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Estado de Minas

A caipira de Truman Capote


postado em 19/10/2011 13:11

Uma comédia romântica dificilmente atravessa tantas décadas, intocada no imaginário afetivo do público e ainda mantendo o honroso título de clássico da sétima arte. O gênero sofre severas restrições por parte da crítica, além de ser muito pouco levado a sério. Porém, há exatos 50 anos, entrava em cartaz nos cinemas americanos, uma história adaptada do best-seller do comemorado e controverso autor Truman Capote, que revolucionou a temática dos “filmes de mulherzinha”, estabelecendo novas diretrizes a serem exercidas até os dias atuais. A produção Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s), estrelada pela morena (Audrey Hepburn) mais elegante e linda que Hollywood foi capaz de produzir, vem encantando múltiplas gerações, apesar de seu esquivo roteiro e dos incontáveis tropeços que sofreu ao longo do frenético processo de filmagem.

 

Uma mocinha de aparência ingênua sobrevive em Manhattan, não permitindo que nenhum homem fique indiferente à sua beleza e sagaz inteligência. Na realidade, Holly Golightly (Audrey Hepburn) não passa de uma doce menina caipira, criada em uma fazenda, que se casou aos 13, 14 anos, mas fugiu em seguida para a Califórnia, acalentando o sonho de se tornar uma grande estrela. O destino se encarrega de levá-la para a Big Apple, onde Holly não consegue abafar sua condição de prostituta de luxo, ou melhor, amante de um poderoso mafioso que cumpre pena em um presídio. As noites são intermináveis e a garota é o grande acontecimento no prédio familiar onde mora, desviando a atenção de um caricato oriental e de um charmoso escritor, bancado por uma socialite rica e bem mais velha.

 

Com o roteiro atrevido para sua época, Bonequinha de Luxo criou muitas incertezas na Paramount. O risco era muito alto: apostar na moderníssima novela de Capote. Mas o sorriso de Audrey ajudou.

 

Audrey Hepburn, no filme Bonequinha de Luxo: um sucesso de Hollywood faz 50 anos
 

 

As filmagens deste clássico rendem interessantes histórias. A preferida de Truman para o papel de Holly, sua amiga Marilyn Monroe, abandonou o projeto (ou foi “obrigada” a abandoná-lo) na véspera do início das filmagens. Já de olho e acompanhando o conturbado dia a dia da diva problemática, Audrey Hepburn assumiu o papel, trazendo a tira colo o gênio Blake Edwards para a direção. A fúria de Capote ficou explícita e a partir daí, teimava em acompanhar e manipular o que conseguisse nos sets de gravação. O temperamental escritor apostou até onde pôde no fracasso retumbante da fita, fato que negou posteriormente, até sua morte em 1984. Tanta pressão surtiu efeito em Audrey, que nas primeiras tomadas não conseguia encontrar o exato perfil da personagem, ainda cometendo erros primários de marcação e de texto.

 

Um fato relevante foi que, na época, a crítica agiu de forma impiedosa com a personagem do ídolo jovem Mickey Rooney, um japonês carregadíssimo, vizinho da protagonista. O problema pairava em haver alguma necessidade na existência de tal figura para a produção. Hoje, é impensável imaginar Bonequinha, sem a presença do sr. Yunioshi. Os diálogos de Audrey e Mickey servem para injetar humor e descontração no filme. Além disso, todas as comédias românticas atuais têm o seu “Mr. Yunioshi”, ou seja, um grande curinga no elenco de apoio para atrair o público, desenvolver talento às cenas e proporcionar cruciais e determinantes embates com os atores principais.

 

A famosa cena de abertura, em que Audrey Hepburn toma seu desjejum, admirando as vitrines da loja de joias, ao som de uma das mais belas canções compostas especialmente para uma trilha sonora, Moon River, de Henry Mancini, seguramente é parte incontestável da razão e da grandeza que consolidou a marca Tiffany & Co. Bonequinha de Luxo chega aos 50 anos, provando que a comédia romântica é o gênero que menos sofreu transformações e desvios drásticos ao longo da história do cinema e que, não é vergonha alguma ter entre os nossos favoritos, um filme de amor descompromissado e atemporal.

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