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Estado de Minas PET | COMPORTAMENTO

Estudo comprova que animais "pressentem" terremotos

A pesquisa foi realizada nos Andes peruanos em 2011, nos dias que antecederam um abalo sísmico, e os pesquisadores puderam comprovar a interferência do fenômeno no comportamento dos animais da região


postado em 11/05/2015 14:15

Os pesquisadores avaliaram os animais de uma região dos Andes peruanos, e perceberam que eles mudaram o comportamento com a proximidade de um terremoto que abalou a região(foto: Pixabay)
Os pesquisadores avaliaram os animais de uma região dos Andes peruanos, e perceberam que eles mudaram o comportamento com a proximidade de um terremoto que abalou a região (foto: Pixabay)
O dado de que alterações no comportamento dos animais sinalizam, com horas ou dias de antecedência, eventos como os terremotos já era conhecido. Isso virou assunto em dezembro de 2004, quando elefantes asiáticos fugiram para terras altas por ocasião do terremoto seguido de tsunami que devastou a região. Muitas vidas humanas foram salvas graças a isso. Mas, a associação do comportamento animal a tais eventos ainda não havia sido documentado de maneira rigorosa e conclusiva.

Isso ocorreu, recentemente, em pesquisa realizada por Rachel Grant, da Anglia Ruskin University, do Reino Unido, Friedemann Freund, da agência espacial Nasa, e Jean-Pierre Raulin, do Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie, do Brasil. O estudo Changes in Animal Activity Prior to a Major (M=7) Earthquake in the Peruvian Andes, foi publicado na revista científica australiana Physics and Chemistry of the Earth.

"Nosso estudo correlacionou alterações no comportamento de aves e pequenos mamíferos do parque nacional Yanachaga, no Peru, com distúrbios na ionosfera terrestre. Esses fenômenos foram verificados vários dias antes do terremoto Contamana, de 7 graus na escala Richter, que ocorreu nos Andes peruanos em 2011", diz o pesquisador Jean-Pierre Raulin à Agência Fapesp.

Os animais foram monitorados por um conjunto de câmeras. "Para não interferir no comportamento, essas câmeras eram acionadas de forma automática no momento em que o animal passava na sua frente, registrando a passagem por meio de flash de luz infravermelha", detalha o pesquisador. Em um dia comum, cada animal era avistado de cinco a 15 vezes. Porém, no intervalo de 23 dias que antecedeu o terremoto, o número de avistamentos por animal caiu para cinco ou menos. E, em cinco dos sete dias imediatamente anteriores ao evento sísmico, nenhum movimento de animal foi registrado.

Serotonina

É sabido que a maior concentração de íons positivos na atmosfera provoca, seja em animais, seja em humanos, um aumento dos níveis de serotonina na corrente sanguínea. Isso leva à chamada "síndrome da serotonina", caracterizada por maior agitação, hiperatividade e confusão. O fenômeno é semelhante à inquietação, facilmente perceptível em humanos, que ocorre antes das tempestades, quando a concentração de elétrons nas bases das nuvens também provoca um acúmulo de íons positivos na camada da atmosfera próxima ao solo, gerando um intenso campo elétrico no espaço intermediário.

"No caso dos terremotos, cargas positivas formadas no subsolo devido ao estresse das rochas migram rapidamente para a superfície, resultando na ionização maciça de moléculas do ar. Em algumas horas, os íons positivos assim formados alcançam a base da ionosfera, localizada cerca de 70 km acima do solo. Esse aporte maciço de íons teria provocado as flutuações da densidade eletrônica na baixa ionosfera que detectamos. Por outro lado, durante o trânsito subterrâneo das cargas positivas, devido a uma espécie de 'efeito de ponta', a ionização tende a se acumular perto das elevações topográficas locais – exatamente onde estavam localizadas as câmeras. Nossa hipótese foi que, para se livrar dos sintomas indesejáveis da síndrome da serotonina, os animais fugiram para áreas mais baixas, onde a ionização não é tão expressiva", explica o francês Jean-Pierre Raulin.

(com Agência Fapesp)

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