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Estado de Minas NAS TELAS | JOSé JOãO RIBEIRO

Os parceiros exploram Wall Street


postado em 27/02/2014 15:19 / atualizado em 27/02/2014 15:22

DiCaprio interpreta o picareta Jordan Belfot: crimes do colarinho branco, drogas e prostituição(foto: Divulgação)
DiCaprio interpreta o picareta Jordan Belfot: crimes do colarinho branco, drogas e prostituição (foto: Divulgação)


O diretor Martin Scorsese, após anos de estrada, conseguiu se reinventar. Parece um processo natural, mas muitos de seus colegas que ditavam regras em Hollywood na década de 1970 não passaram por essa necessária transição, exemplo dos importantes cineastas Francis Ford Coppola e George Lucas. Na retomada do que sabe fazer de melhor, uma parceria sólida e já consagrada foi determinante para o sucesso. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street) é o quinto longa-metragem do mestre nova-iorquino, protagonizado pelo superastro Leonardo DiCaprio, que percebe, como poucos, todos os absurdos acelerados e espetaculares saídos da cabeça de Scorsese.

O projeto apresentado por DiCaprio diretamente ao diretor/parceiro derruba todos os limites (se é que existiram tantos assim) experimentados, em várias fases por Martin. O Lobo é muito similar à estrutura exitosa de Cassino e de Os Bons Companheiros. Nos seus exatos e preciosos 180 minutos de duração, acompanhamos a trajetória do talentoso picareta Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), que, reunido a um grupo de escroques da pior espécie, muito bem treinados, pratica crimes do colarinho branco, embalados pela fábula do dinheiro a rodo em Wall Street.

O elenco soube comprar a paranoia oitentista, idealizada por Martin, que sempre privilegia o exagero, a overdose, a baixeza humana, visando escancarar em plenitude todas as emoções de uma cena. Da meteórica ponta primorosa e afetiva de Matthew McConaughey à interpretação domada do histriônico Jonah Hill, em um trabalho surpreendente, todos merecem efusivas menções, por cada aparição nessa comédia ácida. Mas, sem o genial Leo DiCaprio, Martin Scorsese não conseguiria fazer do Lobo o seu melhor filme nos últimos anos.

O desempenho de Leonardo DiCaprio atesta sua superioridade, perante seus colegas, em toda a produção atual. De um personagem que margeia a caricatura e pode sofrer imediata rejeição da plateia, o astro tira a composição de letra, em admirável estado de graça. O monstro Leonardo explode, surta, pira, como nunca. Os recursos e as expressões de um competente ator podem ter um vasto repertório. No caso de Leonardo, essas expressões e esses recursos, simplesmente, são infinitos. Poucos conseguiram surpreender tanto o espectador, ao longo de três horas. O triste e absoluto mergulho de Jordan Belfort no universo sórdido das drogas e da prostituição ganha o perfil inquestionável de realidade e de genuína entrega, a partir do bem estudado esforço de seu intérprete.

O Lobo confirma a certeza de Scorsese quando apontou Leonardo DiCaprio como o mais completo ator de sua geração. Se antes obtiveram esplêndidos resultados com Gangues de Nova York, O Aviador, Os Infiltrados e Ilha do Medo, a partir de O Lobo de Wall Street empreenderam a perfeição. Uma obra-prima imediata, moderna e corajosa, composta por cenas históricas, compreendendo todos os discursos e pregações do "apóstolo" Jordan Belfort aos seus subordinados, além do ápice do deboche, com toda a sequência de uma overdose paralisante no sofisticado Country Club.


Em um ano sem favoritos, a nova joia de Scorsese corre por fora, no Oscar 2014. Seria muito interessante se O Lobo surpreendesse na cerimônia, marcada para o próximo dia 2 de março.

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