Já imaginou a quantidade de cães e gatos que existem em sua cidade? Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a proporção média seria de um cão para cada sete habitantes. Já a população felina corresponderia a 25% da população canina estimada. O que significa que em uma cidade com 300 mil moradores seriam aproximadamente 42.800 cães e 10.760 gatos. Segundo a World Animal Protection, somente no Brasil, os números chegam respectivamente a 52 e 21 milhões de animais domiciliados, além dos 30 milhões que estima-se viverem em situação de rua. A densidade populacional de animais difere de acordo com a cidade, região e bairros, mas uma coisa é certa: a chegada da Covid-19 aumentou consideravelmente o número de abandonos.
Cada um a seu modo tenta mudar esse cenário. Organizações Não Governamentais, protetores individuais, iniciativas privadas e o poder público têm buscado alternativas para minimizar o sofrimento de espécies que dependem das boas ações do homem para sobreviver. Em Minas Gerais, desde 2019, uma clínica veterinária itinerante realiza castrações em um caminhão adaptado, o Castramóvel, auxiliando na redução da superpopulação de cães e gatos e o consequente aumento de maus-tratos e de zoonoses como a leishmaniose. "Hoje já são mais de 37 cidades mineiras atendidas, totalizando um número superior a 14.000 castrações", diz Ana Laura Furlanetto, da Pet Sem Fronteiras. O projeto, iniciado em 2007 pelo médico veterinário Marco Furlanetto Bento, na cidade de São Paulo, tem como objetivo auxiliar tutores de baixa renda e animais em situação de rua. A bancária Priscilla Palhares Mitre faz parte de um grupo de moradores que se reúne, em iniciativa privada, para ajudar pets, como a cadelinha Lua. "Ela foi resgatada e após ser castrada será encaminhada para adoção responsável", diz.
Em parceria com ONGs, clínicas e prefeituras, o projeto chega a regiões onde não existem recursos veterinários. Em apenas dois dias, os chamados "mutirões de castração" esterilizam uma média de 100 animais com preço a baixo custo, seguindo sempre as regulamentações do Conselho Regional de Médicos Veterinários de Minas Gerais (CRMV-MG). "Atendemos pessoas que jamais teriam condições de pagar o valor normal de uma castração", diz Ana Laura. "Além de não procriar, o animal esterilizado terá mais chances de ser adotado por um tutor que se tornará mais um consumidor do mercado pet." A artesã Sirley Almeida Duarte cuida de vários animais retirados das ruas e comemora ter conseguido castrar mais alguns. "Assim evitamos que outros animais sofram as consequências do abandono", diz.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) reforça essa luta. Projeto da Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna (Cedef), o Programa Regional de Defesa da Vida Animal (Prodevida) realiza acordo com municípios que se comprometem a implantar a política de controle populacional ético e humanitário de cães e gatos. "Além da questão da dignidade do animal que tem direito a ter suas necessidades básicas providas, ainda tem o caráter de saúde pública", diz a promotora de Justiça Monique Mosca. Cerca de 180 municípios mineiros já aderiram ao acordo, que também prevê "educação animalista", combate aos maus-tratos e incentivo à adoção responsável.
Em carta aberta aos governos municipais, a World Animal Protection comunicou grande preocupação com o impacto que a pandemia está ocasionando no bem-estar animal, os desdobramentos que trará a curto, médio e longo prazos nas populações de cães e gatos, e na saúde pública. Diante do isolamento social e da crise socioeconômica que assola o país, o governo estadual promulgou, no último mês de agosto, a Lei 28.863/2021, que torna o fornecimento de água e alimento a animais em situação de rua um direito de todo cidadão mineiro, proibindo qualquer particular ou agente do poder público de impedir seu exercício, sob pena de configurar crime de maus-tratos. Uma rede de solidariedade que desperta consciências sobre a necessidade de olhar o planeta de maneira integral e preservar sua biodiversidade.