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Estado de Minas CIDADE | ELEIÇÕES

Conheça as propostas dos principais candidatos a prefeito de BH

Saiba o que eles planejam para a capital mineira, que completa 120 anos em 2017


postado em 21/09/2016 13:55 / atualizado em 21/09/2016 14:05

(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
O candidato que se sagrar vencedor nas próximas eleições municipais terá um trabalho e tanto pela frente. Em uma metrópole com 2,5 milhões de habitantes, os problemas se acumulam: o trânsito está cada vez mais congestionado, o transporte coletivo não atende às necessidades dos moradores, faltam leitos - e sobram filas - nos hospitais, não é preciso chover muito para as enchentes tirarem o nosso sono... O primeiro turno será no dia 2 de outubro e o segundo, se houver, no dia 30. A todo vapor nas ruas, nas rádios e nas TVs, a campanha é bem diferente que a anterior. A começar pelo número de candidatos. Neste ano são 11. Em 2012 eram sete. A partir da reforma eleitoral do ano passado, o tempo de propaganda foi reduzido de 45 para 35 dias no primeiro turno. Também não é permitida mais doação financeira de empresas. Os candidatos têm de contar com recursos do fundo partidário e com doações de pessoas físicas. A marcação está mais cerrada ainda em relação à ocupação das ruas, já que o uso de cavaletes e as pinturas em muros, tão comuns em pleitos anteriores, estão radicalmente proibidos.

De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada no dia 9 de setembro, o candidato do PSDB, João Leite, lidera a disputa, com 30% das intenções de votos. Em segundo lugar está o ex-presidente do Atlético Alexandre Kalil (PHS), com 19%. Todos os outros aparecem em empate técnico, entre 2 e 4% das intenções de voto. Além de terem de lidar com todas as restrições impostas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), os candidatos precisam se virar para convencer os eleitores de que estão diante de boas opções. Com as sucessivas denúncias de corrupção nas diversas esferas de poder e o recém-votado impeachment de Dilma Rousseff, o descrédito com a classe política é notório. Não à toa, todos, sem exceção, apresentam-se como donos de "um novo jeito de se fazer política". Nesta edição, Encontro conversou com os principais candidatos - além de João Leite e Kalil, Délio Malheiros (PSD), Reginaldo Lopes (PT) e Rodrigo Pacheco (PMDB) - à prefeitura e publica suas propostas para os seguintes temas: mobilidade e trânsito; saúde; enchentes; cultura; revalorização do centro e educação. Confira o que eles dizem e pretendem fazer pela cidade.

O ex-goleiro que sonha marcar um golaço

 

(foto: Roberto Rocha/Encontro)
(foto: Roberto Rocha/Encontro)
Enquanto Robinho se preparava para bater um pênalti contra o Atlético Paranaense na Arena Independência, na manhã do dia 21 de agosto, João Leite, ex-goleiro do Galo, estava no bairro São Paulo, na região Nordeste da capital, em uma feira de alimentos. "Gol", gritaram alguns atleticanos que o cercavam. João Leite abriu um sorrisão. Não que seja difícil arrancar um sorriso do deputado estadual, que pleiteia o cargo de prefeito de Belo Horizonte. De fala serena, João é tido como "boa-praça". Como bom mineiro, gosta de uma prosa. Nesse dia, ficou mais de 20 minutos tomando café e saboreando três pastéis enquanto trocava palavras e algumas risadas com um morador da região.

Depois de duas tentativas frustradas de chegar à prefeitura (em 2000 e 2004), João espera que a liderança nas pesquisas seja traduzida em vitória no pleito de outubro. Na primeira tentativa, ele perdeu para Célio de Castro. Na segunda, o algoz foi Fernando Pimentel, atual governador do estado. De lá para cá, muita coisa mudou. "Estou mais enrugado", diz João, que completa 61 anos em outubro. Para o ex-goleiro, que conta com as bênçãos de caciques tucanos como os senadores Aécio Neves e Antonio Anastasia, sua trajetória conta a favor em relação aos oponentes. "Conquistei larga experiência nos últimos anos e não tenho o direito de não oferecer isso à cidade", diz o candidato, que em seus seis mandatos como deputado estadual ficou marcado por atuar em comissões de segurança pública e de direitos humanos. Ele presidiu ainda a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário, que chamou a atenção para a lotação das cadeias de Minas, além da situação dos presos provisórios. João Leite foi também secretário estadual de Esportes no governo Aécio, entre os anos de 2003 e 2004.

