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Estado de Minas SAÚDE

Belo Horizonte receberá mosquitos Aedes aegypti incapazes de transmitir doenças

Em 2018, bairros da cidade terão o inseto que traz uma bactéria capaz de inibir os vírus da zika, da dengue e da chikungunya


postado em 14/08/2017 14:35 / atualizado em 21/09/2017 09:43

Os mosquitos Aedes aegypti que trazem a bactéria Wolbachia se tornam incapazes de serem infectados pelos vírus da zika, da dengue e da chikungunya(foto: Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação)
Os mosquitos Aedes aegypti que trazem a bactéria Wolbachia se tornam incapazes de serem infectados pelos vírus da zika, da dengue e da chikungunya (foto: Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação)
Um projeto inovador voltado para reduzir a transmissão da dengue, da zika e da febre chikungunya está previsto para ser desenvolvido em Belo Horizonte em meados de 2018. Trata-se da introdução da bactéria Wolbachia no mosquito Aedes aegypti, vetor dessas doenças, e que é capaz de evitar que os vírus sejam transmitidos para os seres humanos durante a picada.

O projeto Eliminar a Dengue: Nosso Desafio (Eliminate Dengue: Our Challenge) é um projeto internacional sem fins lucrativos que surgiu na Austrália e usa a bactéria Wolbachia. Atualmente, há trabalhos de campo do projeto em cinco países e outros três estão se articulando para aderir. No Brasil, ele foi trazido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o apoio do Ministério da Saúde.

No Brasil, os trabalhos começaram em duas áreas pequenas: em Jurujuba, bairro de Niterói (RJ); e em Tubiacanga, bairro do Rio de Janeiro. A liberação de mosquitos com a bactéria começou em agosto de 2015 e se encerrou em janeiro do ano passado. Desde então, vem ocorrendo um monitoramento semanal, com mosquitos sendo coletados em armadilhas e levados ao laboratório para verificar se possuem a Wolbachia.

A inclusão de Belo Horizonte no projeto no ano que vem começará pela região da Pampulha e pela região norte, áreas que têm cerca de 840 mil habitantes no total.

Autosustentabilidade

"Mais de um ano e meio após nós pararmos de liberar mosquitos nestas duas localidades, uma vez que mais de 90% deles contêm a bactéria. Isso comprova a autosustentabilidade do projeto. Não precisamos ficar voltando à mesma área para fazer novas liberações", explica o pesquisador Luciano Moreira, da Fiocruz e coordenador do projeto no Brasil.

Dados similares também foram constatados na Austrália onde, nas áreas onde os trabalhos começaram em 2011, perto de 100% da população do Aedes já registra a Wolbachia.

Isso ocorre porque a fêmea do Aedes que possui a Wolbachia em seu organismo irá transmiti-la a todos os seus descendentes, mesmo que se acasale com machos sem a bactéria. Além disso, quando apenas o macho possui a Wolbachia, os óvulos fertilizados morrem. Dessa forma, a bactéria é transmitida naturalmente para as novas gerações de mosquitos.

O pesquisador da Fiocruz destaca que o projeto não envolve nenhuma modificação genética, nem no mosquito e nem na bactéria. Além disso, a iniciativa não elimina o mosquito do meio-ambiente, apenas substitui uma população capaz de transmitir doenças por outra incapaz. "É uma iniciativa totalmente segura. Estudos já mostraram que a Wolbachia não oferece riscos à saúde humana, ainda que o mosquito pique uma pessoa", esclarece Luciano Moreira.

De acordo com ele, a Wolbachia está presente naturalmente em 60% dos insetos, mas não no Aedes aegypti. O que o projeto faz é uma introdução artificial da bactéria no mosquito. "Quando o Aedes com a bactéria pica alguém que está com dengue, zika ou febre chikungunya, ele adquire o vírus. Mas esse vírus precisa se replicar dentro do mosquito. Para isso, ele precisa entrar nas células onde as bactérias já estão. O que provavelmente acontece é uma competição entre a bactéria e o vírus por nutrientes e outros componentes que ambos necessitam. E, no final, a Wolbachia, que já estava instalada ali, vence a disputa", explica o pesquisador.

(com Agência Brasil)

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