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Estado de Minas

Nas telas 1


postado em 09/06/2011 11:24

Um festival de cinema que almeje ter alguma relevância e constar em restrito circuito deve, antes de tudo, perseguir o quesito “qualidade” nas dezenas de produções preliminarmente inscritas. Outro fator, que felizmente não perde mais sua força, obriga que uma seleção competitiva se respalde na mais ampla diversidade possível. Porém, existe uma característica determinante, soberana e ao mesmo tempo marginal, velada, para que uma maratona de filmes consiga dar o que falar, ou melhor, tenha repercussão entre público, mídia e crítica. Um festival moderno não sobrevive, não existe, sem doses generosas de polêmicas, tenham elas diferentes graus de proporção. Denominado “festival dos festivais”, Cannes 2011 promoveu uma inédita overdose de escândalos e projetos com conteúdos de infinito interesse. Um dos longas-metragens que mais renderam resenhas e paixões foi A Árvore da Vida (The Tree of Life), do diretor Terrence Malick, com produção de seu protagonista, Brad Pitt.

 

No ano passado, foi quase impossível disfarçar o grande buraco deixado pela inédita produção de Malick, que na última hora escapou entre os selecionados, por simplesmente não ter sido finalizada. Contudo, ninguém ficou surpreso. Terrence Malick é um cineasta dificílimo, famoso pela colossal exigência e perfeccionismo que beira à loucura. Poucos sabem como ele é fisicamente, pois não aparece em público. Seu último registro fotográfico oficial somente foi possível graças a um momento de descuido e descontração em 1996, durante as filmagens de Além da Linha Vermelha. Esse excêntrico criador, considerado um gênio, pode trabalhar durante anos na montagem e edição de seus filmes. Seus métodos de satisfação são praticamente incompreensíveis. Parte daí sua preferência de sempre contar com um verdadeiro pelotão de profissionais montadores que contribuem no processo em diferentes e intermináveis etapas. Em A Árvore da Vida, no grupo de “alunos”, destaque para a presença comemorada do brasileiro Daniel Rezende.

 

Por quase 20 anos, criou-se uma lenda em Hollywood, acerca do paradeiro de Malick. Responsável direto por duas imediatas obras-primas, Terra de Ninguém (1973) e Cinzas do Paraíso (1978), sempre presentes nas listas de “melhores de todos os tempos”, Malick simplesmente desapareceu na década de 1980. Somente no final de 1998, o mundo do cinema presenciou seu ressurgimento a cabo do magistral Além da Linha Vermelha. O filme, indicado ao Oscar no ano seguinte, explicou para toda uma geração, porque seu diretor/roteirista era tão cultuado. A arte de Terrence Malick é uma experiência única, desenvolvida, sobretudo, através do silêncio, com planos ambiciosos e uma espécie de obsessão em revisar o sagrado e o belo.

 

A Árvore da Vida, filme mais aguardado em Cannes 2011, provocou, como se esperava, muito amor e muito ódio. Nos 2.300 lugares do Palácio dos Festivais partiram manifestações com misto de euforia e repulsa. Os que optaram pelas vaias certamente comungam com parte da crítica, que tacha a filmografia de Malick como uma fábrica incessante de “espuma”. As pausas quase infinitas e o desconcertante silêncio ferem muito os que vivem plenamente no signo da pressa, do imediatismo e da velocidade. Logo na sequência, coube ao astro Brad Pitt, também produtor do filme, o dever de representar Malick, ausente, como sempre, nos compromissos. Com uma aparência madura (santas marcas da idade!), Brad defendeu a genialidade de seu diretor e com voz e sorriso firmes ignorou solenemente todos os preconceituosos de plantão.

 

Apontado como o novo 2001 – Uma Odisséia no Espaço, A Árvore da Vida procura repassar séculos e séculos de nossa civilização, além da ilimitada ocupação do planeta – com uma visão mais particular da América dos anos 1950.

 

 

Brad Pitt estrela e produz o filme A Árvore da Vida, dirigido por Terrence Malick

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