A posse desses animais gera controvérsias. Para muitos, incentiva a compra de silvestres pela população, aumentando o número de criadouros comerciais ilegais e o contrabando de espécies, algumas já em extinção. "São comuns os casos de agressões às pessoas, conflitos com a vizinhança e fugas de animais mantidos inadequadamente em casas. Nem todos têm aptidão para serem domesticados, contrariando a sua natureza", diz Daniel Vilela, analista ambiental e médico veterinário do Ibama. No Brasil, apenas o estado do Paraná publicou a lista de animais cuja reprodução está autorizada para fins de comercialização para o mercado de pessoa física. Em Minas Gerais, a chamada lista pet não existe, e a venda só pode ser feita por aqueles que já tinham autorização antes da publicação da Instrução Normativa IN 169/2015. Só podem ser adquiridos animais de criadouros autorizados ou cedidos pelas instituições ambientais, caso contrário, a guarda doméstica é ilegal. Contudo, o estado é um dos que mais apreendem fauna silvestre no país, chegando a 30 mil espécimes por ano. "Infelizmente o tráfico é muito intenso."
Mesmo havendo brecha na lei para a posse de animal silvestre, os especialistas orientam que sua humanização não é recomendada. "O mais importante é o proprietário saber que animais silvestres têm hábitos próprios, que precisam ser respeitados", diz a veterinária Marcela Ortiz. Ela explica que é fundamental ter acompanhamento especializado para realizar exames laboratoriais e verificar a necessidade de vermífugos e suplementos, por exemplo. "Nos silvestres, não existe uma tabela de vacinação fixa como para cães e gatos. Variam de acordo com a espécie e região do país." A médica Izabela Godinho é apaixonada por aves, tanto que o casal de papagaios Magrela e Zacarias, de 7 anos, são o seu xodó. "Eles possuem registro, anilha, fizeram exames para identificação do sexo e nunca foram mantidos em gaiola. Como vivem em média 80 anos, tenho consciência de que provavelmente vou deixá-los de herança", brinca.
No Parque Ecológico Vale Verde, o macaco-aranha Carlinhos, de 25 anos, é a sensação. Sua espécie não pode ser comercializada, por isso foi encaminhado pelo Ibama ao local. "Em se tratando de primatas, para evitar que transmitam doenças como raiva, herpes e febre hemorrágica aos humanos, é necessário check-up periódico", diz a veterinária Alessandra Vitelli, responsável pelo instituto. E orienta que criatório legal precisa ter autorização de manejo das espécies emitido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), além da nota fiscal, atestado sanitário feito por veterinário e manual de criação. O veterinário Marcos Mourão, da ONG Asas e Amigos, defende que o convívio entre homens e animais é sempre muito positivo, desde ocorra de forma consciente. "Os benefícios são mútuos e muito gratificantes."
Fique por dentro
- Órgãos de proteção ao meio ambiente: Ibama, Instituto Estadual de Florestas (IEF) e Polícia do Meio Ambiente
- Denúncias e informações sobre animais silvestres: Linha Verde 0800-618080
- Entrega voluntária: o indivíduo que entregar o animal silvestre direto ao Ibama não sofrerá nenhuma penalidade
- Crime ambiental: quem tem animal silvestre em casa está sujeito a apreensão do animal e multa de R$ 500,00 ou R$ 8.970,00 por indivíduo (animais em extinção), e detenção de seis meses a um ano
- Encontrou um animal silvestre? O Ibama recebe todos os espécimes encaminhados
Fonte: Ibama