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Estado de Minas

Sobre valor e merecimento


postado em 17/01/2012 11:33

Dos aprendizados que ela traz da vida, este talvez seja o mais recente – até porque ainda está cursando a matéria. Aprendeu com o pai que tudo o que deveria fazer na vida profissional era arranjar um emprego seguro. A palavra salário foi incorporada muito cedo à sua lista de necessidades básicas para a sobrevivência, lado a lado com a palavra marido.

 

Ao marido, ela se permitiu imaginar alternativas. Já o salário, incorporou muito cedo à rotina, mas precisou de décadas para entender que a escolha não a fazia propriamente feliz.

 

Assalariada e obediente, subiu a escadinha, degrau a degrau, resignada e certa de não haver outro caminho. Com muito esforço e sacrifício, porque – como lhe ensinaram – é assim que se faz jus ao contracheque.

 

Ganhar dinheiro, dinheiro mesmo? Isso é coisa para os privilegiados – e entre eles não se incluía. Por anos, ocupou seu lugarzinho na arquibancada, assistindo à riqueza dos outros como quem vê novela. E fazendo coro com o resto da plateia em comentários sobre um ou outro personagem.

 

Até que um acontecimento alheio à sua vontade virou sua vida do avesso. E ao tentar um atalho, construiu uma estrada: seguindo por ela, passou a fazer com prazer, de um jeito que nem parecia trabalho. Com tal gosto e tamanha verdade, que o ofício alcançou outras vidas, e tomou o rumo do sucesso.

 

Foi então que veio a lição. “No Brasil, sucesso é ofensa pessoal”, disse uma vez o Tom Jobim. Ela nunca tinha ouvido essa frase até ela fazer parte do seu contexto.

 

Hoje, empresária de primeira viagem, ainda distante dos rios de dinheiro – mas no caminho cheio de pedras que certamente a levará até eles! –, ela olha para trás e tudo parece fazer sentido.

 

Sempre foi do tipo que entra numa loja e consegue se encantar pela peça mais simples – e justamente a mais cara. Sempre comprometeu o salário inteiro antes mesmo de recebê-lo, de modo que não havia entre os dois, ela e o salário, nenhum tipo de contato próximo.

 

Errar, para depois entender, corrigir e então acertar – existe aprendizado mais eficaz?

 

A verdade é que o sacrifício, que gerava dinheiro, naturalmente tirava dela o prazer de contemplá-lo em espécie. Quanto mais rápido ela pudesse transformar esse sacrifício em prazer, melhor.

 

Do começo ao fim do processo, teve a seu lado a boa e velha culpa. Da escolha casual da peça mais cara ao último centavo gasto em prazer, Dona Culpa não a deixou um só segundo. Mas teve um final trágico, esmagada entre uma frase e outra numa sessão definitiva de psicanálise.

 

Desde que sua analista lhe fez a pergunta: “Você não enxerga o valor de tudo isso?”, a lógica mudou. Escolher o mais valioso não era luxo: era merecimento.

 

E quando o seu hobby passou a ser sua principal fonte de receita, veio a lição mais controversa. O que antes era encanto e agrado passou a ser alvo de críticas: “Agora, vejam só, ela ganha dinheiro”.

 

Dinheiro no bolso dos outros não é nada refrescante, ainda mais quando o outro o conquistou com prazer. Percebe o paradoxo? Dinheiro só vale se vier do sacrifício. Prazer só é permitido se não der dinheiro.

 

Para os que ainda pensam assim, hoje ela deixa uma mensagem de condolências. Para os que não, faz o convite a pensar como ela. Que sigam juntos, em direção a um lugar melhor. Que poderá não ter rios de dinheiro, mas com certeza terá pequenos lagos de água quentinha, repletos de paz e alegria.

 

Levou tempo para entender que faz melhor o que mais gosta. Mas compreeendeu, finalmente, o sentido da palavra vocação. Desde então, colocou o “prazerômetro” para trabalhar a seu favor. Alforriada de sua relação neurótica com o Senhor Salário, segue confiante e certa de que fazer dinheiro é merecido. Aos incomodados, deixa a sugestão: que tal experimentar mudar a direção dessa roda da fortuna?

 

Se o dinheiro traz felicidade, ela não sabe. Mas do inverso ela está convencida: felicidade traz dinheiro. E ela quer mais é ser feliz.

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