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Estado de Minas CIDADE / TRÂNSITO

Ainda em compasso de espera

Reforma do Anel Rodoviário e construção do Rodoanel, obras urgentes para a cidade e região metropolitana, não saem do papel. Enquanto isso, cerca de 120 mil motoristas enfrentam riscos diariamente


postado em 10/08/2015 14:20 / atualizado em 10/08/2015 14:41

Flagrante de imprudência: contrariando a legislação de trânsito, caminhões e carretas circulam pela faixa da esquerda(foto: Rogério Sol/Encontro)
Flagrante de imprudência: contrariando a legislação de trânsito, caminhões e carretas circulam pela faixa da esquerda (foto: Rogério Sol/Encontro)
Os belo-horizontinos sonham com antigas  promessas de melhorias para o trânsito. Entre elas, a reforma completa dos 27,3 quilômetros do Anel Rodoviário. A  via com tráfego diário de 120 mil veículos é temida por motoristas, motociclistas e caminhoneiros. Não é difícil entender o por quê. De acordo com a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), de janeiro a junho deste ano foram registrados 918 acidentes, com 377 feridos e 11 mortes. Apesar da queda dos números na comparação com o mesmo período do ano anterior (redução de 36% em acidentes e 30% de feridos), os condutores estão longe de se sentirem seguros na via.

Um dos trechos mais críticos, segundo especialistas, fica entre os bairros Olhos D’Água e Betânia. Apenas em junho, três graves acidentes foram registrados no local. Uma pessoa morreu e duas ficaram feridas. Sem contar que em uma das ocorrências uma carreta perdeu o controle e ficou em L, fechando a pista nos dois sentidos e travando o fluxo por horas. Em maio, ainda no trecho, outro acidente fatal, quando uma carreta desgovernada atingiu dois veículos de carga e mais nove carros de passeio.

Anel Rodoviário, entre os bairros Olhos D'Água e Betânia: trecho é considerado o mais perigoso da rodovia(foto: Rogério Sol/Encontro)
Anel Rodoviário, entre os bairros Olhos D'Água e Betânia: trecho é considerado o mais perigoso da rodovia (foto: Rogério Sol/Encontro)
Acidentes como esse já não mais surpreendem quem passa com frequência por lá. Daniel Moreira França, de 34 anos, é proprietário de uma loja de autopeças próxima a uma das saídas do Anel Rodoviário, na altura da avenida Antônio Carlos. "Há 11 anos circulo pela via entregando produtos para clientes e posso dizer que não é nada agradável passar por esse lugar", diz Daniel. Um dos graves problemas é o estreitamento de pista. Iago Veloso, de 21 anos, trabalha como entregador em uma empresa na mesma região. "O pior são os caminhões, em grande quantidade, e que circulam pela faixa da esquerda", diz.

A reportagem de Encontro percorreu os trechos mais perigosos: altura do bairro Betânia, próximo à avenida Tereza Cristina, e sobre a avenida Antônio Carlos. Em todos os pontos foi notado tráfego intenso de caminhões e carretas e, o pior, com os veículos de carga transitando pela faixa da esquerda, infringindo o que prevê a legislação de trânsito.

Um remédio para amenizar o problema foi anunciado há três anos: a construção do Rodoanel. A nova via, em sua primeira fase chamada de Contorno Norte, ligaria os municípios de Sabará a Betim com a promessa de tirar 48% do tráfego pesado do confuso Anel Rodoviário. A largada para a obra foi dada em junho do ano passado. A licitação foi vencida pela concessionária Rota do Horizonte, formada pelas empresas Odebrecht TransPort, EcoRodovias Infraestrutura e Logística e Barbosa Mello Participações e Investimentos. Entretanto, o governo atual informou, em nota, "que o valor do empreendimento, licitado na modalidade parceria público-privada (PPP) , de R$ 7,1 bilhões, foi considerado incompatível com a disponibilidade orçamentária do estado." Portanto, ainda sem data para as obras, que levariam três anos.

Apesar de a abertura do Contorno Norte se tratar de um avanço, para o consultor de transporte e trânsito Osias Baptista Neto não será suficiente para amenizar o tráfego no trecho mais perigoso, entre os bairros Olhos D’Água e Betânia. "Os caminhões vão continuar passando por lá até chegarem à avenida Amazonas", diz o consultor, lembrando que a solução só viria com a construção do Contorno Sul, que ainda está no campo das discussões. Para o especialista, os vários problemas são fruto dos governos que nunca priorizaram, de fato, a rodovia. "Hoje, as principais vítimas são motociclistas e pedestres. As pontes e os viadutos não têm larguras adequadas, o estreitamento de faixas, além de provocar retenção, deixa o trânsito confuso e perigoso", afirma.

Já a reforma completa do Anel está mergulhada no oceano das indefinições. Segundo o governo estadual, "a Secretaria de Transportes e Obras Públicas apresentará ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), no final de agosto, o anteprojeto para a reforma de todo o Anel Rodoviário de Belo Horizonte. O objetivo é licitar o empreendimento, pelo regime diferenciado de contratação (RDC), ainda neste ano", diz a nota.  Mas não há datas para o começo das obras.

"Ninguém conhece o projeto de intervenções. Não sabemos o que está se propondo. Fica passando do governo estadual para o federal e vice-versa. É preciso entender que o Anel é um lugar onde se mata e morre", diz Osias.

Desde abril do ano passado, os condutores observam obras no trecho entre os bairros Califórnia e Olhos D’Água, contudo, trata-se de melhorias da empresa Via 040 – Invepar, concessionária responsável pelo trecho de 936,8 quilômetros da BR-040 entre Brasília e Juiz de Fora e que afeta 10,5 quilômetros do Anel. Portanto, resta torcer para que as obras alcancem definitivamente toda a via e apague o estigma de rodovia do medo.

Conheça o contorno norte do Rodoanel

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