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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Mesmo na era digital, algumas papelarias ainda fazem sucesso em BH

O papel ainda possui espaço em ocasiões especiais, como presentear pessoas queridas, enviar belos postais e guardar memórias em um caderno artesanal


postado em 22/10/2019 14:28

Danielle Buldrini ama itens de papelaria e tem sempre em casa, no escritório e na bolsa caderninhos, blocos, agendas:
Danielle Buldrini ama itens de papelaria e tem sempre em casa, no escritório e na bolsa caderninhos, blocos, agendas: "Dou muito valor a isso, adoro passear em papelarias, conhecer lojas quando viajo, escolher cartões lindos" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
A fisioterapeuta Danielle Buldrini sempre cultivou o hábito de enviar postais. Ela, que já morou em várias cidades, fazia questão de manter contato e vínculo com amigos e parentes de BH. Desenvolveu, então, essa prática. "Dou muito valor a isso, adoro passear em papelarias, conhecer lojas quando viajo, escolher cartões lindos", diz. Também adquiriu o hábito, comum em outras cidades do mundo, de colocar cartões em presentes a serem oferecidos e a trocar cartões de Natal. E quem gosta de itens de papelaria sabe: é impossível sair de uma apenas com um produto. Danielle, por exemplo, tem em casa e no escritório caderninhos, blocos, agenda, essas coisas que podem ser consideradas superadas pela tecnologia, mas que ainda têm espaço na rotina e na casa de quem valoriza a palavra escrita à mão.

Na Libretto, os campões de venda são os cadernos da linha retrô, em formato de fita K7 ou VHS(foto: Libretto/Divulgação)
Na Libretto, os campões de venda são os cadernos da linha retrô, em formato de fita K7 ou VHS (foto: Libretto/Divulgação)
O designer e artista gráfico Flávio Vignoli, dono da Papelaria Mercado Novo e da Tipografia do Zé, percebe dois movimentos nessa tendência da papelaria especial. O primeiro tem a ver com a dinâmica do texto escrito à mão. "Algumas pessoas acabam tendo essa necessidade mais tátil, sensorial. Quando se escreve à mão, a experiência é outra, a forma de pensar, de organizar o pensamento, é diferente", diz. "Vejo pessoas interessadas na textura do papel, na gramatura, que comentam como é gostoso escrever em determinado produto", diz. O segundo é relativo a um contraponto ao mundo virtual. "Há quem continue interessado e atento a esse ambiente."

Apesar de muito da utilidade de agendas, cadernos e cartões ter se transferido para o celular, a marca mineira Libretto tem visto um crescimento na procura por seus produtos, dentro de um movimento mais amplo de interesse pela produção artesanal. "De aproximadamente quatro anos para cá, vimos crescer um público variado que se interessa por produtos feitos à mão (e principalmente pela possibilidade de ter um produto único e personalizado), além de um interesse cada vez maior em fazer uma compra que estimule o comércio local e a economia do entorno", diz Luiz Rugero Marcatto do Carmo, criador e diretor executivo.

Na Fiapo, estão entre os preferidos os diários de couro com folhas envelhecidas(foto: Fiapo/Divulgação)
Na Fiapo, estão entre os preferidos os diários de couro com folhas envelhecidas (foto: Fiapo/Divulgação)
O diferencial das papelarias especiais envolve produtos feitos de forma manual, com designs exclusivos e o cuidado típico das marcas pequenas, mas também a variedade de propósitos. O simples caderninho é apenas um dos itens do leque que inclui planners, bullet journals, scrapbooks, diários de viagem, cadernos de receita, entre outras propostas charmosas. Na Libretto, por exemplo, os planners fazem sucesso (são como agendas, mas sem datas), e também o álbum adventure book. "Inspirado no livro utilizado pelo casal da animação Up: Altas Aventuras, ele é um scrapbook de capa dura com folhas mais grossas para a pessoa fazer dele um grande livro de memórias, colando fotos, tiquetes e tudo que ela trouxer de importante de suas viagens", explica Rafaella Queiroz Abreu e Silva, criadora e diretora executiva.

O artista gráfico Flávio Vignoli, dono da Papelaria Mercado Novo e da Tipografia do Zé:
O artista gráfico Flávio Vignoli, dono da Papelaria Mercado Novo e da Tipografia do Zé: "Quando se escreve à mão, a experiência é outra; a forma de organizar o pensamento é diferente" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Na Fiapo, marca mineira cujo carro-chefe são os diários de couro com folhas envelhecidas, muitos dos produtos também são comprados por clientes que querem presentear. "Outros compram porque são apaixonados por cadernos e acabam que nem escrevem neles, deixam guardados", diz a diretora Isabela Mendes Lourenço Campelo.

Como são normalmente marcas pequenas e locais, as vendas se dão por e-commerce e, às vezes, em lojas próprias. Também tem havido com alguma regularidade feiras de impressões e editoras independentes, de economia criativa, em que os produtores expõem, além de espaço em lojas colaborativas e de curadoria especial. Para Vignoli, os preços mais altos do que de papelaria regular ainda afastam alguns clientes e algumas marcas estão lutando pela sobrevivência em um mercado difícil. "Ter uma papelaria é uma provocação nesse mundo em que todo mundo quer um iPad", diz. Para guardar, registrar os pensamentos, os afazeres ou votos de felicidades para os queridos, o papel ainda pode ter seu lugar.

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