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Estado de Minas ESPECIAL NOVO CORONAVÍRUS

Será que o Brasil ficará mais solidário pós-coronavírus?

Pandemia escancarou necessidade de distribuição de riquezas e ajuda aos mais carentes. Essa é uma lição que não pode ser esquecida


postado em 12/06/2020 13:42 / atualizado em 22/06/2020 23:16

O empresário Rubens Menin:
O empresário Rubens Menin: "A população não pode suportar mais perdas e é inevitável pensarmos agora em formas de viabilizar uma maior desconcentração, distribuição de renda" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
O empresário Rubens Menin, fundador da MRV Engenharia, Banco Inter e Log Commercial Properties, lembra bem como os governos agiram para mitigar os efeitos da crise de 2008: injeção de dinheiro (muito dinheiro) em grandes empresas. Essa medida teve como efeito colateral indesejado uma concentração de renda ainda maior no "andar de cima”, a parcela mais abastada da população. "O andar de baixo não usufruiu os benefícios dessa ajuda”, conta.
 
Com a atual crise, as lições aprendidas no início deste século precisam ser aplicadas. "A população não pode suportar mais perdas e é inevitável pensarmos agora em formas de viabilizar uma maior desconcentração, distribuição de renda.” Menin é um entusiasta da filantropia e tem se dedicado a "chacoalhar a turma que tem condições e doa muito pouco”, como diz. Para isso, não se furta em divulgar sua meta pessoal de doar 10 milhões de reais por ano para projetos de filantropia. Isso antes da crise causada pelo novo coronavírus.
 
Presidente da construtora Patrimar, Alex Veiga liderou uma campanha que arrecadou 3 milhões de reais em três dias:
Presidente da construtora Patrimar, Alex Veiga liderou uma campanha que arrecadou 3 milhões de reais em três dias: "A desigualdade social não faz bem para ninguém. Não tenho a menor dúvida de que, do ponto de vista da solidariedade, sairemos desta um país melhor" (foto: Samuel Gê/Encontro)
Depois que a Covid-19 se espalhou pelo mundo, a família Menin e as empresas controladas por ela doaram mais de 18 milhões de reais para diversas iniciativas, como a compra de cestas básicas e EPIs (equipamentos de proteção individuais), reforma de hospitais e incentivo a pequenos negócios. "No pós-Covid, o Brasil certamente será mais fraterno”, afirma. "Essa talvez seja a limonada a ser feita com esses limões.”
 
Em um país com imensas carências, que ficaram ainda mais evidentes com a pandemia do novo coronavírus, a filantropia ainda é tímida. De acordo com relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o investimento social privado equivale a 0,2% do PIB. Nos Estados Unidos, por exemplo, o montante equivale a 2% do PIB. Mas esse panorama pode começar a mudar. O mineiro Gerson Pacheco, diretor da ONG Child Fund, acredita que este momento irá produzir um choque de compaixão e empatia nas pessoas, de todas as classes sociais. "Há três eventos que mexem com a solidariedade de maneira extraordinária: guerras, catástrofes naturais e pandemias”, diz.
 
O cineasta Vinícius Gomes lançou a campanha #fécura, cujo vídeo institucional foi inspirado no filme A Vida É Bela:
O cineasta Vinícius Gomes lançou a campanha #fécura, cujo vídeo institucional foi inspirado no filme A Vida É Bela: "A doença deu visibilidade a um traço do ser humano que é a disposição para estender a mão a quem precisa" (foto: Divulgação)
Entre esses, as pandemias são as que têm mais impacto, porque afetam todas as pessoas com a mesma intensidade. "Nunca vimos tantos milionários e bilionários doando tanto. As pessoas estão se colocando no lugar do outro e isso tem um significado tremendo.” Além da proteção contra o vírus, Gerson se preocupa agora com o aumento da pobreza no país. O Brasil tem cerca de 13,5 milhões de pessoas na faixa de extrema pobreza, segundo o IBGE. Com a crise econômica causada pelo novo coronavírus, esse número deve passar para 20 milhões, segundo Gerson. "A solidariedade será ainda mais necessária.”

