Publicidade

Estado de Minas SAúDE | VISãO

Olhinho preguiçoso

Crianças de até 3 anos têm mais deficiências de visão do que se imagina. Se não forem tratadas a tempo, existe o risco até mesmo de cegueira. Os pais, portanto, devem ficar atentos


postado em 15/04/2014 11:26 / atualizado em 15/04/2014 11:52

(foto: Shutterstock)
(foto: Shutterstock)
Foi por acaso que a escritora Johanna Homann descobriu que a filha Maria Luiza, hoje com 10 anos, sofria de um sério problema de visão. "Na época, ela tinha 5 anos e o irmão, João Pedro, 7.  Ele iria fazer um exame de rotina e decidimos avaliá-la também. Foi quando descobrimos que Maria Luiza tinha apenas 5% da visão esquerda", conta Johanna.  A mãe lembra que a filha não se queixava, mesmo enxergando apenas com o olho direito, e por isso a família ficou em estado de choque com a notícia. "Jamais poderia imaginar que minha filha estava praticamente cega de um olho. Imagine como é para uma mãe descobrir algo tão grave", diz Johanna.

O oftalmopediatra Pedro Paulo Reis, especialista em ambliopia (olho preguiçoso):
O oftalmopediatra Pedro Paulo Reis, especialista em ambliopia (olho preguiçoso): "Quatro por cento das crianças sofrem algum problema oftalmológico que pode levar à cegueira" (foto: Samuel Gê)
"Quatro por cento das crianças sofrem algum problema oftalmológico que pode levar à cegueira", alerta Pedro Paulo Reis, médico especialista em oftalmopediatria, diretor clínico da BH Olhos Clínica Oftalmológica. Segundo o médico, os pais costumam perceber muito cedo o estrabismo, já que os olhos perdem o paralelismo, ou mesmo a catarata, pela mancha branca na área pupilar. Porém observam tardiamente a existência de outras deficiências visuais, como miopia, hipermetropia ou astigmatismo, porque não são aparentes. E é aí que está o risco, pois o tratamento pode ter início tarde demais. "O ideal é detectar qualquer doença com a idade de até 3 anos, no máximo. A partir dos 7 anos, a situação já se complica", diz Pedro Reis.

O tratamento tardio provoca a diminuição gradativa da capacidade visual da criança em um ou ambos os olhos. Ou seja, o olho não apresenta um amadurecimento normal em decorrência da doença. Essa perda de visão, chamada de ambliopia, é conhecida popularmente como olho preguiçoso. A grande dificuldade é mesmo a identificação do problema pelos pais.  "A criança não nasce amblíope, mas pode se tornar, caso o diagnóstico e o tratamento não sejam feitos precocemente", explica o especialista.

A escritora Johanna Homann com a filha Maria Luiza, de 10 anos, que quase perdeu a visão do olho esquerdo, aos 5:
A escritora Johanna Homann com a filha Maria Luiza, de 10 anos, que quase perdeu a visão do olho esquerdo, aos 5: "Imagine como é para uma mãe descobrir algo tão grave" (foto: Gláucia Rodrigues)
O problema é tão grave que em Belo Horizonte existe uma lei municipal que determina que em todas as maternidades seja realizado o ‘teste do olhinho’, com o propósito de detectar a catarata congênita, tumores oculares e outras doenças. Contudo, na opinião do médico Pedro Reis, só esse exame não é suficiente e, por isso, os pais devem ficar sempre alerta. "O ideal é que seja realizada pelo menos uma avaliação oftalmológica na criança até os 3 anos de idade", explica. "Em algumas doenças, como a catarata, é necessário o procedimento cirúrgico, enquanto para outras basta tratamento." O bom é que a criança pode ser diagnosticada mesmo antes de falar ou ler, graças a equipamentos modernos. "Hoje é possível medir instantaneamente o grau de crianças a partir dos 6 meses de vida", explica o médico.

A família de Maria Luiza tem muitos motivos para comemorar. Após cincos anos de tratamento, a menina está pronta para abandonar o tampão no olho direito. "O uso do tampão foi necessário para estimular o desenvolvimento do olho esquerdo. Hoje, ela tem 100% de visão nos dois olhos", diz a mãe, emocionada.

A história é parecida com a de Ana Luiza, hoje com 6 anos. Com apenas 3 meses de vida, ela foi diagnosticada com estrabismo, aos 6 meses iniciou o tratamento com o uso de tampão nos dois olhos e com 3 anos teve de fazer uma cirurgia de correção. Apesar de todas as dificuldades, especialmente por se tratar de um bebê, a mãe, a empresária Renata Maria Lacerda de Araújo, jamais desistiu e hoje vê que valeu a pena: "Sempre soube que, mais do que uma necessidade estética, era o futuro dela que estava em jogo. Dependia de mim garantir que ela enxergasse bem."

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade