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Estado de Minas

Ampliando olhares


postado em 14/12/2011 06:34

Os alunos de Fabrício Belmiro em oficina de artes visuais(foto: Geraldo Goulart)
Os alunos de Fabrício Belmiro em oficina de artes visuais (foto: Geraldo Goulart)

Um grupo de integrantes de uma companhia de dança resolve se mobilizar e abraçar o desafio de levar seu conhecimento na área da dança a crianças e jovens que não têm oportunidade de vivenciar a arte. A companhia de dança é o Grupo Corpo, e o resultado dessa iniciativa – tomada em 1998 – é o Corpo Cidadão, entidade sem fins lucrativos que assiste a crianças e jovens de comunidades de baixa renda de Belo Horizonte e região metropolitana.

 

Esse embrião se desenvolveu e hoje são quatro unidades, que oferecem oficinas de dança, música, confecção de instrumentos, percussão, artes visuais e capoeira angola para 600 participantes, entre 6 e 25 anos. Mas, logo no início, os organizadores perceberam que era preciso fazer mais do que criar “colônias de conhecimento”.

 

Foi aí que entrou em cena a arte-educação como o princípio norteador das atividades da ONG, uma vez que a ideia não é mais levar conhecimento para as crianças, mas construí-lo coletivamente. Por isso, o trabalho é feito sob a orientação de educadores. “Qualquer profissional pode acumular essa característica – um dentista, um mecânico. Educador é aquele que transforma a relação do outro consigo mesmo, com a vida e com o meio”, explica Cyntia Reyder, educadora de dança.

 

Tendo isso em mente, a arte é a ferramenta utilizada pelo Corpo Cidadão para o desenvolvimento de capacidades como disciplina, autonomia, autocontrole, e também da percepção das habilidades de cada indivíduo. Aí é hora de somar com o que os meninos têm, como complementa a coordenadora geral do projeto, Miriam Pederneiras. “O que a gente faz com as crianças é abrir os nossos ouvidos, aprender a escutar o que elas trazem, para propor, juntos, o que nós podemos fazer dançando, pintando, tocando. E vamos construindo o trabalho de forma coletiva”, diz.

 

Dificilmente um posicionamento como esse renderia algo que não fosse positivo. Segundo Miriam, o grande resultado de tudo isso é ver como as crianças vão abrindo o olhar para o mundo, aprendendo a sonhar, a desejar, a querer e a vislumbrar um futuro diferente, anseios que por vezes podem ser suprimidos pelas condições de vida na periferia. Fabrício Belmiro é educador de artes visuais e conta que o que mais o impressiona no Corpo Cidadão é que é um trabalho muito focado no diálogo e muito afetivo: “De todas as escolas em que dei aula e todos os projetos sociais de que participei, esse é o mais voltado pro educando, pra conversa, pra questão da sensibilidade e do afeto”.

 

Oficina de dança em uma das unidades do Corpo Cidadão: últimos ensaios para as apresentações do espetáculo Oríkì
 

 

Ana Paula de Oliveira Soares, 16 anos, já fez oficinas de dança, música e construção de instrumentos. Ela integra o Corpo Cidadão há quatro anos e não pretende deixá-lo tão cedo, mas para quando chegar a hora, já planeja: “Pretendo continuar fazendo aulas de dança ou de música. Quero me profissionalizar e continuar envolvida com a arte”, diz.

 

Em 2009 a ONG enfrentou dificuldades, porque em decorrência da crise econômica mundial de 2008 as empresas apoiadoras suspenderam o patrocínio. A equipe teve que segurar as pontas para não interromper as atividades. Passada a crise, fica o aprendizado. Segundo Miriam Pederneiras, foi assim que a equipe percebeu que era preciso estruturar melhor a instituição, no sentido de não depender de um, dois ou três patrocinadores. “Hoje, nós temos conosco a Usiminas, a Fundação Dom Cabral, a Cemig, a Petrobrás e uma série de empresas que nos garantem mais estabilidade”, conta.

 

Agora, no fim do ano, é hora de celebrar o sucesso. O tema escolhido para ser trabalhado durante todo o ano se transforma em uma maneira de apresentar a instituição à sociedade. Em 2011, a memória e as raízes do povo brasileiro foram temas das oficinas e foi a partir disso que nasceu o espetáculo Oríkì.

 

“Nesse espetáculo a letra das músicas, melodia, coreografia, figurino, cenário, tudo tem cara das crianças”, conta Miriam. A palavra tem origem na língua iorubá e é uma espécie de louvação feita aos recém-nascidos, como forma de inspirá-los a crescer e se desenvolver. O espetáculo vai ser apresentado no Palácio das Artes, onde também será feita a mostra dos trabalhos de artes visuais e o CD da trilha sonora de Oríkì – também composta e gravada pelos jovens – será vendido.

 

Passadas as movimentações, é hora de sentar e planejar o próximo ano. Algumas ideias já foram levantadas, mas ainda não há nada definido. O Corpo Cidadão segue se autoavaliando, sem deixar de observar qual é o seu impacto sobre a sociedade e como isso afeta as comunidades a que atende.

 

 

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