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Estado de Minas

Elas estão disputadas


postado em 10/10/2012 12:18

Com dois diplomas, de enfermagem 
e fonoaudiologia, Daniele Veloso está feliz como babá(foto: Eugênio Gurgel, Geraldo Goulart, Leo Araújo, Samuel Gê)
Com dois diplomas, de enfermagem 
e fonoaudiologia, Daniele Veloso está feliz como babá (foto: Eugênio Gurgel, Geraldo Goulart, Leo Araújo, Samuel Gê)

Antes, era preciso ter três empregos  para obter a renda desejada. Hoje, com um único trabalho, a enfermeira Adriana Fernandes alcança remuneração até maior. E ela só conseguiu isso trocando grandes hospitais de Belo Horizonte pelo trabalho doméstico. Adriana se tornou babá. Especializada no cuidado de recém-nascidos, ela já fazia plantões eventualmente em casas de família quando ainda atuava na rede hospitalar, mas há dois anos decidiu se dedicar exclusivamente ao trabalho de babysitter. “Troquei a sobrecarga do hospital por qualidade de vida”, diz Adriana, que hoje consegue ganhar entre R$ 3,5 mil e R$ 5 mil  por mês, e ainda pode curtir a família e ir ao cinema toda semana – o que antes era quase impossível.

 

Segundo as agências especializadas, a remuneração média varia entre R$ 1 mil e  R$ 3,5 mil, de acordo com carga horária, formação e experiência – o valor mais alto é pago a babás com curso superior ou técnico em enfermagem, em plantão de 24 horas, de segunda a sexta-feira. Com alguns benefícios, como cobrir viagens ou o cuidado de mais de uma criança, é possível superar esse valor-base, chegando a R$ 5 mil ou até mais.  É o caso de Adriana, que chegou a cuidar de gêmeos. Contratada para ficar seis meses no emprego, o período nem havia terminado quando a família já estendeu o contrato para um ano. A experiência de 18 anos lidando com crianças foi determinante para agradar aos patrões.

 

Experiente, a enfermeira Adriana Fernandes há dois anos se dedica exclusivamente 
ao cuidado de crianças: trocou três empregos por um e agora ganha mais
 
 

Mas com o mercado carente de profissionais preparadas, mesmo as novatas vêm conquistando espaço – especialmente quando apresentam alguma outra formação específica como diferencial. Com dois diplomas de curso superior (fonoaudiologia e enfermagem), Daniele Veloso está no primeiro trabalho como babá desde fevereiro e ganha mais de R$ 2 mil por mês, com carga horária de segunda a sexta. Fora isso, ministra cursos para babás em uma agência. Daniele considera que o cargo é bem menos pesado agora. “Em hospital, você cuida de várias crianças, não para um segundo. Como babá, me concentro em uma, garanto rotina tranquila e consigo sair descansada”, diz. Entusiasmada, ela pretende investir na profissão e planeja fazer o mestrado em enfermagem, estudando os cuidados com recém-nascidos.

 

A valorização da profissão de babá é fruto da maior inclusão da mulher no mercado de trabalho. “As mães – e também avós e tias, que costumavam colaborar nos cuidados com as crianças – não dispõem mais de tempo para se dedicar integralmente a essa função”, avalia a psicóloga Alessia Leone, da clínica Colo de Mãe, que promove cursos e avaliação de babás. “Em decorrência disso, aumentou a procura por pessoas capacitadas para ajudar nos cuidados dos filhos.” Para completar, o trabalho doméstico deixou de ser a única opção para muitas mulheres, especialmente de classes mais baixas – tanto que o número de mulheres jovens (entre 18 e 24 anos) nessa função caiu de 25% para 8% na Região Metropolitana de Belo Horizonte, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da Fundação João Pinheiro. “Cresceram e melhoraram muito as opções, principalmente no comércio e nos serviços, o que leva a essa menor atração do trabalho doméstico”, afirma o pesquisador Plínio Campos, coordenador da PED. Além disso, ele explica, a vinda de meninas menores de idade do interior do estado para trabalhar em casas de família, antes muito comum, vem diminuindo pela pouca atratividade e pela maior pressão contra o trabalho infantil.