João é casado com a ex-jogadora de volei Eliana Nagib Aleixo, que atuou por 12 anos na seleção brasileira. Tem três filhos: Helton Leite, goleiro do Botafogo do Rio; Débora e Daniela. No alto de seus 1,87 m de altura, o ex-goleiro é o jogador que mais disputou partidas com as cores alvinegras. Foram 684, entre os anos 1970 e 1980 e o início da década de 1990. Sua história como jogador foi marcada por ser um dos fundadores do Movimento Atletas de Cristo, nos anos 1980, que reúne esportistas cristãos. Depois de ficar famoso por ter defendido tantos chutes de adversários, ele quer marcar um golaço nestas eleições.

Propostas

Enchentes: existem hoje três grandes obras contra enchentes com recursos já garantidos junto à União e cujo processo licitatório está em
curso. São 380 milhões de reais em intervenções que deverão ser iniciadas em 2017. Por outro lado, existem outras intervenções urgentes, para as quais há projetos, mas sem recursos assegurados. Para estas, vamos buscar os recursos para que possam ser prontamente iniciadas.

Educação: acabar com a fila para vagas em escolas e creches. Hoje são mais de 17 mil crianças fora das Unidades Municipais de Educação Infantil (Umeis). Universalizar a escola em Belo Horizonte e inserir conteúdos como empreendedorismo e cultura digital. Criar rede de apoio à formação de professores, tendo por meta atingir no Ideb uma nota 6,4 para os anos iniciais e 5,4 para os finais até 2019 (hoje, essa nota é 6,1 para os anos iniciais e 4,8 para os finais).

Trânsito e mobilidade urbana: melhorar as linhas nos bairros e as alimentadoras do Move, criando opções inteligentes de tarifa. Abrir novos corredores para táxi lotação e viabilizar a parceria público privada (PPP) do veículo leve sobre trilhos (VLT) entre o terminal rodoviário e a Cidade Administrativa. Interligar ciclovias com os outros modais, com bicicletários e vestiários.

Saúde: priorizar a prevenção. Universalizar o Programa Saúde da Família, construir Centros de Referência de Idosos nas regionais e criar a Rede Cuidar, que prevê o monitoramento individualizado de doentes crônicos, como diabéticos, hipertensos e obesos, bem como de idosos e crianças até 6 anos.

Cultura: criar o Observatório da Cultura, para monitorar os projetos e observar gargalos da produção cultural. Outras inciativas são o Fórum Permanente de Cultura e o Prêmio BH de Cultura, com premiação de artistas nas áreas de música, dança, teatro, literatura e artes plásticas. Lançar o programa Colmeia da Economia Criativa, um centro de formação e capacitação de jovens para as cadeias produtivas de vários setores, entre eles o cultural.

Valorização do centro: revitalizar e atrair atividades que requalifiquem o uso do espaço urbano, por exemplo, estimulando a instalação de empresas da economia criativa e criando corredores culturais. Expandir  abrigos para atender as quase 2 mil pessoas que vivem nas ruas. Criar o BH Cidadania Móvel, para que essa população tenha acompanhamento de assistentes sociais, e oferecer programas como o Volta por Cima, que oferece capacitação e oportunidades de emprego.

Um estreante sem papas na língua

(foto: Samuel Gê/Encontro)
(foto: Samuel Gê/Encontro)
"Isso aqui é o fim do mundo." E assim termina o vídeo que mostra a visita de Alexandre Kalil a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Belo Horizonte. A fala, claro, é do ex-mandatário atleticano. Antes de qualquer plano de governo ou propostas para a cidade, a principal marca de Kalil é não ter papas na língua. A fama de mal-humorado o acompanha desde a época em que comandava o Atlético e vivia trocando farpas com dirigentes do Cruzeiro. Tal característica continua fazendo parte de seu perfil. Uma das provas foi o post em sua conta no Twitter no qual manda o seguinte recado: "Não converso com empresário de ônibus. Não adianta me procurar."

