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Estado de Minas KIDS | LIVROS

Literatura infantil pode ajudar as crianças a lidar com a vida

Mas é importante oferecer obras de qualidade e dar liberdade aos pequenos


postado em 11/12/2018 16:29 / atualizado em 12/12/2018 13:13

Cora Pavanelli com o pai, Lucas Pavanelli, em frente à Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, onde pegam livros emprestados:
Cora Pavanelli com o pai, Lucas Pavanelli, em frente à Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, onde pegam livros emprestados: "A literatura, no caso das crianças, tem um impacto grande, porque pode servir de base para situações que elas vivem no dia a dia", diz o pai (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Medo de escuro, momento do desfralde, raiva porque o coleguinha pegou seu brinquedo preferido, luto pela perda de um familiar querido. Em situações difíceis pelas quais passam - e deixam os pais com o coração apertado -, crianças podem ter um aliado dos mais especiais: a literatura. Contos tradicionais, historinhas bem-humoradas, poemas, narrativas profundas… O mercado da literatura infantil é amplo e oferece livros os mais diversos, muitos com temáticas ou conteúdos que podem se relacionar com o contexto dos pequenos e ser uma ferramenta valiosa, além de gancho para uma conversa sobre aqueles temas mais complicados.

"A literatura infantil é importante para a criança do ponto de vista da construção subjetiva", afirma a psicóloga e psicanalista Alice Oliveira Rezende. "A partir dela, a criança recolhe elementos simbólicos para construir uma identidade e uma narrativa próprias", diz. Em relação aos medos, por exemplo, que são uma experiência própria da infância, a especialista explica que é comum as crianças se apoiarem em personagens da ficção e personificarem aquele medo em um vilão. "Mas esse não é um processo passivo, ao contrário. Ele ajuda a criança a se organizar no mundo, a compreender o perigo, o mal, onde ela está segura, até onde ela pode ir, etc.", explica.

No caso do luto, Alice diz que, se a criança passa por uma experiência dessas muito particular, os pais devem contar a história da pessoa que faleceu, mas também oferecer outras histórias - entre elas, as literárias - para os filhos. "Isso no intuito de a criança conseguir elaborar o que está acontecendo na própria vida", diz.

A professora da Faculdade de Educação da UFMG Mônica Correia Baptista, pesquisadora de educação infantil, concorda que, por meio da fantasia, a literatura faz emergir sentimentos e dá a oportunidade de se conhecer diversas experiências. Afirma, ainda, que é um equívoco achar que, se o lobo mau, por exemplo, é agressivo, a criança se tornará agressiva por isso. "Precisamos expurgar os sentimentos que existem dentro de nós, fazer emergir sentimentos, e a literatura faz isso justamente por meio da fantasia", explica.

A especialista lembra, no entanto, que a literatura não tem a função de ensinar, apesar de esse processo ocorrer durante a leitura. E que, se o livro for fraco, com um texto pouco inteligente, ilustrações bobas, pouca preocupação estética, ele será chato e rapidamente abandonado, além de não contribuir para a formação daquela criança como leitora. "Pode haver um livro chato e didatizado, e outro que trata da mesma temática, algum assunto muito presente no universo infantil, mas com uma perspectiva altamente literária, poética", explica. Para ela, o importante é escolher livros cujo texto seja inteligente, que considere o leitor um sujeito inteligente e que trabalhe na perspectiva da arte. Assim, vai perdurar.

A pequena Cora Garcia Abreu Pavanelli, de 5 anos, é filha de leitores assíduos e ela mesma já adquiriu o hábito, inclusive pega emprestados livros na biblioteca pública com sua recém-adquirida carteirinha. Seu pai, Lucas Pavanelli, conta que após a filha ter lido o livro O Cabelo de Cora, sobre uma menina negra que tem cabelo enrolado e sofre com isso na escola, ela mesma, que tem o cabelo volumoso e encaracolado, se identificou, de certa forma, com a personagem. "No final ela já puxava o assunto por conta própria para comentar que não tem problema cada um ter um cabelo diferente, que estava tudo bem assim", lembra Lucas. "A literatura, no caso das crianças, tem um impacto grande, porque pode servir de base para situações que elas vivem no dia a dia. A partir do momento em que ela tem contato com uma história que fala da importância e beleza das pessoas e suas diferenças, acho que ela tem maturidade para lidar com algum comentário negativo que receba, por exemplo, além de exercer mais empatia com outras crianças que também são diferentes dela."

Para fugir da autoajuda para crianças e ainda assim dar aos pequenos a chance de se identificar com a história, construir emoções e conhecer novas experiências, as dicas são procurar livros de editoras com trabalho sério no segmento infantojuvenil, autores conceituados e premiados, sem se esquecer dos contos clássicos, é claro.

Conheça algumas obras ideiais para os pequeninos (clique no canto superior direito da imagem para ampliar)

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