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Estado de Minas CULTURA | MúSICA

"Sou do mundo sou Minas Gerais"

Mesmo longe dos holofotes da fama, músicos mineiros independentes cativam público de BH com repertório próprio e estilos universais, que misturam ritmos como blues, rock, música latina e MPB


postado em 08/01/2014 17:45

O cantor Tom Nascimento lembra-se de um dos momentos mais marcantes da sua carreira:
O cantor Tom Nascimento lembra-se de um dos momentos mais marcantes da sua carreira: "Cantar o Hino Nacional ao lado de Milton Nascimento e Gilberto Gil na abertura do jogo Brasil e Argentina no Mineirão foi inesquecível" (foto: Ana Souza)
 
 
Que ritmo toca você? Quem sabe algo como um "Funk-se, Rock-se...". Essa é a proposta do primeiro CD lançado por Tom Nascimento, de 37 anos, em 2012. Desde menino, o cantor de Belo Horizonte se aventura nos embalos do afro pop, com influências do blues, funk e reggae. A consagração do seu trabalho veio com uma turnê realizada pela Itália em 2008, quando gravou o clipe La Formica Tereza, em italiano e português. "Foi uma experiência única. Mas outro momento importante na minha carreira foi cantar o Hino Nacional ao lado de Milton Nascimento e Gilberto Gil, na abertura do jogo Brasil e Argentina no Mineirão em 2004."

Assim como Tom, a capital mineira possui vários outros talentos e, definitivamente, não pode ser resumida somente a cidade nacional dos botecos ou a um tradicional circuito gastronômico. Minas é também destaque no cenário musical, conquistando a chancela de ter uma das mais promissoras cenas de produção autoral do país. "Além da qualidade e pluralidade musical que vai desde o regional ao hip-hop, do rock indie à MPB, do heavy metal ao chorinho, as bandas interagem entre si, trocando experiências e fomentando eventos públicos pela cidade", diz Luiz Valente, produtor e idealizador do selo Vinyl Land e responsável pelo lançamento da Collector’s Choice: BH 2013, coletânea em vinil duplo que reuniu o trabalho de 21 bandas de BH, com trabalhos inéditos. "Fico perplexo ao perceber como o Brasil, de uma forma geral, ainda não sabe o que acontece aqui." Para o produtor cultural Victor Diniz, fundador do Espaço Comum Luiz Estrela, Minas Gerais tem um mercado muito bom, mas ainda pouco explorado. "Por isso é tão importante aumentar o nosso intercâmbio cultural, difundindo toda essa explosão de talentos existentes no mercado mineiro", diz. 
 
No ritmo do ska desapegado, a banda Pequena Morte se prepara para alçar novos voos:
No ritmo do ska desapegado, a banda Pequena Morte se prepara para alçar novos voos: "Em janeiro entraremos em estúdio para gravar o nosso segundo CD, com mais de 10 músicas inéditas", diz o vocalista, Raul Gustavo Franco (segundo à esq.) (foto: Ana Eisbaer)
 

Mesmo longe dos holofotes da fama e do sucesso, os músicos e compositores independentes vão conquistando seguidores e cativando o público mineiro com hits criados a partir das mais variadas confluências de gêneros e estilos. A brasilidade da MPB, por exemplo, pode ser ouvida no álbum de estreia da cantora Laura Lopes, de 28 anos, intitulado Abaporu. Lançado no início de 2013, o trabalho traz 11 canções, em sua maioria inéditas, inspiradas nos clássicos do rock e em músicas estrangeiras. "Desde 2010 venho interpretando minhas próprias canções, e isso estimulou a gravação do meu primeiro CD, que traz uma miscigenação de estilos. Mas sempre me inspirei em divas como a Elis Regina e a Gal Costa", diz Laura.

Veteranos ou não, bandas como Dibigode, Fusile, Dead Lover’s Twisted Heart, Constantina, Câmera, Graveola e Lixo Polifônico representam o que o público mineiro gosta de ouvir. Há nove anos, a banda Black Sonora traz o melhor da música negra, misturando rock, black music e a pegada caliente dos ritmos cubanos. Um dos vocalistas, Gustavo Negreiros, comemora a participação recente que a banda teve no concurso SomPraTodos, do Circuito Banco do Brasil, após ter sido escolhida pelo júri e ganhar a votação popular. "Foi muito gratificante tocar com grandes nomes, entre eles, Red Hot Chili Peppers, O Rappa e Jota Quest. É a resposta ao nosso trabalho."
 
A banda Black Sonora comemora sua participação recente no concurso SomPraTodos, do Circuito Banco do Brasil:
A banda Black Sonora comemora sua participação recente no concurso SomPraTodos, do Circuito Banco do Brasil: "Foi muito gratificante tocar com grandes nomes, entre eles Red Hot Chili Peppers, O Rappa e Jota Quest. É a resposta ao nosso trabalho", diz o vocalista, Gustavo Negreiros (foto: Fred Wertz)
 

No ritmo do ska desapegado (uma mistura de ritmos caribenhos), a banda Pequena Morte, fundada em 2008 pelos amigos Raul Gustavo Franco (vocalista e guitarrista) e o baterista Tamás Bodolay, também tem muitos motivos para comemorar. "Em janeiro entraremos em estúdio para gravar o nosso segundo CD, com mais de 10 músicas inéditas", revela Gustavo. O primeiro álbum lançado pela banda foi o Defenestra, indicado como um dos melhores de 2011 e baixado mais de oito mil vezes pelo site. Além da banda, o grupo funciona como um coletivo, produzindo eventos na capital – entre eles, o Festival Sensacional, que integra a programação carnavalesca da cidade, reunindo mais de 15 mil pessoas. "Belo Horizonte é realmente um polo cultural. Lamentamos apenas o fato de os empresários mineiros não apostarem nesses novos talentos e patrocinarem apenas os artistas já consagrados", diz o vocalista do Pequena Morte. 
 
A brasilidade da MPB pode ser ouvida no álbum de estreia da cantora Laura Lopes, intitulado Abaporu:
A brasilidade da MPB pode ser ouvida no álbum de estreia da cantora Laura Lopes, intitulado Abaporu: "Desde 2010 venho interpretando minhas próprias canções, e isso estimulou a gravação do meu primeiro CD, que traz uma miscigenação de estilos" (foto: André Baumecker)
 

Entre as maiores dificuldades apontadas pelos artistas, está a pouca divulgação em rádios locais, a falta de apoio da imprensa especializada, a ausência de espaços para que as bandas se apresentem e a dificuldade de conseguir patrocínio. Para a cantora Laura Lopes, o cenário musical mineiro é o mais rico do país, tanto por sua produção de canções quanto pela parte instrumental. "Talvez seja uma música que não atinja grandes públicos, até por sua complexidade sonora, mas é sem dúvida uma produção de altíssimo nível, digna de muito mais reconhecimento e espaço no mercado fonográfico brasileiro".

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