Aliás, Kalil está abusando das redes sociais. Além do vídeo da UPA, o candidato aparece testando o transporte coletivo de BH. Ele começa ainda pela madrugada, no bairro São Gabriel, e faz a chamada baldeação, que é obrigatória para moradores de bairros afastados do centro da capital. A equipe de campanha já apelidou os testes de "Kalil Surpresa". "Não dá para andar em carroça sem amortecedor, que leva idoso e crianças a 100 km/h. Não dá", diz.

A estreia dele na política foi adiada. Seria candidato a deputado federal pelo PSB, em 2014. Desistiu da empreitada e disparou para todos os lados. "Eles me prometeram um monte de coisas e não cumpriram. Fiquei muito desanimado", disse, sobre os caciques do PSB. A passagem traumática fez com que se filiasse ao Partido Humanista da Solidariedade (PHS) e, agora, quer vencer o pleito com o discurso de que não fará política. "O problema de BH é questão de coração. Tem de ter gente que tenha coração, que tenha cheiro de povo para resolver."

Rival confesso do Cruzeiro, Kalil disse várias vezes que, se eleito, governará para todos os torcedores. Azuis, inclusive. É difícil, contudo, desvencilhá-lo da trajetória à frente do Atlético. Nas ruas, no tradicional corpo a corpo com os eleitores, é seguido por várias pessoas e o grito de "Galo" não é difícil de se ouvir. Em 2013, alcançou o auge ao levantar a taça da Libertadores da América, em decisão histórica no Mineirão. O time estava há 42 anos sem conquistar um título de expressão. Foi Kalil ainda que bateu o pé para trazer Ronaldinho Gaúcho, que virou ídolo da torcida e um dos principais responsáveis pelo título continental. Se isso não bastasse, ele nasceu no mesmo dia em que o clube foi fundado: 25 de março. Seu pai, Elias Kalil, já falecido, também comandou o clube alvinegro, entre os anos de 1980 e 1985, período no qual conquistou cinco títulos mineiros. Além da vocação para dirigente de futebol, e do sangue árabe, o pai deixou como herança uma empresa de engenharia, a Erkal, fundada em 1965. Ao buscar apoio de atleticanos, americanos e cruzeirenses, Kalil promete competência para governar outra cidade, além da do Galo.

Propostas

Enchentes: a intenção é retomar as obras de contenção e desassoreamento de córregos, bem como de limpeza de galerias. Criar um eficiente sistema de prevenção durante todo o ano.

Educação: expandir as Unidades Municipais de Educação Infantil (Umeis), para triplicar o número de crianças matriculadas. Introduzir novas técnicas pedagógicas por meio do estímulo de tecnologias de apoio ao ensino, como tablets e sistemas de suporte à aprendizagem.

Trânsito e mobilidade urbana: renovar a frota de ônibus. Modificar o sistema de transporte da capital, que ainda tem muitas linhas passando pelo centro. Buscar no governo federal as verbas para a ampliação das linhas 1 e 2 do metrô e para a ampliação das linhas do Move. Elaborar um grande programa de Educação e Civilidade no Trânsito com o objetivo de diminuir o número de mortes, mudando a relação entre pedestres, automóveis, coletivos e motociclistas, concentrando atenções nos grandes corredores da cidade.

Saúde: criar uma central de atendimento eletrônica e física voltada para os serviços de saúde, encaminhando, orientando e conduzindo usuários.
Fazer com que o Hospital Metropolitano do Barreiro opere com toda a sua capacidade. Possibilitar que o Hospital Risoleta Neves restabeleça o atendimento pediátrico. Desenvolver estratégias de combate à dengue e à gripe H1N1, com foco na vacinação e em ações nos focos do mosquito Aedes aegypti.