Toda crise gera oportunidades, costuma falar o empresário Ricardo Guimarães, presidente do conselho do banco BMG. "No caso da crise do novo coronavírus, essa oportunidade pode ser a mobilização em torno da ajuda ao próximo”, diz. O BMG e seus acionistas doaram 4,5 milhões de reais para quatro iniciativas solidárias lideradas pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg); Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG); e ONG Gerando Falcões; além do Fundo de Assistência Social do Estado de São Paulo. As iniciativas eram voltadas ao reforço da rede hospitalar e para fornecer alimentos e itens de necessidade básica para famílias em situação social vulnerável. A ajuda liderada pelo Sinduscon-MG chamou atenção pela agilidade.
 
Presidente da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador, Daniel Borja realizou live no Youtube em que arrecadou 200 mil reais com leilão de coberturas:
Presidente da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador, Daniel Borja realizou live no Youtube em que arrecadou 200 mil reais com leilão de coberturas: "A participação de amigos e parceiros superou as expectativas" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
O presidente da construtora Patrimar, Alex Veiga, escreveu uma mensagem de Whatsapp, chamando seus pares para arregaçar as mangas e a enviou para seus contatos. Em três dias, arrecadou mais de 3 milhões de reais. "A desigualdade social não faz bem para ninguém”, diz. "Não tenho a menor dúvida de que, do pon- to de vista da solidariedade, sairemos desta um país melhor.” 
 
Há quem viu nas lives das redes sociais, que pipocaram nos tempos de quarentena, uma oportunidade de levar informação, diversão e ainda arrecadar. A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) reuniu seu presidente, Daniel Borja, a apresentadora Fernanda Hamacek e o comentarista Sandro Fusca, além das duplas sertanejas Clayton & Romário e Rick & Nogueira, para uma tarde de música e bate-papo.
 
Toda crise gera oportunidades, costuma dizer o empresário Ricardo Guimarães, presidente do conselho do BMG:
Toda crise gera oportunidades, costuma dizer o empresário Ricardo Guimarães, presidente do conselho do BMG: "No caso da crise do novo coronavírus, essa oportunidade pode ser a mobilização em torno da ajuda ao próximo" (foto: Alexandre Rezende/Encontro)
Só com o leilão de coberturas, arrecadou mais de 200 mil reais. "Nesse momento difícil que a sociedade enfrenta, poder contribuir é gratificante”, diz Daniel. "E a participação de amigos e parceiros superou as expectativas, o que nos animou bastante.”
 
A solidariedade não foi vista apenas em quem se dedicou a assinar um cheque. Houve quem doasse parte de seu tempo para mandar mensagens de otimismo àqueles que se viram hospitalizados no meio da pandemia. No final de abril, o cineasta mineiro Vinicius Gomes lançou a campanha #fécura, que convidava pessoas a gravar vídeos inspiradores e publicar em suas redes sociais.

Gerson Pacheco, diretor da Child Fund:
Gerson Pacheco, diretor da Child Fund: "Há três eventos que mexem com a solidariedade de maneira extraordinária: guerras, catástrofes naturais e pandemias" (foto: Uarlen Valério/Encontro)
Em poucos dias, centenas de postagens usaram a hashtag. Esses vídeos poderiam ser assistidos por quem estivesse internado ou se recuperando em casa. Vinicius conta que se inspirou em uma cena do filme A Vida É Bela, do italiano Roberto Begnini, que em meio a um campo de concentração nazista invade a sala de som para mandar uma mensagem a sua mulher, que está em um alojamento próximo.
 
O vídeo institucional inspirado no longa, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1999, contou com a música original de Nicola Piovani. "Tanto Begnini quanto Piovani aprovaram o uso”, conta, satisfeito, Vinicius. Para ele, o coronavírus mostrou que o ser humano é, apesar de muitas demonstrações em contrário, solidário. "A doença deu visibilidade a um traço do ser humano que é a disposição para estender a mão a quem precisa.” Que essa mão continue estendida por um longo tempo. 

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