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Estado de Minas SAÚDE

Mercado de saúde em BH está em ebulição

Aquisições, abertura de capital, inaugurações e chegada de novas empresas movimentam setor. Fique por dentro de algumas das mudanças em hospitais e planos de saúde


postado em 27/07/2021 00:28 / atualizado em 27/07/2021 00:32

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(foto: Freepik)
(foto: Freepik)
Quem acompanha, ainda que à distância, o mercado de saúde em Minas Gerais, vem notando uma movimentação como há muito não se via por aqui - e, talvez, nunca tenha se visto mesmo. Desde o início do ano passado notícias relacionadas a esse universo pululam em jornais e sites especializados em economia. "Se podemos dizer que esse mercado estava morno há alguns anos, com grupos importantes saindo às compras, ele entrou em ebulição", diz o advogado Daniel Diniz Manucci, especializado em fusões e aquisições. Segundo ele, todos os envolvidos têm a se beneficiar com as mudanças. Hospitais e planos de saúde ganham em sinergia e melhoria de processos, profissionais de saúde têm mais - e muitas vezes melhores - possibilidades de exercer seu ofício e aos usuários se apresenta uma gama de opções maior, de alta qualidade. A pandemia do novo coronavírus também tem sua parcela de responsabilidade em colocar o setor em posição de destaque. "Pesquisas mostram que, com a Covid-19, ter um plano de saúde, que já era uma questão importante, virou prioridade para a maioria das pessoas", afirma Daniel. É importante ressaltar que apenas 23% dos brasileiros têm acesso à medicina suplementar.

Os valores envolvidos passam, facilmente, da casa das centenas de milhões de reais. Só com a abertura de capital, a rede Mater Dei levantou mais de 1,2 bilhão. E irá aplicar esse montante na expansão da marca para outros estados e na ampliação de sua atuação por aqui - a rede anunciou a adaptação do prédio que abrigava o campus II da faculdade Milton Campos, em Nova Lima, para a inauguração de uma nova unidade. A compra do Lifecenter pelo grupo NotreDame Intermédica custou 240 milhões de reais e a aquisição do Grupo Promed (dono de, entre outros, o Hospital Vera Cruz) saiu por 1,5 bilhão de reais para a Hapvida, que havia anunciado a compra do plano Premium Saúde por 150 milhões. Além de adquirir o controle acionário do Instituto Biocor, a Rede D’Or anunciou a construção de um centro médico de sua marca premium em Nova Lima. E vem muito mais por aí. As movimentações do mercado de saúde continuam quentes. No final de fevereiro, a Hapvida e a NotreDame anunciaram a intenção de fusão das duas companhias, o que ainda está em avaliação pelos órgãos reguladores. A combinação dos negócios irá criar uma empresa avaliada em mais de 110 bilhões de reais. Fique por dentro, nas próximas páginas, de algumas das últimas notícias do setor. (Colaborou Marina Dias)

Abertura de capital bilionária

(foto: Ronaldo Dolabella/Encontro/Arquivo)
(foto: Ronaldo Dolabella/Encontro/Arquivo)
Os planos de expansão da Rede Mater Dei, maior rede hospitalar de Minas em número de leitos privados, são ambiciosos. As divisas do estado já foram rompidas com as obras do Mater Dei Salvador, orçadas em 500 milhões de reais e que devem ser concluídas no primeiro semestre de 2022. O centro da capital baiana ganhará dois prédios, um moderníssimo hospital e um centro médico onde funcionará um espaço para convenções, consultórios e áreas administrativas e de apoio. Mas a busca por outros mercados não irá parar por aí. Ao abrir capital na B3, a bolsa de valores brasileira, e levantar 1,2 bilhão de reais com a venda de 23% da empresa, o Mater Dei prometeu, nos próximos cinco anos, adicionar 1,5 mil leitos aos 1.081 da região metropolitana de BH e aos 350 em construção na terra de Jorge Amado. "A maior parte deve vir de aquisições, mas também iremos construir", diz o presidente Henrique Salvador, que também é médico mastologista e ginecologista. Ele explica que o IPO vai trazer uma série de benefícios, como melhorar o posicionamento da marca no mercado nacional e alinhar a administração às melhores práticas governamentais. "É um movimento de perenização." Apesar da aposta na nacionalização, Henrique garante que Minas continua sendo prioridade. "Estamos aqui há 41 anos e fazemos questão de nos relacionar com as pessoas por meio do CPF e não do CNPJ", afirma, ressaltando que a busca por novos horizontes não irá mudar a forma de atendimento personalizado do grupo. E para deixar claro que a prioridade de Minas não é só discurso, Henrique fala de novidades por aqui. A rede, que tem duas unidades na capital e uma em Betim, inaugurada em janeiro de 2019, prepara-se agora para chegar em Nova Lima. Está em fase de discussão de projeto a reforma do prédio que abrigava o campus II das Faculdades Milton Campos, na esquina da Alameda Oscar Niemeyer com a Rua da Paisagem. O edifício de 18 mil metros quadrados será reformado para receber um hospital de última geração. A previsão é de que esteja pronto e funcionando dentro de dois anos.