Cultura: debater com a classe artística ações importantes, como a implantação da Secretaria de Cultura. A cultura terá o mote da economia criativa, em que a prefeitura entra para regular e facilitar os programas de setores como artes visuais, teatrais, patrimônio histórico e artístico (incluindo especialmente a Pampulha), música e mídias. Restabelecer o diálogo com os responsáveis pela diversidade cultural da cidade.

Valorização do centro: recuperar as condições de segurança no hipercentro. Chamar o governo do estado para fazer uma força-tarefa e alocar recursos conjuntos da Guarda Municipal e Polícia Militar nas áreas mais críticas. Buscar uma saída para o impasse dos camelôs.

Aposta na continuidade

(foto: Roberto Rocha/Encontro)
(foto: Roberto Rocha/Encontro)
A quatro dias do prazo final para registrar a candidatura no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), Délio Malheiros (PSD) recebeu o apoio do prefeito Marcio Lacerda (PSB). Foi uma reviravolta,  já que Lacerda tinha batido o martelo no nome de Paulo Brant. É claro que o aperto de mãos com Lacerda foi importante, mas não era condição para confirmá-lo na disputa. Reiteradas vezes ele já havia deixado claro que não seria mais vice de ninguém e, muito menos, desistiria da disputa. "Desde 2008, sonho com a candidatura para a Prefeitura de BH", diz. Naquele ano, Délio, ainda pelo Partido Verde, teve de adiar o desejo, pois a legenda havia se comprometido com a coligação que elegeria pela primeira vez Lacerda ao cargo de governante da capital mineira. Délio não gostou nada disso, sobretudo, pelo projeto controverso de unir PSDB e PT em prol do socialista. Malheiros sempre foi crítico ferrenho dos petistas. Em 2012, tudo caminhava para a candidatura própria, mas ele desistiu novamente e se filiou a Lacerda como vice na disputa. "Eu disse ao Marcio: se você deixar o PT, conte comigo." Foi o que aconteceu, mesmo depois de Malheiros aparecer em um vídeo lançando críticas ao candidato do PSB.

"Aumentou a nossa chance. Agora, temos a melhor candidatura", diz um entusiasmado Délio ao comentar a decisão repentina de Lacerda em apoiá-lo. Por entrar em 2016 obstinado à disputa de outubro, Délio começou a arrumar a casa. Deu adeus ao Partido Verde e se filiou ao PSD, segundo ele, um partido isento, onde teria mais liberdade para decidir o seu futuro. Com a aproximação de Lacerda, o discurso que permeia a campanha é de "continuidade". "Não precisaremos gastar dinheiro com mais projetos, pois tudo está encaminhado. Agora, é questão de vontade política", afirma. Nascido no município de Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha, Délio tem 55 anos. Chegou a BH aos 16, para estudar. Trabalhou no comércio do centro da capital até concluir o então segundo grau, época lembrada com muito carinho. "Ainda vou tomar um caldo de cana e comer um pastel por lá", diz o candidato, revelando uma das próximas agendas de campanha.

Malheiros ficou conhecido em BH por atuar na defesa do consumidor. Essa marca começou a ser construída depois que se formou em direito, na faculdade Milton Campos, no ano de 1989. Ele trabalhou com entidades como o Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais. Nessa época, criou e foi o primeiro coordenador da Procuradoria de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Estado.

A carreira na política só começou em 2004, quando foi eleito vereador de BH. Dois anos depois, seria a vez de ocupar uma cadeira na Assembleia de Minas. Já em 2010, foi reeleito com 68.254 votos, o terceiro mais lembrado nas urnas de BH. Na prefeitura, acumulou cargos como secretário de Meio Ambiente, herança da época na qual era filiado ao Partido Verde. À frente da pasta, orgulha-se por comandar a troca de lâmpadas da cidade por LED, ainda em andamento, entre outras ações em prol da sustentabilidade.

Propostas

Enchentes: continuar com os investimentos em obras para reduzir o risco de inundações; ampliar o plantio de árvores na cidade e fortalecer a educação ambiental, visando maior conscientização sobre o uso sustentável da água, da energia e sobre a destinação do lixo.

