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Estado de Minas

O poeta da imagem


postado em 22/02/2013 09:27

Com sua máquina e muito talento, Wilson registrou boa parte da história da capital(foto: Cláudio Cunha)
Com sua máquina e muito talento, Wilson registrou boa parte da história da capital (foto: Cláudio Cunha)

Próximo de completar 100 anos de idade, o fotógrafo Wilson Baptista não é, nem de longe, o estereótipo do aposentado melancólico e cabisbaixo que fica em casa reclamando do mundo. Pelo contrário. Entusiasmado, sempre feliz, ele adora conversar e, empolgado, aguarda a festa de seu aniversário, em julho. “Tenho sangue Caiapó, o que talvez explique um pouco esta minha animação e vontade de viver”, diz.

 

E é assim, com uma grande vontade de prosear, que seu Wilson recebe as pessoas em sua casa. Sempre bem disposto e contando muitos casos, ele gosta de mostrar um pouco do seu acervo fotográfico, que pode ser resumido em uma palavra: sensacional. Apesar de ser advogado, formado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o amor pela fotografia sempre esteve presente na vida deste belo-horizontino.

 

1935 - Av. Afonso Pena e os fícus
 
 

Inicialmente, ele trabalhou como funcionário da prefeitura, para depois se transferir para um cartório. O cotidiano do trabalho burocrático nunca impediu que seu Wilson se dedicasse à sua maior paixão: a fotografia. Paixão que faria com que ele acabasse formando um dos mais importantes acervos da história de Minas e de Belo Horizonte. Fotos que ajudam a contar a história dos últimos 80 anos da capital.

 

“Belo Horizonte era muito diferente”, diz. “A cidade era muito menor e nem todo mundo fotografava”, relembra, para, em seguida, completar: “Sempre me considerei um fotógrafo amador. O pessoal me pedia para fazer uns retratos e tal. E eu não podia negar, né?”, afirma, de maneira modesta.

 

1955- Corrida na Av. Olegpario Maciel
 
 

O acervo de seu Wilson conta hoje com mais de 10 mil imagens. Fotógrafo das antigas – afinal, suas primeiras clicadas foram dadas ainda nos anos 1930 –, todos que entram em seu estúdio de edição têm a certeza de que vão passar várias horas do dia perdidos em meio a rolos antigos, à procura das melhores imagens. Ledo engano: organizadíssimo, o fotógrafo aos poucos vai revelando seu precioso tesouro. E com um pequeno detalhe: tudo em um poderoso Mac, que ele manuseia com a habilidade de um garoto de 15 anos que fica o dia inteiro na internet. Clica dali, clica daqui, na tela vão surgindo dezenas de fotos digitalizadas que ajudam a reconstituir parte importante da história de Belo Horizonte, fundada em 1897. Muitas delas feitas há mais de 70 anos, e todas estão devidamente numeradas e catalogadas. “Sempre gostei de computador. Divirto-me muito com essas engenhocas”, diz ele, ao explicar tanta intimidade com o mundo digital.

 

1955- Construção do Edifício JK
 
 

Pelas lentes da máquina do seu Wilson é possível acompanhar o crescimento da cidade. Tendo começado a fotografar em 1932, ele registrou, por exemplo, a inauguração das avenidas Antônio Carlos e Amazonas e a construção do Conjunto JK, do Colégio Estadual Central e do edifício do Bemge. Em 1939, convidado pelo então prefeito José Osvaldo de Araújo, ele montou um álbum sobre Belo Horizonte para o I Congresso Brasileiro de Urbanismo. Seu Wilson subiu a bordo de um pequeno avião do correio aéreo para registrar as primeiras imagens aéreas da capital. “Até hoje me lembro do medo que passei dentro do avião”, diz. “O piso da aeronave era de lona e a gente ficava o tempo todo balançando.”

 

O trabalho de Wilson Baptista e seu papel na cena fotográfica mineira são importantíssimos. E sua atuação no Foto Clube de Minas Gerais, do qual foi um dos fundadores e o primeiro presidente ainda na década de 1950, também marcou a cidade.

 

1940- Região da Lagoinha
 
 

A qualidade de seu trabalho antecipou muito do que viria a caracterizar a fotografia brasileira nas décadas de 1940 e 1950. E exibições como a mostra coletiva realizada, no ano passado, pela Fundação Clóvis Salgado, e duas retrospectivas – uma na Casa do Baile, em 2007, e outra no Instituto dos Arquitetos do Brasil, em 2000 – têm servido como um reconhecimento, ainda que tardio, da obra deste grande fotógrafo mineiro.

 

Humilde e bem ao estilo mineiro, seu Wilson se diverte com o reconhecimento que seu trabalho vem recebendo nos últimos anos com as exposições. “Fico feliz que as pessoas me procurem e que gostem do meu trabalho. Sinceramente, não esperava este reconhecimento, não”, afirma o artista, que prepara um livro para comemorar os 100 anos.

 

Longa vida para este grande artista!

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