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Estado de Minas

Preparados para a Copa


postado em 10/11/2011 10:48

Coronel Silvio de Oliveira Melo:
Coronel Silvio de Oliveira Melo: "O bombeiro moderno age com base na prevenção e no planejamento" (foto: Róbson Mariz/Divulgação)

O coronel Silvio Antônio de Oliveira Melo assumiu em janeiro deste ano o cargo de comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) com uma árdua missão: implementar todas as medidas de segurança de competência da instuição para a Copa do Mundo de 2014. Tarefa hercúlea, se considerarmos o boom de obras e intervenções pelo qual a cidade passa atualmente. Mas que estará concluída em 2013, como promete esse belo-horizontino de fala grave e pausada. “Temos uma estratégia de desconcentração da atuação do corpo de bombeiros na região de Belo Horizonte com vistas a diminuir o tempo de resposta. Hoje, esse tempo chega a 20 minutos em alguns locais da cidade, mas teremos a cobertura em qualquer ponto da capital em até quatro minutos já na Copa das Confederações”, diz o comandante. Em entrevista a Encontro, o coronel dá detalhes da execução dessa estratégia, lembra dos fatos marcantes dos 100 anos de existência da corporação e como ela se prepara para o próximo século.

 

 

 

ENCONTRO – O que é o mais importante a ser lembrado no centenário da corporação?
Silvio Oliveira Melo –
Primeiro é o próprio centenário, o fato de uma corporação completar cem anos dentro de um cenário em que as mudanças são muito rápidas e frequentes. Muitas corporações e empresas sucumbiram ao longo da história, e o corpo de bombeiros, não. É uma instituição que é admirada e tem credibilidade em todo o mundo, não só no Brasil. Acabamos de lembrar de uma data trágica para toda a humanidade, que foi o atentado de 11 de setembro de 2001, quando muitos bombeiros de Nova York morreram em ação, para preservar o que de mais precioso as pessoas têm, que é a vida. Não é com a mesma proporção, mas isso acontece em todos os lugares do mundo.

 

ENCONTRO – Quais foram os principais momentos da corporação em Minas nesse período?
Silvio Oliveira Melo –
Tivemos dois momentos em que as pessoas perderam a vida e que o corpo de bombeiros teve atuação extremamente destacada e abnegada. Uma foi o desabamento do complexo da Gameleira, em 1971, com 70 mortos. Eu me recordo bem, era criança ainda e acompanhei na TV a atuação dos bombeiros no socorro daquelas vítimas. Muita gente estava presa nas estruturas de concreto, havia muita dor e sofrimento, mas eles se envolveram e tiveram atuação heróica para resgatar e tirar as pessoas dali com vida. Outro episódio foi em 1992, na catástrofe da Vila Barraginha, em Contagem, com cerca de 40 mortos. Da mesma forma, havia muitas vítimas presas nos escombros e que foram resgatadas com vida debaixo das estruturas. O corpo de bombeiros teve participação extremamente destacada e louvável nesses resgates.

 

ENCONTRO – Deixando de lado as tragédias, quais as principais conquistas da corporação nesses cem anos?
Silvio Oliveira Melo –
Temos grandes feitos a comemorar. Um momento histórico para nós foi a aprovação da Lei 14.130, em 2001, que é a nossa lei, a lei de prevenção contra incêndio e pânico em Minas Gerais. É um marco, ela deu um norte para que o CBMMG pudesse agir com base no planejamento e na prevenção, na última década. Na realidade, a tragédia hoje é uma situação excepcional. O bombeiro moderno age com base na prevenção e no planejamento. Em Minas, temos ao mesmo tempo regiões com altos índices de urbanização e edificações elevadas, indústrias, rodovias com grande número de veículos trafegando e cidades históricas. Então temos de conhecer a nossa realidade, de forma que possamos prevenir a tragédia através da edição de normas. Buscamos atuar preventivamente, seja nas construções, definindo materiais e medidas contra incêndio e pânico, seja na orientação das pessoas em grandes eventos.

 

ENCONTRO – A população entendeu essa mudança de paradigma?
Silvio Oliveira Melo –
Sabemos que investir em prevenção tem um custo, mas temos observado que, na construção civil e na indústria, as pessoas têm se preocupado mais. As construtoras têm buscado profissionais que atuam na área de segurança de incêndio para elaboração e execução dos projetos de prevenção. Isso ocorreu também na área de eventos. As empresas estão muito mais conscientes, sabem que há uma lei que trata do assunto, que têm de contratar um engenheiro para elaborar o processo de segurança contra incêndio e que o projeto deve ser executado para ser vistoriado e aprovado pelos bombeiros. Essa realidade mudou não só em BH, mas também nas pequenas cidades. E temos notado que está ocorrendo também uma conscientização do cidadão. Hoje, aquele que presta o primeiro combate ao fogo é o brigadista. O usuário do edifício é quem tem de atuar no primeiro momento. Para isso, ele precisa saber usar o extintor, a mangueira, e manter o equipamento revisado.