Educação: expandir a oferta de vagas na educação infantil; ampliar a Escola Integrada e atuar fortemente em projetos de reformas e manutenção das escolas municipais, além de ações visando a valorização dos professores e educadores.

Trânsito e mobilidade urbana: priorizar o pedestre, o transporte coletivo e o uso de modos não motorizados. Finalizar obras em andamento, como a Via 710 e o Boulevard Arrudas; ampliar a rede cicloviária integrada; expandir o Move e as vias exclusivas para o transporte coletivo; concluir a implantação da nova rodoviária e mobilizar os setores envolvidos para ampliar a rede de metrô, além das obras do Anel Rodoviário.

Saúde: consolidar a implantação do hospital do Barreiro, com a finalização das obras das Unidades de Pronto Atendimento. Prosseguir com a parceria público-privada que visa à construção de Centros de Saúde e desenvolver novas ações para melhorar a qualidade dos atendimentos. Ainda na área da saúde, propõe valorizar os agentes comunitários de saúde e os agentes comunitários de endemias.

Cultura: incentivar a realização de produções de audiovisual na cidade e a apropriação pelo cidadão dos espaços municipais com atividades culturais. Manter os eventos e atividades culturais já promovidos pelo município, como a Virada Cultural, o Festival Literário Internacional, o Noturno
dos Museus e o Descontorno Cultural.

Valorização do centro: revitalizar a região. A ideia é levar o comércio para a área central e fazer com que o espaço seja adequado para moradia e lazer.

Sem vermelho nem estrela

(foto: Gláucia Rodrigues/Encontro)
(foto: Gláucia Rodrigues/Encontro)
"Essa é a única mancha que eu tenho na vida", diz Reginaldo Lopes, o candidato do Partido dos Trabalhadores à Prefeitura de Belo Horizonte sobre o hemangioma - caracterizado pelo acúmulo de vasos sanguíneos na pele - que atinge o lado esquerdo do rosto desde a infância. A característica virou até apelido, o Manchinha, registrado em um dos jingles de campanha. "Consegui superar muito bem, apesar do preconceito de algumas pessoas." No quarto mandato como deputado federal, Lopes terá de superar outro grande desafio: vencer as eleições municipais com o escudo do PT no peito, partido esfacelado por escândalos revelados pela Operação Lava-Jato, que investiga casos de corrupção na Petrobras. Se não bastasse, a presidente Dilma Rousseff acaba de sofrer um impeachment em razão das chamadas pedaladas fiscais. Durante o programa de TV, é clara a tentativa de se desvencilhar das cores que formam a identidade da legenda. No canto superior da tela, não há mais a tradicional estrela vermelha, mas uma marca colorida.

Filho de trabalhadores rurais, o solteiro Reginaldo Lopes tem 43 anos e uma filha, a belo-horizontina Giovana, de 1 ano e 4 meses. Mas o candidato nasceu em Bom Sucesso, na região Centro-Oeste do estado. Foi padeiro, porém, desde jovem já participava de movimentos estudantis. Na capital mineira, onde passou a ter residência fixa há 16 anos, viveu nos bairros Aparecida, Ouro Preto e, atualmente, está no Engenho Nogueira. Mesmo em meio à correria de campanha, já teve tempo para matar a saudade de outras épocas. "Almocei no restaurante que frequentei pela primeira vez ao chegar a BH", diz. Durante a refeição numa churrascaria no Barro Preto, ele pôde ainda vibrar com a seleção brasileira de vôlei masculino na conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio.

Depois de se revelar cruzeirense, o parlamentar fez questão de equilibrar o jogo. "Mas a vice (Jô Moraes, do PCdoB) é atleticana. Uma das condições que impus ao partido foi ter a chapa formada por uma mulher", afirma. Gaba-se por não ter marqueteiro e comitê físico ou digital. Também garante que não será candidato à reeleição. "Fui muito criticado por isso. Chamado de louco e demagogo", diz.

