência Câmara)
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ESPORTE
"Ainda veremos clubes tradicionais fechando as portas"
Diz especialista em gestão do esporte, sobre o atual modelo de gerenciamento dos clubes brasileiros
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