Apelar ao divino não foi suficiente. Aécio passou perto, mas não se elegeu presidente do Brasil. Ainda assim, saiu do pleito como um grande vencedor, e ele sabe disso. Fácil entender o porquê. Aécio entrou na disputa como forte competidor. Saiu dela como um gigante, muito maior do que se poderia imaginar. “Fui derrotado eleitoralmente”, diz o mineiro, que hoje se tornou cortejada celebridade. Por onde anda, aonde vai, é cercado, aplaudido e aclamado. Inclusive nos corredores do Congresso Nacional. Ele dá um passo e pronto: lá está um deputado, um prefeito, um senador ou apenas visitantes, atrás de sua ajuda, suas palavras e, muitas vezes, sua fotografia.
Dono de 51 milhões de votos, Aécio sabe a responsabilidade que carrega. Mas está muito tranquilo com isso. Aécio está leve e sorridente. Retomou hábito prazeroso interrompido pela campanha: a leitura. A biblioteca do gabinete tem, entre outros, um exemplar de Why Nations Fail (Por Que as Nações Falham, em tradução livre), de Daron Acemoglu e James Robinson, e livros sobre Minas Gerais. Mas ele está lendo o segundo tomo de Getúlio, de Lira Neto. Guardou na lembrança a passagem do livro em que Getúlio é reconhecido na rua por uma senhora, que o abraça. “O único retorno que o homem público honrado pode querer é o reconhecimento por seu esforço e seu trabalho”, diz. “E é isso que eu encontro hoje.”
O senador lembra-se, ainda criança, de ter encontrado o mais duro adversário político de seu pai, Aécio Cunha, da cidade mineira de Teófilo Otoni, que lhe disse: “Seu pai é um homem honrado e de bem”.
“É isso o que quero para meus filhos, que encontrem pessoas que podem não concordar comigo, mas que me respeitam”, diz Aécio.Neste ano, Aécio passou a ter dois motivos a mais para preocupações como esta. Os gêmeos atendem pelo nome de Bernardo e Júlia e nasceram prematuramente, no início da campanha. Não era possível, nem necessário, dividir com o público, mas Bernardo e Júlia correram risco de morte em mais de uma ocasião. “Foi o ano mais intenso da minha vida”, diz. No início deste mesmo 2014, a irmã de Aécio, Ângela, sofreu um AVC e ficou 60 dias na UTI.
“Tive de buscar muita força interna”, diz. “Eu tinha de ser otimista e arauto de boas notícias.” Letícia, sua mulher, também teve papel decisivo. “Ela foi guerreira e companheira”, diz ele. Aécio tem pela frente o desafio de manter acesa a chama da mudança que se ascendeu no país. “Nasceu um Brasil diferente nas urnas”, afirma. Para mantê-lo ardente, Aécio terá de se firmar como protagonista da oposição e fazer perenigrações itinerantes e devotadas pelo país. Assim com fazia São Francisco de Assis.