Sobre um balanço dos dias de campanha, Lopes se diz satisfeito e bem à vontade. Prova disso foi em um domingo que optou por pedalar na orla da lagoa da Pampulha, vestido com a camisa do Brasil e short para chamar a atenção para as ciclovias. "Estou leve. O cidadão sabe separar quem errou e quem não errou", afirma. Diante das críticas sobre o partido, Lopes diz que o momento é de mudar a cara da política. "O PT errou, e por este PT peço desculpas. Agora, quero é reinventar este partido, resgatar a militância."

Se eleito, ele avisa que não vai construir o Centro Administrativo Municipal, antigo sonho da gestão atual, planejado para o terreno onde hoje é o terminal rodoviário de BH. "Temos de gastar dinheiro não com atividade meio, mas sim com atividade fim", afirma o parlamentar, que pretende ainda abrir consultar popular sobre a expansão do metrô.

Propostas

Enchentes: retorno do Drenurbs, projeto sobre nascentes e requalificação de cursos d’água. Serão retomadas as obras nas bacias de contenção no Aarão Reis, aeroporto da Pampulha, Jatobá e Olaria. Retorno do gabinete de áreas de risco. Retomada das políticas do projeto Vila Viva. Transformação dos fundos de vale
em áreas de lazer.

Educação: antecipar as metas do milênio para escola infantil de 2024 para 2020. Construir mais escolas infantis e universalizar o ensino integral para pré-escola, voltada para crianças de 4 a 5 anos. Retomar o conceito de escola integrada, que ocupa praças e centros culturais. Será criado Centro de Educação Unificada (CEU), que já existe em São Paulo.

Trânsito e mobilidade urbana: resgatar a BHTrans para intensificar as campanhas educativas. Sobre o metrô, será realizada consulta popular para saber quais são as linhas mais importantes para a cidade. Quer criar o bilhete único para o transporte coletivo, envolvendo BH e cidades da região metropolitana.

Saúde: redimensionar e requalificar os 149 centros de saúde. Promover processos de formação profissional e educação em saúde, em convênio com instituições como universidades públicas.

Cultura: BH será transformada em uma arena cultural, com eventos em todas as regionais. Disponibilizar 1% do orçamento da PBH para a área da cultura. Parte desse recurso será injetada no Fundo de Cultura Popular. Reabrir a Secretaria Municipal de Cultura.

Valorização do centro: planejado para o atual terminal rodoviário da capital mineira, o centro administrativo da PBH não será mais construído. Será realizada consulta popular para saber o destino da área do terminal. Criação de políticas de ocupação de requalificação da região, como o desenvolvimento de corredores culturais.

Atrás de uma reviravolta

(foto: Gláucia Rodrigues/Encontro)
(foto: Gláucia Rodrigues/Encontro)
De fala polida e bem articulada, o candidato Rodrigo Pacheco, de 39 anos, parece não se abalar muito com a sua posição nas pesquisas. No levantamento do Datafolha, divulgado no dia 9 de setembro, ele somou apenas 2% das intenções de votos. Apesar da correria de campanha e do pouco tempo destinado a ela, o advogado aposta em uma reviravolta. "Ainda sou desconhecido para 90% da população, contudo, acredito que, com os debates e com os programas de TV, vamos crescer", diz.

Divorciado, Rodrigo nasceu em Porto Velho (RO), a mais de 3 mil km de Belo Horizonte. Sua passagem pela capital rondoniense, contudo, foi curta. "Meu pai trabalhava no ramo de transportes e, quando eu tinha 1 ano e meio, voltamos para Passos." Lá, como estudante, já se interessava pela política. "Cheguei a ganhar um prêmio na escola por causa de um trabalho sobre os presidenciáveis das primeiras eleições diretas pós-ditadura", afirma. Aos 15 anos chegou à capital mineira. Aqui, cursou direito na PUC Minas. Foi em BH também que teve uma filha, hoje com 9 anos.

