Clara conta que buscou um profissional que já conhecia, formado em psicologia, mas que atuava no mercado há algum tempo. O passo inicial foi avaliarem juntos se ela deveria mesmo mudar para a arquitetura, que é sua formação original. "Cheguei à conclusão de que realmente gostava de eventos, e a questão, na verdade, era outra: ser funcionária ou ter minha própria empresa", diz. Após o diagnóstico inicial, o processo passou a ser bem focado, com perguntas e respostas, pesquisas e metas a serem cumpridas ao longo das sessões. Dois meses de coaching e Clara estava decidida: iria abrir seu próprio negócio. No final daquele ano de 2014, já estava com a papelada toda pronta e, no janeiro seguinte, tornou-se empresária. "O coach teve essa função de me abrir o horizonte e me mostrar que era possível empreender, porque não é fácil a vida de microempreendedor neste país", afirma. "Mas vi que eu era capaz."
A experiência da empresária é um exemplo de como deve ser o coaching, segundo os especialistas: um processo rápido, que tenha objetivos específicos, plano de ação, uso de metodologias e ferramentas específicas, visando aumento da performance, soluções de problemas e alcance de objetivos. Mas, o que se vê por aí nem sempre é assim. Isso porque a atividade, que não tem regulamentação nem exige formação, teve um boom na última década e surgiram profissionais atuando com as mais variadas propostas, todas sob o guarda-chuva do "coaching". Segundo a Associação Brasileira dos Profissionais de Coaching (Abrapcoaching), não é possível saber o número de pessoas atuando na área no país, justamente pela falta de regulamentação. "Preferimos citar os dados do International Coaching Federation, que tinha, em sua última estimativa, de 2016, 53.300 coaches no mundo e 4 mil na América Latina, sendo o Brasil um dos mercados com maior crescimento", diz a diretora Erika Rossi.
O psicólogo e coach Ghoeber Morales, que atua há dezesseis anos, diz que o principal problema, atualmente, é que há coaches atendendo demandas para as quais esse processo não é adequado, como depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, ansiedade. "Há, inclusive, um preconceito em razão dos resultados que maus profissionais têm entregado", afirma. Ghoeber explica que o coaching é um processo de desenvolvimento pessoal e profissional voltado para quem deseja aprimorar uma parte da vida, atingir objetivos. "Ele é para casos específicos. Se, em relação àquele problema da pessoa, não cabe essa atuação, o processo pode até ser danoso para ela", afirma. Segundo Ghoeber, no coaching a intenção é que o cliente vá se aproximando do objetivo a cada sessão. Se isso não acontece - pois o método não se aplica ao caso dela -, o processo pode até desestabilizar o cliente e piorar seu quadro.
Assim, além de pesquisar sobre o tema para saber se o serviço de um coach é algo que se aplica ao seu caso, a dica é investir tempo em procurar um profissional sério e com boa formação. Com esse perfil, o coach vai redirecionar a pessoa a outro tipo de atendimento, se for o caso. "Existem muitas formações disponíveis, e o cliente deve procurar saber onde estudou e se essa formação é mesmo consistente", explica a life coach Carol Rache. "Além disso, é preciso empatia e confiança. Escolha alguém em quem confie e desconfie de processos que atropelem seus valores pessoais."
Outra propaganda que atrai clientes de forma enganosa é a proposta de soluções milagrosas. "O coach não dita o que o cliente deve fazer, não dá respostas. O seu papel é trazer ao cliente consciência, para que ele aprenda a responder as próprias perguntas", diz Carol. O processo, assim, pode ser difícil e trabalhoso - e nem sempre o cliente chega ao objetivo. "É preciso deixar claro desde o início que o papel do coach é diminuir a distância entre onde ele está e onde gostaria de chegar, o que não significa, sempre, que o objetivo final será atingido", lembra Ghoeber. "O comprometimento é essencial, e este depende de o cliente ter um objetivo que ele deseja muito, pelo qual está disposto a trabalhar", completa.
A fotógrafa e estudante de administração Clara Carvalho Rios conheceu a ideia do coaching e achou, à época, que seu "ficante" se beneficiaria muito desse trabalho - e, consequentemente, a relação dos dois. Quando conversou com uma coach sobre isso, a profissional comentou que talvez Clara devesse pensar em fazer o processo. "Então eu resolvi fazer", conta Clara. "Trabalhamos a habilidade de falar ‘não’ e vimos como eu repetia padrões em vários relacionamentos. Isso virou uma chave na minha vida", explica. No aspecto pessoal, terminou essa relação que queria salvar. Contudo, depois, deu uma chance a um pretendente que tinha um padrão bem diverso daquele que ela costumava procurar nos homens, o chinês Ruotian Chen. Hoje, Clara está noiva dele.
Fuja dos charlatões
Por ser uma profissão não regulamentada, é preciso estar atento aos serviços oferecidos e aos profissionais que existem no mercado.
Veja algumas dicas:
- Pesquise a formação do profissional (se a instituição é séria, qual a carga horária, qual é a formação dentro da área de coaching) e outros cursos que tenha feito
- Desconfie das ofertas. O coach deve praticar o valor médio de mercado
- Busque referências com clientes antigos e profissionais de outras áreas
- O processo padrão de coaching não é longo, dura alguns meses (ao contrário de psicoterapia e outros tipos de serviço de desenvolvimento pessoal)
- Corra de soluções milagrosas e garantia de resultados
- No caso de Business Executive Coaching, é interessante o profissional ter vivência %u2028executiva e já ter trabalhado com organizações e pessoas
- Saiba que nem todo problema, busca pessoal ou dificuldade é trabalho para um coach