 

ENCONTRO – Que tipo de ocorrência é mais comum?
Silvio Oliveira Melo –
Em 2010, o CBMMG atendeu a cerca de 294 mil chamadas, das quais apenas pouco mais de 6% foram incêndios, a maioria deles florestais. As ocorrências de salvamento representaram 45% do total, ou 132 mil casos, em que foi grande o número de atendimentos pré-hospitalares, pois os acidentes de trânsito têm predominado, infelizmente. E as ações de prevenção hoje representam 25% das ocorrências, entre denúncias, vistorias, análise de processos de segurança contra incêndio e pânico, e atuações preventivas em eventos. Ou seja, uma a cada quatro ações é voltada para a prevenção. O caso é que o incêndio tende a provocar um impacto muito grande, uma comoção.

 

ENCONTRO – Desde sua instituição, em 2003, a taxa de incêndio gerou uma arrecadação de R$ 223 milhões. Como esses recursos foram gastos?
Silvio Oliveira Melo –
O investimento da atividade de segurança pública é muito alto. Mas, enquanto o valor de uma viatura administrativa fica na faixa de R$ 50 mil, temos viaturas de R$ 3 milhões, como as auto-bomba-plataforma-escada. Um caminhão-bomba fica em torno de R$ 500 mil. Uma viatura de resgate equipada chega a R$ 250 mil. Uma de salvamento sai a R$ 200 mil. Só um equipamento para desencarcerar vítimas de ferragens custa R$ 30 mil. Em termos gerais, antes da instituição da taxa de incêndio, a média de idade da frota girava em torno de 14 anos. Hoje, essa média diminuiu pela metade e o número de viaturas triplicou, são mais de 1,1 mil. Outra coisa que a taxa de incêndio nos permitiu foi mudar o conceito sobre o equipamento. Antes, viatura de combate ao incêndio era só para fogo, a de salvamento era só para acidentes, a de atendimento pré-hospitalar era só para resgate. Agora usamos viaturas de múltiplo emprego. Melhorou muito.

 

ENCONTRO – Nos últimos anos, o tempo necessário para aprovação de projetos contra incêndio reduziu de meses para dias. Como isso foi possível?
Silvio Oliveira Melo –
Tecnologia. Existe um projeto no estado, o Descomplicar, que tem por objetivo reduzir o tempo que o empresário gasta para efetivamente instalar seu empreendimento mercantil, comercial ou industrial. Ou seja, visa à redução dos prazos de licenciamento ambiental, na junta comercial, no corpo de bombeiros etc.

 

ENCONTRO – Atualmente com pouco mais de 5 mil homens em 54 cidades, vocês cobrem 75% da população do estado. Vai aumentar?
Silvio Oliveira Melo –
Com base na projeção de instalação de frações ideais do planejamento da corporação para o período entre 2011 e 2020, devemos estar em todas as cidades com mais de 30 mil habitantes até o fim da década. Hoje, temos 110 municípios cuja população é superior a 30 mil habitantes. Desses, estamos instalados em 52. Ou seja, vamos dobrar a presença do CBMMG no estado num prazo de dez anos. Só este ano, montamos unidades nas cidades de Formiga, Pium-i e Pará de Minas, e temos a previsão de instalar bombeiros em Três Pontas, Oliveira e Lavras. Trabalhamos com o conceito de uma rede de proteção radial integrada. Vamos ter uma fração a, no máximo, 50 quilômetros de distância uma da outra, de forma a cobrir todo o estado. Ou seja, uma viatura terá de percorrer apenas 25 quilômetros para chegar ao local da ocorrência mais distante.

 

ENCONTRO – Essa é uma profissão associada à bravura e ao heroísmo. Qual a principal qualidade que a pessoa deve ter para ser um bombeiro?
Silvio Oliveira Melo –
Entendo que o bombeiro militar hoje tem de ter integridade física e moral. Primeiro, temos um compromisso de respeito às leis, à Constituição, de servir ao próximo ainda que com o sacrifício da própria vida. É um compromisso jurídico, moral, ético e cristão. Então, o bombeiro militar tem de ter vocação. Ele não é bombeiro apenas usando a farda. Mesmo em momentos de lazer com família, se presenciar uma situação que demande a atuação dele, ele tem de ser proativo, não pode se omitir.

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