Investimento em hospitais e no teleatendimento

(foto: Jomar Bragança/Divulgação)
(foto: Jomar Bragança/Divulgação)
Fundada há 50 anos, a Unimed-BH, líder do mercado de operadoras de saúde na região metropolitana da capital mineira (com 52% do marketshare), não tem ficado parada vendo o mercado se movimentar. Somente nos meses de março e abril deste ano, abriu 350 leitos de internação preferencialmente para pacientes Covid-19 em suas unidades na região metropolitana de Belo Horizonte. Parte deles está no pronto atendimento do centro de promoção da saúde na unidade Pedro I, na região Norte de BH, inaugurado em abril. No ano passado, a operadora, que tem mais de 1,3 milhão de clientes, foi pioneira por aqui em implementar o teleatendimento para pacientes com sintomas de Covid-19, ainda em março. Com a ferramenta, milhares de pessoas têm sido acompanhadas remotamente, evitando maior disseminação do vírus e também a ocupação desnecessária de leitos em unidades de saúde - até agora, mais de 370 mil. A tecnologia foi cedida ao município, em uma parceria com a prefeitura, para atendimento on-line de belo-horizontinos que não têm acesso a planos de saúde. As possibilidades do remoto, ampliadas pelas circunstâncias da pandemia, permitiram o lançamento, ainda em 2020, de uma modalidade diferente de plano pela empresa. O Bem Digital, inaugurado no fim de dezembro, permite atendimento online 24 horas, sete dias por semana (conjugado com atendimento ambulatorial e hospitalar).

O diretor-presidente, Samuel Flam, vê valor na atuação local da Unimed BH (que, apesar de atuar apenas na região metropolitana da capital, é a sétima maior operadora do país em número de clientes). "O dinheiro que a Unimed arrecada fica aqui em BH. A cidade se beneficia quando a cadeia é local, sem tirar recursos daqui para outras regiões", explica. Flam destaca, ainda, o crescimento de 72 mil clientes (o equivalente a 6% da carteira) nos últimos 8 meses. "A população enxergou entrega nesse momento de maior insegurança e dúvida."

Rede D'Or entra em Minas

(foto: Rogério Sol/Encontro)
(foto: Rogério Sol/Encontro)
O comunicado que agitou o mercado de saúde mineiro foi publicado em abril deste ano. A Rede D’Or, fundada na década de 1970 no Rio de Janeiro, anunciou a compra de 51% do Biocor Instituto, localizado em Nova Lima, Grande BH. O acordo foi fechado levando em consideração o valor de 750 milhões de reais para a instituição criada na década de 1980 pelo cirurgião torácico e cardiovascular Mario Osvaldo Vrandecic, morto em 2019. Desde a morte de seu fundador, o Biocor vem sendo dirigido por sua filha, a médica cardiologista Erika Vrandecic. A companhia que acaba de chegar em Minas tem operações encerrou 2020 com 15,7 bilhões em caixa e valor de mercado estimado em mais de 112 bilhões de reais. Em "fato relevante" distribuído ao mercado, o CEO Paulo Moll ressaltou "a admiração e o respeito pelo trabalho da família Vrandecic", além de reforçar a importância da chegada à terceira maior região metropolitana do país. A rede divulgou ainda um investimento de 500 milhões de reais na construção, em terreno ao lado do Biocor, de um hospital de sua marca premium, com 150 leitos.

Aposta na verticalização

(foto: Gláucia Rodrigues/Encontro)
(foto: Gláucia Rodrigues/Encontro)
"Uma medicina de alto padrão, mas que caiba no bolso das famílias." Esse é o lema do médico Jorge Pinheiro Koren de Lima, presidente do Grupo Hapvida, terceiro maior operador de planos de saúde do país em número de beneficiários. Para tentar transformar palavras em ações, ele investe na verticalização (ter, na mesma organização, diferentes tipos de serviços de saúde, como hospitais, clínicas e empresas de assistência domiciliar). "Assim, conseguimos ter controle absoluto de custo e qualidade", afirma Jorge, que aposta também na parceria com startups de tecnologia. Há um ano e meio, a Hapvida chegou ao Triângulo Mineiro e, em maio deste ano, à capital mineira com a aprovação da compra do Grupo Promed, dono do Hospital Vera Cruz, por 1,5 bilhão de reais. Os investimentos não devem parar por aí. "Já autorizamos investimentos relevantes na Grande BH, com o objetivo de estimular e promover a elasticidade do mercado, trazendo mais pessoas para a saúde suplementar." No final do ano passado, a Hapvida anunciou a compra da Premium Saúde (a transação ainda depende de aprovação da ANS e do Cade), operadora com 125 mil beneficiários, por 150 milhões de reais. Com a aquisição, a Hapvida chega a 420 mil beneficiários no estado, o que corresponde a um market share de 8,2%.