Mas a política nunca foi esquecida. "Era um sonho que nutria desde menino, mas que ficou adormecido", diz. De acordo com ele, o tempo em que se dedicou apenas à advocacia (é sócio do escritório Maurício Campos & Pacheco Sociedade de Advogados, fundado há 25 anos) foi importante para conquistar experiência no trato com o direito público. Durante o período no escritório, embarcou várias vezes para Brasília (DF) representando a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), a fim de emitir pareceres sobre projetos de lei. Assim, passou a se familiarizar com o clima do Congresso Nacional. "Pensei: por que não fazer isso desde a origem, ou seja, elaborando projetos de lei?". Foi o gatilho para planejar sua candidatura a deputado federal. Em 2014, foi eleito com mais de 90 mil votos, metade conquistada na região Sul do estado. Agora, o desafio é outro.

"Represento uma novidade, só que responsável", afirma, sobre o pleito de outubro. Entre as características que o credenciariam a assumir a cadeira de prefeito, ele destaca ter inteligência emocional. "Isso, Deus me deu de sobra", diz. Logo no primeiro debate na TV, realizado na Band Minas, ele trocou farpas com Alexandre Kalil, em um dos momentos mais quentes do programa.

Pacheco ressalta que o fato de ser do PMDB, mesmo partido do presidente Michel Temer, poderá ajudá-lo na busca de recursos para antigas promessas da cidade. "O maior problema de BH é a segurança pública", afirma. Caso seja eleito, pretende implementar a experiência de Medelín, na Colômbia, onde os índices de violência reduziram bastante. "Lá, criaram a Unidade de Vida Articulada, que mudou a relação das pessoas com a sua comunidade", diz.

Propostas

Enchentes: fazer com que as diferentes secretarias atuem em conjunto para combater o problema das enchentes, utilizando tecnologias de ponta. Ter um foco maior nas comunidades carentes. Combater diuturnamente a redução das desigualdades em todas as suas dimensões.

Educação: aprimorar a qualidade da educação básica. Usar a tecnologia para buscar aproximação entre a família e a escola, colocando à disposição dos pais e/ou responsáveis informações sobre o desempenho dos alunos. Aumentar o investimento na educação infantil, ampliando vagas para a faixa de zero a 3 anos e garantindo a oferta a todas as crianças de 4 a 5 anos. Equipar as escolas com bibliotecas abertas à comunidade e aprimorar a infraestrutura de informática.

Trânsito e mobilidade urbana: priorizar um projeto de mobilidade que contemple o coletivo, não o individual. Melhorar a qualidade do transporte público para diminuir o tempo
de viagem. Organizar o trânsito, priorizar os pedestres e melhorar a inteligência das ciclovias. Buscar a ampliação do metrô e a construção do monotrilho, cuja implantação é cinco vezes mais barata que o metrô.

Saúde: a cidade já conta com postos de saúde e hospitais. Não precisa, portanto, de grandes obras. Agora, é garantir a excelência no sistema público de saúde, combatendo seus principais problemas, como a falta de médicos e equipamentos, a insegurança nas unidades de saúde e a falta de atendimento integral nas unidades. Ampliar o acesso ágil da população a serviços de qualidade, valorizar o profissional da saúde, melhorar a estrutura das unidades e garantir adequadas condições de trabalho. Garantir o funcionamento integral do Hospital Metropolitano Doutor Célio de Castro, no Barreiro.

Cultura: fazer com que os espaços, como parques e praças, ofereçam atividades culturais. Incentivar a produção artística nos diferentes setores - música, teatro, dança. Manutenção da agenda cultural, com festivais importantes, como teatro, música, gastronomia e dança, além do carnaval. Criar um modelo de gestão que assegure à população o uso dos espaços públicos para atividades culturais, esportivas e de lazer.

Valorização do centro: criação de uma política integrada de segurança cidadã e de renovação urbana. O projeto Prefeitura Integral entende que segurança não é apenas um problema de falta de policiamento, mas que passa pelo planejamento da cidade, tornando-a mais acolhedora e mais iluminada. Possibilitar que o cidadão volte a ocupar o hipercentro. Estudar os índices de violência na região e criar soluções para combatê-la. Ampliar a cobertura de câmeras de vigilância, estudar incentivos fiscais e buscar soluções para diminuir os pontos de maior incidência de violência.

 

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