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Estado de Minas

Sucesso na rede


postado em 12/11/2012 08:51

Cena da websérie ApocalipZe, ficção científica filmada em BH(foto: Divulgação, Leo Araújo, Eugênio Gurgel)
Cena da websérie ApocalipZe, ficção científica filmada em BH (foto: Divulgação, Leo Araújo, Eugênio Gurgel)

Enquanto o cinema nacional encontra dificuldade para emplacar fora do país, cresce o interesse dos gringos por outro produto de entretenimento daqui: as webséries. O Brasil entrou de vez na onda de bolar histórias exclusivamente para a internet e se destaca pela qualidade do trabalho. Para Minas, o motivo de orgulho é ainda maior. Criador de Heróis e ApocalipZe, o diretor cinematográfico mineiro Guto Aeraphe foi o único brasileiro a participar da segunda edição do Marseille Web Fest, na França, que no fim do mês passado promoveu o encontro de 22 profissionais de 10 países envolvidos com as novas mídias. “Websérie não é mais futuro, é realidade”, diz.

 

Não pense que qualquer narrativa colocada na rede se encaixa no novo conceito. Apesar de ser pensada para o universo online, a websérie segue o padrão de seriado de televisão, ou seja, apresenta uma história dividida em capítulos, só que em um tempo bem mais curto. Além disso, o processo até chegar às telas de computador, celular e tablet é tão complexo quanto o do cinema. Nada de vídeo amador. “Internet não é sinônimo de baixa qualidade”, diz o sócio da Guerrilha Filmes, Marcelo Marques, uma das primeiras produtoras de Belo Horizonte a criar conteúdo para internautas. Diretor de fotografia das webséries mineiras, ele explica que as imagens são feitas em alta definição e a equipe é praticamente a mesma que filmaria um longa-metragem. Em uma das cenas de Heróis, por exemplo, havia 70 pessoas no set.

 

Equipe de profissionais da Guerrilha Filmes: a produtora foi uma das primeiras da capital a criar conteúdo para internautas
 
 

A primeira websérie brasileira de sucesso, 2012 Onda Zero, foi lançada há três anos, mas o novo formato explodiu mesmo no ano passado, época em que Guto Aeraphe resolveu apostar nesse mercado. O plano dele era fazer um média-metragem com o roteiro de Heróis, que relembra a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Convencido de que não conseguiria exibir sua obra nem na televisão nem no cinema, o diretor nascido em Itaúna, na região Centro-Oeste do estado, arriscou seguir a tendência. E com ousadia.

 

Responsável por um dos únicos filmes brasileiros de guerra, Guto acaba confundindo muitos desavisados, que chegam a acreditar que Heróis é uma produção norte-americana. A qualidade realmente surpreende, ainda mais quando se descobre que a verba era de R$ 324 mil. Para ter uma ideia, a websérie da Warner, intitulada H+, teve um orçamento de U$ 16 milhões, prova de que até os grandes produtores passaram a se interessar pela nova mídia. Em um ano, a obra do diretor mineiro contabilizou 300 mil acessos. “É pouco se comparado aos fenômenos relâmpago da internet, mas segue contínuo e assíduo”, diz.

 

Ator do Grupo Galpão, Eduardo Moreira participou da websérie ApocalipZe e gostou do resultado: “Quando li o roteiro sobre guerra nuclear, pensei: como vão fazer isso?”
 
 

Depois de passar pelo teste de trabalhar no meio do mato em São João del-Rei, na região Central de Minas, Guto encarou o desafio de parar o centro de Belo Horizonte para filmar uma história de ficção científica. O resultado é outra websérie mineira de sucesso, ApocalipZe, que participará este mês da mostra competitiva de pilotos do Festival Internacional de Televisão, no Rio de Janeiro.

 

O ator do Grupo Galpão, Eduardo Moreira, empolgado com a experiência de participar de ApocalipZe, confessa que não esperava um resultado tão bom. “Quando li o roteiro sobre guerra nuclear, pensei: como vão fazer isso”. Satisfeito de ver seu trabalho circular na internet, o ator de teatro se colocou à disposição para integrar o elenco de outras produções para a internet. Raquel Dutra, que interpreta a protagonista da história de ficção científica, também não quer ficar de fora. “Temos mais uma porta aberta para sermos vistos”, diz. A atriz está na torcida junto com os fãs para a vinda da segunda temporada, e Guto adianta: só falta conseguir os recursos.

 

A atriz Raquel Dutra interpreta a protagonista de uma das séries e não quer ficar de fora das próximas produções: “Temos mais uma porta aberta para sermos vistos”
 
 

Criador do blog Preguiça Alheia, o publicitário Nimai Dasa, de 29 anos, está sempre em busca de novidades do mundo online. Como passa mais tempo na frente do computador que da televisão, o jovem não demorou a descobrir as webséries. As preferidas dele são de humor. “Fico ansioso para sair o próximo capítulo, mas o bom é que posso assistir quando quero, até nas horas de folga do trabalho”, diz.

 

Como ficou famosa por Heróis e ApocalipZe, a Guerrilha Filmes recebe pelo menos um roteiro por semana. Não há dúvida de que a internet é um espaço democrático e de experimentação, mas a sócia da produtora dá a dica para os interessados: “A história deve ser bem envolvente porque o telespectador está sujeito a interferências externas, não está em uma sala de cinema nem no seu quarto, em frente ao computador. Ele pode estar com um tablet na praça”, diz Elisângela Guanaira. Pelo mesmo motivo, não é recomendado que um capítulo tenha mais de 10 minutos.

 

Criador de Heróis e ApocalipZe, o diretor cinematográfico mineiro Guto Aeraphe foi o único representante do Brasil em encontro de produtores de filmes para internet, na França: “Websérie não é mais futuro, é realidade”
 
 

Otimista, o diretor cinematográfico Guto Aeraphe quer se dedicar inteiramente às webséries em 2013. “É um investimento em longo prazo, mas não quero perder a oportunidade de estar na frente”, justifica. O mineiro revela que está tocando dois projetos, ambos adaptação de livros. Um deles conta como o Exército brasileiro pacificou a favela mais violenta do Haiti e o outro é de um agente da Polícia Federal que detalha os bastidores de investigações. O desafio, ele conta, é conseguir promover a interação do público com as webséries.

 

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