Chegada "com o pé direito"

(foto: JC Martins/Encontro)
(foto: JC Martins/Encontro)
Fundado há 53 anos, o Grupo NotreDame Intermédica chega à capital mineira "com o pé direito", como diz o presidente Irlau Machado Filho. O maior operador de saúde do Brasil investiu 240 milhões de reais na compra do LifeCenter, hospital com 205 leitos, sendo 40 de UTI, 13 salas cirúrgicas e 12 consultórios de pronto atendimento, localizado na Avenida do Contorno. O investimento no estado, realizado a partir de 2020, é de cerca de 1,7 bilhão de reais. "Para o segundo semestre de 2021, estão previstas a abertura de duas novas unidades na região metropolitana de Belo Horizonte, sendo uma em Betim e a operação do Hospital Santa Helena, em Contagem, que será mais uma unidade do Life Center", anuncia Irlau. Assim como a Hapvida, o NotreDame investe na verticalização, com controle rigoroso dos custos. "Com nossos hospitais e centros clínicos próprios, além da telemedicina, que viabiliza atendimentos remotos em áreas de pouca oferta de especialidades médicas, associado também a uma rede referência parceira, conseguimos oferecer um atendimento integral aos nossos beneficiários."

Outro IPO à vista

(foto: Gláucia Rodrigues/Encontro)
(foto: Gláucia Rodrigues/Encontro)
Presente em 12 estados brasileiros, com 70 unidades, mais de 3,6 mil colaboradores e 1,5 mil médicos especialistas, o Oncoclínicas foi criado em 2010 e é, atualmente, o maior grupo especializado no tratamento do câncer da América Latina. É parceiro exclusivo no país do Dana-Farber Cancer Institute, afiliado à Harvard Medical School. Tem como sócio o banco Goldman Sachs, com sede na cidade de Nova York. Já em Nova Lima com o Oncobio, um centro integrado dedicado ao atendimento oncológico, fruto de uma parceria com o Biocor Instituto, o grupo, que tem como presidente do conselho de administração o oncologista mineiro Bruno Ferrari, comprou em dezembro do ano passado o Vila da Serra, hospital com 20 mil metros quadrados de área construída e 200 leitos, sendo 20 de UTI. No início de junho, o Oncoclínicas pediu registro para realizar oferta inicial de ações. O objetivo é levantar capital para financiar planos de expansão.

Um novato entre gigantes

(foto: Lucas Marcílio/Divulgação)
(foto: Lucas Marcílio/Divulgação)
Segundo Lucas Vilela, a entrada do grupo First, uma corretora de saúde mineira, no disputado mercado dos operadores de planos de saúde se deu em tempo recorde. Em fevereiro do ano passado, surgiu a oportunidade de enveredar por esse campo. A entrada do pedido de liberação junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)  se deu em junho e a liberação, três meses depois. A primeira venda ocorreu em novembro. A You Saúde trabalha, por enquanto, em Minas e no Espírito Santo. "Trabalhamos tanto com pessoas físicas quanto jurídicas", afirma Lucas, que ocupa o cargo de diretor comercial da empresa (à esq. na foto). Rodrigo Felipe (no centro) é o CEO e Luiz Quadros o diretor de operações. Atualmente, os três têm cerca de 2,5 mil clientes. "Com a pandemia, percebemos uma grande procura de clientes que não são ligados a nenhuma empresa ou entidade representativa", conta Lucas. "As pessoas ficaram mais preocupadas com a possibilidade de deixar sua família desassistida."

Aos pés da Serra do Curral

(foto: Divulgação)
(foto: Divulgação)
Outra novidade no mercado é o recém-inaugurado Instituto Orizonti. Situado no bairro Mangabeiras, com a exuberância da Serra do Curral ao fundo, o hospital foi aberto no final de 2020 pelos oncologistas mineiros Amândio Soares Fernandes Júnior e Roberto Porto Fonseca, sócios da clínica Oncomed, instituição de tratamento de câncer criada em 1994 em Belo Horizonte. A instituição foi pensada com o objetivo de proporcionar uma linha completa de cuidados aos pacientes, para além dos tratamentos disponíveis na clínica, com prevenção, exames, cirurgias, cuidados posteriores, consultas e tratamentos complementares. "Há mais ou menos 15 anos, começamos a receber dos pacientes reivindicações de que pudéssemos oferecer todo o ciclo de tratamento de câncer. Foi quando nasceu essa ideia de termos uma instituição para toda a linha de cuidado", explica Roberto Fonseca.  Após 11 anos da compra do terreno do antigo hospital Hilton Rocha em um leilão, e com investimento de 350 milhões de reais de recursos próprios, o empreendimento foi inaugurado. Atualmente, funcionam no hospital, que tem 252 leitos (sendo 60 de UTI), 52 especialidades. A capacidade anual é de 27 mil internações, 22 mil atendimentos no PA, 185 mil exames e 35 mil cirurgias - das quais algumas com um robô de última geração.

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