 

Com 40 anos de profissão, a babá Derli chega a ganhar R$ 4 mil por mês e não para de receber
 propostas: “Hoje a exigência é muito maior, porque a mãe sai de casa de manhã e só chega à noite”
 
 

Em outro tempo, foi exatamente essa a história vivida por Derli Martins. Aos 13 anos, ela se mudou do interior de Minas para Belo Horizonte, começou a cuidar de crianças e depois foi assumindo outras funções nas casas onde trabalhava. Nos 40 anos de profissão, viu o campo se profissionalizar e se valorizar cada vez mais. “Hoje, a exigência é muito maior. A mãe sai de casa de manhã e chega à noite, e quem cuida tem de providenciar tudo e ter o maior cuidado”, diz.

 

Nos últimos cinco anos, Derli trabalhou em São Paulo, tendo voltado a Belo Horizonte há poucos meses. Também já aceitou convite para uma temporada em Brasília. “Não tenho medo de encarar, gosto de conhecer outros lugares”, afirma Derli. Foi a experiência que a gabaritou para ser hoje uma profissional altamente requisitada – Derli migra facilmente de um trabalho a outro, indicada entre famílias de políticos e empresários, e chega a receber mais de R$ 4 mil quando trabalha morando nas casas das famílias.

 

Mas, para quem precisa, onde encontrar uma profissional experiente e com boas referências? O mais indicado é recorrer às agências. Segundo a assistente social Ívia de Oliveira, sócia da Espaço Social, os cursos e avaliações realizados pelas agências dão maior confiança aos pais, que na maioria das vezes só têm contato com as babás uma vez antes de elas começarem a trabalhar. “Fazemos uma avaliação multidisciplinar, por assistentes sociais, psicólogas, pedagogas, enfermeiras, nutricionistas, além da checagem de referências”, diz Ívia. “Existem pais que até pagam uma taxa extra para que a agência vá até a casa da candidata conhecer sua estrutura familiar”, revela.

 

Zélia Paixão acompanha os patrões em viagens internacionais e até estuda inglês: “Já tive convites para morar na Austrália e nos Estados Unidos”
 
 

Também são solicitações comuns dos pais pedir que a babá tenha passaporte, que fale outra língua, seja de determinada religião e tenha carteira de motorista. Zélia Maria Paixão, que tem curso de auxiliar de enfermagem, sabe bem a importância de atender a essas outras demandas, que vão além dos cuidados com o bebê. “Sempre que é preciso, viajo junto com a família para dar suporte. Mesmo se for por mais tempo, é importante para a criança ficar com quem já está acostumada”, explica. De tanto acompanhar patrões em viagens, hoje ela se prepara para voos maiores: Zélia estuda inglês, buscando propostas de trabalho no exterior. “Melhorando essa crise internacional, gostaria de experimentar uma oportunidade fora. Já tive convites para ir para a Austrália e para os Estados Unidos, mas na época não foi possível”, conta Zélia, que é tão apaixonada pela profissão que planeja trabalhar como voluntária em creche ou outro local similar assim que se aposentar.

 

Com experiência de 35 anos na formação e no agenciamento de babás em Belo Horizonte, a educadora Laura Orsini começou a atuar no ramo quando sua filha, aos 4 meses, teve problemas de saúde por cuidados equivocados da babá inexperiente. “Após esbarrar nisso, vi que também era dificuldade de muitas outras mães”, conta Laura. O cenário mudou tanto que Laura agencia hoje 14 profissionais com curso superior. E o trabalho tocado por ela e pela filha Maria Elisa (a razão de a mãe apostar no ramo) conta com o “boca a boca” como principal meio de divulgação. “O nível de satisfação das mães é o melhor atestado de qualidade nesse caso; afinal, uma amiga ou parente pode transmitir sua confiança para a outra”, avalia Laura. Não é para menos: se toda mulher quer ser a melhor mãe do mundo, na hora em que ela não está presente sempre vai querer que uma “superbabá” seja responsável pelos cuidados com o filho.

 

 

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