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Estado de Minas

Exercício tem limite


postado em 18/07/2012 11:58

O excesso de treinamento fez Ângela Almeida parar de correr(foto: Eugênio Gurgel, Júnia Garrido)
O excesso de treinamento fez Ângela Almeida parar de correr (foto: Eugênio Gurgel, Júnia Garrido)

A prática de atividade física faz bem à saúde, mas quando os treinamentos são realizados em excesso, são muitos os problemas para o corpo humano, como, por exemplo, a fadiga e as lesões musculares. Cada vez mais comum, o chamado overtraining preocupa atletas amadores e profissionais, como Fillipe Soutto, jogador de futebol do Clube Atlético Mineiro, que, por exigência da profissão, tem uma carga pesada de treinos. Aos 21 anos e jogando desde os 11, hoje ele tem uma certeza: “A dor faz parte do dia a dia de um jogador. Mesmo com todo o amparo médico que temos, é difícil não sofrer os reflexos da nossa rotina de exercícios”. No início do ano, o volante ficou 30 dias afastado por conta de uma distensão no joelho direito, mas agora ele está treinando e jogando normalmente.

 

Ultrapassar os limites físicos e psicológicos não é hábito apenas entre os atletas profissionais. Seja para garantir um corpo perfeito ou conquistar troféus em competições, muitos se entregam a treinamentos perigosos. “O número de pessoas que treinam em função da estética é enorme, e com isso acabam correndo mais riscos do que aqueles que malham pensando na saúde, pois querem obter resultados muito rápido”, explica o educador físico Diogo Fiorini, da Companhia Athletica.

 

Outro agravante é realizar atividades físicas por conta própria, já que somente os profissionais da área sabem definir os períodos corretos de estímulo e de recuperação nos treinos. “Muitos atletas amadores tendem a acompanhar modismos, como a corrida, que tem se tornado uma prática constante em BH. O problema é que realizam essas atividades sem um mínimo de orientação e sem dar tempo para que o corpo repouse a musculatura, chegando ao estado de fadiga total”, explica Alexandre Hermes de Azevedo, treinador de corridas de rua.

 

Fillipe Soutto, volante do Atlético, já esteve afastado dos campos por causa de uma distensão no joelho: "É difícil não sofrer os reflexos do excesso de treinos”
 

 

Apaixonada pelo esporte, a consultora imobiliária Ângela Almeida, 38 anos, redobrou os treinos para participar de duas meias-maratonas consecutivas. O resultado não foi positivo: “Senti uma dor muito forte na parte lateral do joelho direito e descobri que estava com uma inflamação. Fiquei um mês parada, sem poder participar das provas, e isso me deixou muito frustrada. Agora, faço mais alongamentos e exercícios para fortalecer a musculatura”, conta.

 

O ortopedista Jorge Suman Vieira é médico olímpico e alerta que o supertreinamento leva ao declínio do rendimento do atleta, provocando profundas alterações no organismo, como baixa imunológica. “Orientamos aos atletas que apresentam dois ou três sinais de overtraining que busquem ajuda imediata”, diz. E mesmo aqueles que conhecem os riscos podem ser vítimas em potencial. Há alguns anos, o educador físico André Miranda, 36 anos, da academia By Japão, perdeu cinco quilos de massa muscular em poucos dias, o que para um atleta é um verdadeiro terror. “Na época, eu jogava basquete e treinava dia e noite. Quando percebi, tinha perdido o apetite, estava com anemia e fadiga muscular. Com isso, perdi o interesse pelos esportes e fiquei dois anos afastado. Hoje, estou recuperado”.

 

O empresário Fernando Gaetani teve de reduzir os jogos de tênis: “Tive uma lesão no cotovelo e hoje sou mais cauteloso”
 

 

Para a nutricionista Renata Rodrigues, aliar as atividades físicas a uma dieta adequada é fundamental para se manter o consumo  ideal de carboidratos, pois são eles que fornecem energia ao organismo nos treinamentos. “Se esse consumo for insuficiente, o corpo buscará energia de outra forma, consumindo a massa muscular”, explica.

 

Reconhecer as próprias limitações é outro passo para não cair na cilada do excesso de treinamento, tendo a consciência de que não existe uma fórmula única que se adeque a todas as pessoas. “Cada um deve ser avaliado separadamente. Indivíduos fisicamente parecidos não suportam treinamentos semelhantes. E jovens ou idosos podem ter os mesmos problemas”, orienta Bernardo Savassi, fisioterapeuta especializado na área esportiva.

 

O educador físico André Miranda quase desistiu dos esportes: “Cheguei a ficar dois anos parado, mas agora estou recuperado”
 

 

A psicóloga Heike Hahn diz que um dos principais vilões para os atletas é a cultura de criar limites infinitos. “A idealização de metas impossíveis leva a recorrentes frustrações e à perda da noção de quando se deve parar, ainda mais em ambientes competitivos”. Limite que o empresário Fernando Gaetani, 48 anos, foi obrigado a respeitar. Há 12 anos jogando tênis e participando de vários torneios sociais como atleta amador, foi surpreendido por uma lesão grave no cotovelo: “Exagerei demais nos treinos e por isso tive de ficar três meses parado, fazendo fisioterapia. Hoje, tomo mais cuidado e até diminuí o peso da raquete”, diz.

 

Os sintomas de que o corpo está prestes a entrar em colapso nem sempre são evidentes. Muitas vezes é apenas um cansaço constante, alteração no humor ou indisposição física. Mas as consequências vão muito além, podendo levar à baixa de imunidade, depressão e à chamada fadiga cardíaca induzida pelo exercício. Nesse caso, ocorre o aumento no risco de arritmias e pressão alta, o que compromete o rendimento do atleta. O cardiologista e médico do esporte Marconi Gomes da Silva ressalta que ainda não se pode afirmar que isso resulte na ocorrência de morte súbita ou infarto. “O que podemos garantir é que, para evitar o overtraining, o atleta, especialmente os de alta performance, devem ser acompanhados por uma equipe multiprofissional, formada por médicos, profissionais de educação física, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos”. Única forma segura para quem quer vencer os próprios limites.

 

 

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