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Estado de Minas LITERATURA

Quarentena desperta autores para o projeto de publicar livros

De crônicas a romances em série, obras estão sendo desengavetadas durante o período de distanciamento social


postado em 18/03/2021 15:20

Karinna Pimenta, com os filhos Cassiano e Benício, acaba de lançar A Caçada de Goya:
Karinna Pimenta, com os filhos Cassiano e Benício, acaba de lançar A Caçada de Goya: "Escrevi tendo eles como inspiração, pensando na adolescência dos meninos" (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Plantar uma árvore, escrever um livro... O velho ditado nunca esteve tão na moda. Ideias borbulhantes e o desejo de publicar uma história, um poema, ou quem sabe as próprias memórias, ganharam forma na quarentena, período em que muitos escritores ou aspirantes ao árduo ofício encararam o desafio de tirar projetos da gaveta ou criaram coragem para seguir em frente com um trabalho já iniciado.  As aventuras de um adolescente em uma terra mágica, um romance que andava há muito tempo povoando a memória, uma ideia para contagiar a meninada, poesias, contos... Os temas são muitos. E a boa notícia é que as possibilidades, também. Além do caminho das editoras tradicionais, geralmente mais longo e competitivo, o mercado conta com o segmento independente, que abre as portas para o sonho de quem quer ver sua obra tomar forma. Os dois caminhos levam a essa primeira etapa que seria a materialização da ideia: ver o manuscrito transformado em um livro.

Em 2020, esse caminho da escrita foi percorrido com disciplina e prazer pelo escritor iniciante Henrique German. Ele chegou a publicar cinco livros em um ano. Isso mesmo, um recorde.  "Comecei a escrever e não parei mais", lembra Henrique. Ao se aposentar depois de uma longa carreira pública, Henrique descobriu o mundo da arte e da literatura. Ele não sabe dizer ao certo como as palavras nasceram de forma tão fértil e passaram a preencher páginas e páginas em branco, mas se lembra que tudo começou quando escreveu um primeiro texto dedicado a sua família. Estava ali a semente de seu primeiro livro. Depois vieram os outros, de contos, um romance, livros infantis... As obras tiveram projeto gráfico e ilustrações caprichadas, assim como lives de lançamento. Henrique está gostando tanto da experiência que considera ter iniciado um novo ciclo em sua vida com a produção literária. "Escrever foi uma libertação para mim", diz. À princípio, sua expectativa ao escrever era responder a uma necessidade própria. Agora, como todo autor, ele deseja que sua obra ganhe asas e voe para as mãos de leitores interessados em viajar com ele. "É muito bom quando recebo o retorno de alguém que leu meu livro."

Marina Acurcio, editora da Benvinda:
Marina Acurcio, editora da Benvinda: "Muitos sonhos deixam de ser realizados por falta de uma orientação adequadas" (foto: Estúdio Imaginário/Divulgação)
Disposta a ajudar no planejamento dessa viagem e a partir junto com autores rumo a terras desconhecidas, onde vive seu público, a Páginas Editora, que faz parte do segmento independente, nasceu há quatro anos e em 2020, apesar da pandemia, registrou o seu recorde de lançamentos. Foram mais de 70 livros publicados. À frente da editora, Leida Reis conta que a proposta é apoiar o autor em todas as etapas da obra, desde a edição do manuscrito, projeto gráfico, capa, ilustrações até o lançamento presencial, quando for possível, ou on-line, por meio de lives. "Percebemos que os autores passaram a sentir uma urgência maior em publicar sua obra", afirma. "Talvez todo o cenário da pandemia tenha colaborado para reduzir esse tempo de espera." Entre as obras publicadas pela editora estão livros que vão do infantil aos romances, além de publicações como Crônicas da Quarentena, uma antologia com a participação de diversos autores, lançada em 2020. A Páginas também inovou ao fornecer aos novos autores assessoria de imprensa, que colabora para a divulgação da obra na mídia. Afinal, se a distribuição é uma aposta para as grandes editoras, imagina para quem está começando. "A tiragem inicial pode ser pequena. Também orientamos os autores no processo de financiamento coletivo, assim como na venda em plataformas digitais e inscrição da obra em concursos", explica Leida.

