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Estado de Minas SAÚDE

Falta de contato com a natureza pode trazer consequências graves para as crianças

Os pequenos precisam de brincadeiras ao ar livre, diariamente, para bom desenvolvimento físico, neurológico e social


postado em 22/10/2019 16:57 / atualizado em 22/10/2019 17:25

A empresária e professora de ioga Simone Las Casas, com Yuri, de 1 ano: após o contato com o campo, o menino fica calmo, relaxado e até cochila melhor(foto: Arquivo pessoal)
A empresária e professora de ioga Simone Las Casas, com Yuri, de 1 ano: após o contato com o campo, o menino fica calmo, relaxado e até cochila melhor (foto: Arquivo pessoal)
É comum associar crianças a um cenário de natureza, brincando, livres, sujas de terra, subindo em árvores. Mas é mais uma lembrança nostálgica do que uma realidade das cidades grandes. A falta de segurança, a popularização dos smartphones e tablets, entre outros motivos, têm levado os pequenos a ficar cada vez mais tempo dentro de casa, vendo vídeos, entretendo-se com jogos eletrônicos ou brincando em playgrounds de condomínios e brinquedos de shoppings, em vez de explorar ambientes abertos e com natureza. Perdem, assim, algumas oportunidades que permitem o desenvolvimento pleno, e que telas e ambientes artificiais não substituem.

A questão é tão grave que a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou, neste ano, um manual de orientação para médicos, pais e pacientes sobre os benefícios da natureza no desenvolvimento de crianças e adolescentes. "A criança precisa de múltiplos estímulos para desenvolver habilidades diversas", diz Liubiana Arantes de Araújo, vice-presidente do departamento científico de comportamento e desenvolvimento da Sociedade Mineira de Pediatria. "Em parques, praças e ambientes ao ar livre, ela consegue acesso a vários dos elementos necessários no processo." A pediatra explica que brincadeiras são parte essencial do desenvolvimento infantil e, nesses espaços, a criança tem estímulos visuais e auditivos, treina o equilíbrio (correndo no terreno irregular), pratica a coordenação motora grossa e fina ao explorar as folhas, pedras, gravetos, vê-se frente a desafios quando tenta subir em árvores, convive com outras crianças, realiza trabalho cardiovascular que favorece a saúde do coração no longo prazo, fortalece músculos e ossos, recebe vitamina D, entre vários outros benefícios. "Além da questão física, com os estímulos adequados, a criança desenvolve diversas habilidades que são necessárias a aprendizados mais complexos do futuro", diz Liubiana.

Os empresários Fábio Castro e Maria Letícia Nunes, com o filho Pedro, de 10 anos: casa em Macacos é cercada por árvores e recebe a visita de micos(foto: Violeta Andrada/Encontro)
Os empresários Fábio Castro e Maria Letícia Nunes, com o filho Pedro, de 10 anos: casa em Macacos é cercada por árvores e recebe a visita de micos (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Se os ganhos são tão evidentes, fica fácil argumentar com os pais a importância desses momentos. O difícil é incluir "tempo ao ar livre" diariamente, por pelo menos uma hora, na rotina - como é o recomendado. A professora e educadora parental Ângela Corrêa faz questão de passear com os filhos Lucas, de 5 anos, e Catarina, de 2, em parques e praças. Ao menos duas vezes por semana, pela manhã, ela faz programas ao ar livre perto de casa com os pequenos. No fim de semana, tenta sempre tirar um tempo para ir a espaços mais distantes, como Serra do Curral e Parque das Mangabeiras. "Deixo os meninos explorarem, ficarem descalços, colocarem a mão na terra. Lucas traz para casa folhas, gravetos e pedras que pega pelo caminho, e Catarina está aprendendo com ele", diz. O gosto pela natureza e pela exploração virou até tema da festa de aniversário de Lucas, que comemorou com 10 coleguinhas no Horto Florestal, com direito a caminhada na trilha e kit explorador (com mochila, bloquinho, lupa, lanterna) para os convidados. "Muitos moram na região e não conheciam o lugar", conta Ângela.

