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Estado de Minas CIDADE

Número cada vez maior de motos é desafio para o trânsito de Belo Horizonte

A quantidade de motocicletas nas ruas da capital saltou 60% nos últimos 10 anos. Motoristas de automóveis se queixam de abusos e BHTrans aposta na conscientização para deixar a convivência mais pacífica. Será que é possível?


postado em 21/01/2020 16:52 / atualizado em 27/01/2020 14:22

Mais motos na capital: para BHTrans, regulamentar os moto entregadores e capacitá-los para circular são saídas para melhorar a convivência no trânsito(foto: Violeta Andrada/Encontro)
Mais motos na capital: para BHTrans, regulamentar os moto entregadores e capacitá-los para circular são saídas para melhorar a convivência no trânsito (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Bibi!, bibi!, bibi! Quem trafega por Belo Horizonte certamente já ouviu esse barulho irritante nos corredores que se formam ao lado dos automóveis. E basta parar no semáforo para avistar a fila de motos serpenteando entre os veículos. A impressão de que o número de motociclistas na cidade explodiu recentemente é corroborada pelos números. Segundo a BHTrans, empresa que gerencia o trânsito da cidade, nos últimos dez anos o número de motos na capital mineira saltou quase 60%. Pelo menos 10% da frota total de BH é de motos. "Esse tema é um dos nossos principais desafios para os próximos anos", diz José Carlos Mendanha, diretor do sistema viário da BHTrans.

Um dos "culpados" pela multiplicação das motos são os aplicativos de delivery. O motociclista Marcos Felipe Rodrigues, de 22 anos, trabalha há seis meses em um vaivém frenético como entregador de um desses apps. De acordo com ele, a opção é bem interessante, pois possibilita maior flexibilidade de horário. Mas, isso não significa que a convivência no trânsito seja pacífica. "Muitos carros usam duas faixas ao mesmo tempo", diz. "Sem contar que alguns vivem fechando a gente." Do outro lado, a reclamações são as de sempre. "Eles são abusados. Ultrapassam pela direita e ficam buzinando entre os carros", disse para a reportagem de Encontro um motorista que transporta passageiros via outro app, mas que preferiu não se identificar.

De acordo com José Carlos, a BHTrans já vem implementando ações para melhorar a convivência entre motociclistas e quem está ao volante dos demais veículos na cidade. É o caso, por exemplo, das faixas chamadas de "Motoboxes", localizadas próximo aos semáforos, entre a faixa de pedestre e a linha de retenção dos demais veículos. José Carlos afirma que o projeto implantado em 2016 vem ajudando a diminuir o número de acidentes, uma vez que as motos "largam" na frente quando o sinal fica verde. A ideia foi inspirada em São Paulo, Madri e Barcelona. Outra iniciativa, mas ainda em estudo, é obrigar motociclistas, no Anel Rodoviário, a circularem somente pela marginal da via, quando houver.

Motociclista Marcos Felipe Rodrigues:
Motociclista Marcos Felipe Rodrigues: "Muitos veículos usam duas faixas ao mesmo tempo. Sem contar que alguns vivem fechando a gente" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Na última década, de acordo com a BHTrans, o número de acidentes envolvendo motos caiu 15%. A queda de 2017 para 2018, entretanto, foi de apenas 0,7%. Os motociclistas se arriscam bem mais e representam 37,2% das vítimas fatais do trânsito. Luiz Cláudio, de 28 anos, atende a dois aplicativos de delivery. Segundo ele, além do trânsito, o entregador deve prestar atenção à tela do smartphone e ainda ser ágil para não ganhar nota baixa do cliente. Ingredientes para deixar qualquer motociclista estressado. "Já presenciei algumas brigas nas ruas", diz.

Uma das apostas da BHTrans para apaziguar os ânimos em 2020 é no credenciamento de motociclistas pela empresa. Os motofretistas são submetidos a treinamento antes de receber licenciamento do Detran-MG - e passam a usar placa vermelha. Segundo a BHTrans, cerca de 45 mil pessoas utilizam motocicletas para realizar entregas na cidade. Apenas 7,2 mil, no entanto, são motofretistas. "Em 2020, vamos abrir mais vagas para motociclistas que quiserem se credenciar", avisa José Carlos Mendanha. O custo de se credenciar afasta os profissionais. O trâmite sai por 1.250 reais. "Por isso, estamos abertos a parcerias, inclusive, com os próprios aplicativos que terão a possibilidade de pagar esse valor para os motociclistas", afirma. A tendência é que tenhamos um número cada vez maior de motociclistas na cidade. A torcida, portanto, é que, na mesma proporção, tenhamos também motociclistas e motoristas mais conscientes. Assim, todo mundo ganha.

Raio-x do trânsito de BH

Frota

  • Frota total: 2,2 milhões de veículos

  • Motos: 235 mil

  • Motociclistas que fazem entregas: 45 mil

  • Motofretistas regularizados: 7,3 mil

Mortos no trânsito

  • Pedestres: 40,7%

  • Motociclistas: 37,2%

  • Motoristas: 10,6%

  • Passageiros: 8%

  • Ciclistas: 3,5%

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