Henrique German escreveu e publicou cinco livros em 2020:
Henrique German escreveu e publicou cinco livros em 2020: "Comecei a escrever e não parei mais" (foto: Anna Castelo/Divulgação)
As opções em Minas para quem deseja lançar de forma independente são muitas. Fundada por Marina Acurcio há sete anos, a Benvinda Editora busca ter como marca a qualidade, que começa com a revisão e edição rigorosa do texto, além de cuidadoso projeto gráfico. O autor também recebe assessoria, como roteiro para as lives de lançamento e o apoio para vendas que acontece também no site da editora.  Marina observou que, no ano passado, apesar do volume de publicações permanecer estável na Benvinda, houve um crescimento da demanda por orçamentos e do número de autores buscando compreender melhor o processo para publicação de um livro. Marina, que tem longa experiência como consultora em educação para grandes redes de ensino, diz que a ideia de fundar a Benvinda nasceu de sua percepção de que muitas boas ideias não vingam por falta de fomento. "E pior, muitos sonhos deixam de ser realizados por falta de uma orientação adequadas", diz. Para ela, todo escritor é um guerreiro, não só porque se lança a desafios mas por ter a coragem de se expor, "de bancar uma ideia até as últimas críticas."

Lourdinha Mendes, editora do grupo que reúne Lê, Abacate e Compor:
Lourdinha Mendes, editora do grupo que reúne Lê, Abacate e Compor: "Só publicamos aquela literatura que acreditamos será duradoura. (foto: Arquivo pessoal)
E quem conhece bem a caminhada para lançar uma obra no mercado é a escritora mineira Karinna Pimenta. Depois de sete anos escrevendo seu livro infanto-juvenil, A Caçada de Goya, com dedicação, pesquisas e investimento, ela fez a sua estreia de forma independente. Agora, Karinna está lançando a obra pela editora mineira Lê. O livro conta a história de imortais que habitam o Himalaia e narra a trajetória de Gaia, menina que recebe a missão de salvar uma civilização. A obra será adotada por uma escola privada de Belo Horizonte, o que encheu a escritora de alegria. "Escrevi tendo meus filhos como inspiração, pensando na adolescência dos meninos", conta.  Agora, por coincidência ou não, os filhos de Karinna, Benício, de 13 anos, e Cassiano, de 12, ganharam o primeiro exemplar, na idade exata para curtir a leitura. A Caçada de Goya é o primeiro título de uma trilogia. Karina conta que o apoio da editora tem sido decisivo para que sua obra chegue ao publico. "Valeu a pena todo o tempo de dedicação."

Leida Reis, da Páginas Editora, que contabilizou um recorde de lançamentos em 2020:
Leida Reis, da Páginas Editora, que contabilizou um recorde de lançamentos em 2020: "Percebemos que os autores passaram a sentir uma urgência maior em publicar sua obra" (foto: Arquivo pessoal)
Editora do grupo que reúne as editoras Lê, Abacate e Compor, Lourdinha Mendes conta que trabalha junto com os autores para definir das histórias que serão publicadas à forma de distribuição e comercialização dos livros. Viabiliza também a participação em editais públicos. Escolher entre inúmeros textos que são entregues para análise é tarefa desafiadora. Para passar por seu crivo, a primeira coisa que a obra precisa ter é capacidade de prender a atenção. Depois dessa etapa, a análise é longa. "O tema e a faixa etária devem estar ajustados", diz. "Só publicamos aquela literatura que acreditamos será duradoura." Lourdinha reforça que a responsabilidade cresce ainda mais quando se trata de literatura infantil ou infanto-juvenil, pois uma obra de qualidade contribui para a formação de novos leitores. Mas seja qual for o caminho que o autor decidir seguir, apoiado por uma editora tradicional ou independente, o importante para tirar o projeto da gaveta é dar o primeiro passo: não deixar a página em branco.

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