A empresária e professora de ioga Simone Las Casas também faz questão de que seu filho Yuri, de 1 ano e 1 mês, sinta-se à vontade com a natureza. "Eu preciso do contato com a natureza para me re-equilibrar, então, desde que ele tinha dois meses, vai comigo para o sítio, em Rio Acima", conta. Primeiro, ele ficava no moisés com mosquiteiro, apenas deitadinho. Depois, foi de carrinho para algumas caminhadas curtas em parques e, desde os oito meses, vai na mochila-canguru para caminhadas mais longas. "Fomos para a Lapinha da Serra e fizemos todas as trilhas, de duas, até três horas, com ele", explica. Quanto aos efeitos da natureza no filho, ela conta que percebe Yuri atento e distraído com os sons e estímulos visuais (sem que sejam "superestímulos", como na cidade ou até nas telas), e ao mesmo tempo, calmo, relaxado, sendo que até cochila melhor.

A professara Ângela Corrêa, com o marido, Ítalo Santiago, e os filhos, Lucas e Catarina, no Horto Florestal: festa no parque(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
A professara Ângela Corrêa, com o marido, Ítalo Santiago, e os filhos, Lucas e Catarina, no Horto Florestal: festa no parque (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Outro benefício citado no manual é a formação dos pequenos como cidadãos conscientes. E esta é uma grande preocupação dos empresários Maria Letícia Leite Nunes e Fábio Leite de Castro, que moram com o filho Pedro, de 10 anos, em Macacos. A casa da família é cheia de árvores no entorno e com micos que entram pela janela para roubar bananas, mas que aparecem cada vez menos, desde a exploração da região por mineradoras e da tragédia em Brumadinho. "Além da questão do desenvolvimento físico, tem sido importante para sua formação em termos de responsabilidade ambiental, de consciência do valor da natureza em nossa vida", diz Maria Letícia. "Aqui, ele tem nosso exemplo, com a natureza do entorno, e também com atitudes como compostagem do lixo orgânico, coleta do lixo reciclável. Ele respeita a natureza e valoriza muito o lugar onde mora."

Como colocar a natureza na rotina das crianças

  • Se possível, inclua idas a praças e parques no dia a dia
  • Priorize passeios ao ar livre no fim de semana e férias em áreas naturais

  • Monte um kit para levar nesses roteiros: papelão para descer barrancos, comidinhas para piquenique, bola ou frisbee, lupas para investigar pequenos animais e plantas

  • Faça alguns trajetos do dia a pé. Todo passeio conta e pode ser fonte de curiosidade e exploração

  • Vá (a pé) ao sacolão, mercado, padaria, e aproveite para apresentar alimentos saudáveis para os filhos

  • Tenha pets e permita que a criança cultive plantas

  • Encoraje seus filhos a interagir com o ambiente natural em todas as condições climáticas, inclusive chuva (vestidos de forma apropriada)

  • Conte experiências de sua própria infância, compartilhe brincadeiras de sua época, brinque junto

  • Dê preferência a escolas que promovam atividades e projetos ao ar livre e ambientalmente responsáveis

Benefícios de experiências ao ar livre para as crianças

  • Melhora o controle de doenças crônicas como diabetes, asma, obesidade

  • Diminui o risco de dependência ao álcool e a outras drogas

  • Favorece o desenvolvimento neuropsicomotor

  • Reduz problemas de comportamento

  • Proporciona bem-estar mental

  • Equilibra os níveis de vitamina D

  • Diminui o número de visitas ao médico

  • Fomenta a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança, a capacidade de escolha, de tomar decisões e resolver problemas

Consequências da ausência de contato das crianças com a natureza

  • Obesidade

  • Sedentarismo

  • Hiperatividade

  • Baixa motricidade

  • Falta de equilíbrio, agilidade e habilidade física

  • Miopia

  • Aumento de equivalentes depressivos, ansiedade e transtornos de sono

Fonte: Manual de Orientação Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes, da Sociedade Brasileira de Pediatria

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