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Estado de Minas ESPECIAL NOVO CORONAVÍRUS

Malhar por meio de apps e lives pode ser perigoso, alerta Nuno Cobra Jr

Educador físico chama atenção para riscos cardíaco, ortopédico e psicológico ao utilizar esses meios para treinamentos


postado em 03/06/2020 01:40 / atualizado em 03/06/2020 01:57

O educador físico Nuno Cobra Jr.:
O educador físico Nuno Cobra Jr.: "Não existe corpo perfeito e ninguém fica sarado do dia pra noite. São estratégias desonestas que levam as pessoas a seguirem uma receita fadada à frustração" (foto: Divulgação)
O novo coronavírus mudou a forma como fazemos quase tudo no nosso cotidiano. Para quem é adepto da malhação, o fechamento das academias exigiu uma procura por orientação para treinamentos físicos à distância, seja por meio de uma chamada de vídeo com um personal trainer, assistindo lives promovidas por influencer dessa área ou utilizando aplicativos voltados para essa finalidade. Inclusive, a pandemia fez disparar o download desses apps no Brasil: antes do coronavírus, ocorriam 1,2 milhão de instalações por semana; agora, são 4,4 milhões.

Filho do consagrado profissional que treinou grandes nomes, como os pilotos de Fórmula 1 Ayrton Senna, Rubens Barrichelo e o finlandês Mika Hakkinen, o educador físico Nuno Cobra Jr. pondera que a tecnologia é uma ótima ferramenta para manter os treinamentos em dia, mas a utilização de apps para se exercitar traz riscos. "Os aplicativos são o futuro do treinamento. No entanto, posso dizer que ainda estamos na idade da pedra em relação à sua qualidade. Eles são baseados em modas que, normalmente, estão associadas ao bom resultado a curto prazo. Falta informação sobre a graduação dos exercícios e uma análise mais cuidadosa do perfil do aluno", analisa o especialista em treinamento consciente e integral.

Nuno Cobra Jr. cita como principais problemas dos exercícios orientados por aplicativos riscos cardíaco e ortopédico, além da possibilidade de que o aluno desenvolva a chamada síndrome do excesso de treinamento (overtraining), que pode ocasionar perda de força e resistência, medo de competições, insônia e falta de apetite.

Lives de atividade física

A funkeira Anitta realizou, no dia 19 de abril, um show-treino transmitido em uma live na sua página no Instagram, orientada pelo personal trainer Rodrigo Ruiz, onde ela convidou os fãs a malharem também. A transmissão chegou a ter 250 mil pessoas assistindo simultaneamente.

Para Nuno Cobra Jr., o perigo desse tipo de evento online está na sensação transmitida aos internautas de que qualquer um deles é capaz de executar os mesmos movimentos que estão sendo apresentados. "O ideal é que o educador físico adapte o mesmo exercício a diversos níveis de acordo com o perfil de cada aluno. Esta graduação deve ter, pelos menos, cinco níveis. Há pessoas que nunca se exercitaram, que não treinam há mais de 10 anos, que estão obesas ou com sobrepeso ou com leões crônicas. Realizando um treino de recomendação massificada, elas podem se machucar. São indivíduos que não podem praticar exercícios extremos ou acelerar resultados", alerta o especialista.

O educador físico conclui que a popularidade dos aplicativos e lives de atividade física está relacionada a três fatores principais: promessa de corpo perfeito em pouco tempo ou malhar em companhia de um famoso; praticidade e gratuidade. "Não existe corpo perfeito e ninguém fica sarado do dia pra noite. São estratégias desonestas que levam as pessoas a seguirem uma receita fadada à frustração, colaborando para o aumento do sedentarismo e dificultando a adesão do aluno a qualquer tipo de atividade física", critica Nuno Cobra Jr. que finaliza reforçando a importância de a sociedade aceitar os diferentes tipos físicos e de não ceder a radicalismos.

Em 2016, o especialista lançou o livro O Músculo da Alma - A Chave Para a Sabedoria Corporal (Editora Voo), onde ele prega que corpo, mente e alma são integrados, e debate, entre outros assuntos, a imposição de ideiais físicos pela sociedade de consumo, tema que o autor batizou como "indústria do corpo".

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