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Estado de Minas

Com o V de vitória


postado em 12/12/2012 09:04

O premiado artista Fernando Vignoli: “Prometi a Deus que iria honrar minha vida com a arte
O premiado artista Fernando Vignoli: “Prometi a Deus que iria honrar minha vida com a arte" (foto: Roberto Rocha )

Com um pincel e uma bisnaga de tinta nas mãos, o belo-horizontino Fernando Vignoli “rasga o mundo” e faz dele sua mais importante vernissage. E a sua arte, que já desbravou diferentes nações como Turquia, Islândia, Alemanha, França, Inglaterra e México, conquistou também os Estados Unidos, onde ele escreveu, ou melhor, desenhou, um dos principais capítulos de sua história. “Prometi a Deus que iria honrar minha vida com a arte e, a partir dela, mostrar às pessoas que o mundo é bonito”, diz. Como todo grande artista, Vignoli, hoje com 52 anos, teve um início complicado, motivado pela incompreensão do pai, um rigoroso militar, que desejava de maneira imperativa ver o filho manuseando equipamentos bélicos.

 

Mas Vignoli optou por outras armas, mais brandas e que não fazem mal a ninguém: os pincéis. O oásis de sua casa era a cozinha, onde sua mãe, uma confeiteira de mão cheia, preparava deliciosas tortas, sobre as quais o jovem artista ensaiava desenhos. A insistência em seguir uma carreira avessa aos desejos do pai lhe custou, por várias vezes, a própria liberdade. “Fui obrigado a estudar no Colégio Militar, mas não consegui me adaptar. Desenhava nas provas. Por isso, meu pai me prendia num quarto praticamente vazio em casa. Ficava, então, olhando para as paredes.”

 

Mais tarde, aquelas paredes que o aprisionaram serviram de inspiração para a impressão da arte. Começou a elaborar desenhos grandes e com alta carga sentimental, como a pintura Big Apple, com o tamanho de 4X4 metros, que representa a época em que se mudou para os Estados Unidos, em 2003, para a luxuosa região dos Hamptons, com o objetivo de ajudar o irmão e amigos que lá trabalhavam. A obra representou um grande salto na carreira, tanto que passou a receber várias encomendas. “Fiz uma festa de despedida e vendi tudo o que tinha. Fui embora para os EUA com US$ 1,3 mil no bolso e cinco telas debaixo do braço”, diz.

 

Big Apple, a maçã mordida que representa os Estados Unidos. No quadro, à esquerda, desce uma queda d’água, as antigas Torres Gêmeas: a obra é uma das mais cultuadas do artista
 
 

Nos EUA conheceu as pessoas certas na hora certa e, com o seu talento, construiu seu nome. Segundo ele, suas obras encomendadas por clientes passaram a ser colocadas nas mesmas paredes onde reinavam Pablo Picasso e Claude Monet, entre outros. “Sou uma mistura de Magritte, Dalí, Modigliani e minha avó, que foi a pessoa que me apresentou o Pink Floyd, minha banda preferida”, afirma, lembrando-se da ocasião em que Roger Waters, ex-integrante do grupo inglês, comparou a pintura do mineiro ao som psicodélico do conjunto. Mas a “fuga” da terra natal lhe rendeu sentimentos distintos: saudade e esperança de conquistar a tão esperada valorização de seu trabalho – que, em Belo Horizonte, deixava a desejar.

 

De volta a BH, em 2009, Vignoli decidiu dissolver as mágoas que tinha da capital. “Voltei, porque não quis dar as costas para a terra onde aprendi tudo isso”, diz o artista que se formou na antiga Fundação Mineira de Arte (Fuma), hoje incorporada à Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg). Com vários prêmios no currículo, Vignoli completa 33 anos de carreira bem vividos e trabalhados. Viajou para muitos países para estudar e conhecer a arte de outros lugares e seus principais artistas. Sua pintura, sempre usando tinta a óleo, traz traços que lembram o surrealismo e o expressionismo, mas com elementos reais, como gosta de destacar. A partir do próximo ano, Vignoli vai dividir o tempo em terras mineiras com idas regulares aos EUA. E o período no qual ficará em Minas será muito bem ocupado. Além de continuar deslizando os pincéis em seu novo ateliê, fruto da parceria com o espaço Colisevm, no Lourdes, Vignoli pretende inaugurar mais um ousado projeto: erguer um instituto para ensinar crianças e adolescentes a arte da pintura, aliada à educação. Talvez, sua principal obra de arte.

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