Publicidade

Estado de Minas GASTRÔ | QUEIJOS

Programa da Emater deve ajudar pequenos produtores mineiros de queijo artesanal

Mapeados em sete regiões, fabricantes do produto se organizam para encurtar o caminho até a mesa do consumidor


postado em 23/10/2017 14:05 / atualizado em 23/10/2017 14:18

(foto: Denis Medeiros/Encontro)
(foto: Denis Medeiros/Encontro)
O mineiro e o queijo formam um casamento indissociável há quase 300 anos. Seja durante o ciclo do ouro seja na posterior formação dos núcleos urbanos, ao longo desse tempo o queijo tornou-se um personagem não somente da culinária, como também da cultura mineira, especialmente em sua versão artesanal. Esse jeito de fazer o queijo em áreas rurais, geralmente passado de pai para filho, é reconhecido oficialmente em sete regiões produtoras do estado: Araxá, Canastra, Campo das Vertentes, Cerrado, Serra do Salitre, Serro e Triângulo Mineiro. Dessas localidades saem queijos artesanais que já exibem bons números de produção, mas ainda há muito espaço para crescer.

Somente de queijo artesanal, feito com leite cru, sem nenhum processo industrializado e com maturação que leva entre 17 e 22 dias, Minas produz 50 mil toneladas por ano. Oitenta por cento desses produtores têm no queijo sua única fonte de renda. Somando toda a produção de queijo no estado, os números chegam a 200 mil toneladas ao ano, o que coloca Minas Gerais no topo da lista de produtores. É o caso do produtor Ronaldo José Lemos, da cidade de Campos Altos, que diz ter nascido no meio dos queijos. Apesar da fama do produto fabricado em Araxá, sua região, Ronaldo reclama que vende menos do que gostaria. "Meu estoque está sobrando. Ainda sofro com falta de demanda", desabafa.

Helena Castro, especialista em queijos do Verdemar:
Helena Castro, especialista em queijos do Verdemar: "Ninguém consegue ter o que temos aqui. É uma mina de ouro que precisa ser descoberta e levada à mesa do consumidor" (foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
Mas como e por que um queijo com tanta qualidade e reconhecimento encalha? Combater esse mal é uma das missões do Queijo Minas Artesanal, programa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater) que auxilia o produtor com assistência técnica sobre controle sanitário, fabricação e empreendedorismo, entre outras facilidades. O programa também identificou as características histórico-culturais dessas microrregiões produtoras. "Procuramos saber detalhes do relevo, clima, temperatura, solo e vegetação", diz Maria Edinice, coordenadora estadual do programa.

Nessa jornada de transição e reconhecimento, a intenção dos produtores mais articulados é fazer com que o consumidor deixe de tratar o queijo apenas como um produto da roça, sem padrão, qualidade ou referência. O sucesso de público é bastante viável, uma vez que a crítica já tem sido conquistada - nosso queijo vem frequentando importantes certames nacionais e internacionais. Dessa forma, o próximo destino é estacionar bem ao lado do queijo francês ou holandês na gôndola de um bom supermercado, conforme prevê Alexandre Poni, presidente da Associação Mineira de Supermercados (Amis) e sócio-proprietário do Verdemar. Segundo ele, os produtores reclamam que o consumidor não consome o queijo curado, mas essa aproximação entre o pequeno produtor e o mercado vai diminuir esse vácuo. "Queremos dar opção aos nossos clientes. As pessoas ainda não sabem que temos sete regiões produtoras de queijo artesanal, nem que cada uma delas tem sabores e texturas diferentes", revela. Para ele, é fundamental fazer essa variedade de produtos chegar ao cliente. "O consumidor quer ter experiências diferentes."

O produtor Ronaldo José Lemos, de Araxá:
O produtor Ronaldo José Lemos, de Araxá: "Tem muito queijo sem autorização no mercado que acaba saindo a um preço muito baixo. Isso compromete nosso trabalho" (foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
Para acelerar esse objetivo, a rede vem participando de rodadas de negócios realizadas pela Emater junto aos produtores do interior. Para o presidente da Emater, Glênio Martins, um dos desafios é aumentar a escala de produção artesanal ao ponto de que ela alcance um preço acessível. "Para que isso aconteça precisamos divulgar cada vez mais nossos queijos e ressaltar a característica particular do produtor de cada uma das sete regiões. É importante que o consumidor comece a se habituar e entender essas características", diz. Para traçar estratégias que possam aumentar sua venda de queijo, o produtor Ronaldo José Lemos participou da rodada de negócios, no mês de julho. "Tem muito queijo sem autorização no mercado que acaba saindo a um preço muito baixo. Isso compromete nosso trabalho", reclama.

Se depender de Helena Castro, a especialista em queijos do Verdemar, esse ocaso do queijo artesanal mineiro está com os dias contados. Mesmo com 22 anos de atuação no setor, ela ficou surpresa em saber que Minas conta com 9 mil produtores. "Confesso que isso me assustou. Provei vários e a qualidade é indiscutível", diz. E Helena vai além. Para ela, Minas não perde em nada para produtores de países tradicionais como França, Holanda e Itália. "Ninguém consegue ter o que temos aqui. É uma mina de ouro que precisa ser descoberta e levada à mesa do consumidor."

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade