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Estado de Minas ESPECIAL NOVO CORONAVÍRUS

Idosos sofrem mais com regime de isolamento social, alerta psiquiatra

Especialista destaca que, além de estarem no grupo de risco da Covid-19, pessoas na terceira idade são mais propensas a ansiedade, depressão e, até mesmo, suicídio, ainda mais durante a pandemia


postado em 21/05/2020 22:42 / atualizado em 25/05/2020 14:32

Família e vizinhos precisam estar ainda mais atentos ao bem-estar psicológico dos idosos durante o período de isolamento social imposto pelo novo coronavírus, alerta especialista(foto: Pixabay)
Família e vizinhos precisam estar ainda mais atentos ao bem-estar psicológico dos idosos durante o período de isolamento social imposto pelo novo coronavírus, alerta especialista (foto: Pixabay)
De acordo com informações do Ministério da Saúde, as pessoas com idade acima dos 70 anos são as que mais cometem suicídio no Brasil. Essa triste e preocupante estatística indica que a atenção ao bem-estar dessas pessoas durante o período de isolamento social imposto pelo novo coronavírus deve ser dobrada. "Se essa situação de estresse continuar, pode gerar uma série de transtornos mentais", alerta o psiquiatra Renato Araújo, da Clínica Mangabeiras, em Belo Horizonte.

O psiquiatra Renato Araújo:
O psiquiatra Renato Araújo: "As famílias não podem deixar os idosos por conta própria, achando que são autossuficientes. Ninguém é" (foto: Adriana Porto/Divulgação)
De acordo com ele, além do risco de suicídio, problemas como a ansiedade e a depressão podem surgir nos idosos, que, além de serem mais propensos a esses transtornos, ainda carregam um peso extra por estarem no grupo de risco da Covid-19. Por isso, o especialista destaca que a família precisa ficar atenta a sinais de que alguma coisa está errada. "É mais difícil diagnosticar a depressão em idosos porque há mais falta de apetite e alteração do sono do que transtorno de humor. Assim a  doença pode passar despercebida", explica Renato Araújo.

O psiquiatra ressalta que os idosos que moram sozinhos, e não têm família por perto, necessitam de mais atenção. Neste caso, segundo ele, o ideal é que vizinhos façam um acolhimento, fazendo compras de supermercado, por exemplo, e verificando frequentemente se está tudo bem por meio de ligações telefônicas, uma vez que muitos não conseguem utilizar equipamentos eletrônicos para contato via internet. "As famílias não podem deixá-los por conta própria, achando que são autossuficientes. Ninguém é", alerta o médico.

Já para os idosos que vivem com suas famílias, Renato Araújo recomenda que eles sejam incluídos no contexto familiar, participando das atividades da casa e também atividades lúdicas, como jogos de quebra-cabeça e palavras cruzadas, e leituras. Se houver quintal ou varanda na residência, é importante que a família leve o idoso para um banho de sol, nos horários apropriados (antes das 10h ou depois das 16h), onde é importante reservar um tempo para ouví-los. "Eles têm sabedoria, história de vida, já passaram por privações e podem muito nos ensinar", comenta o psquiatra.

Resistência ao isolamento social

Um levantamento on-line realizado pelo Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental, em parceria com a empresa de monitoramento de mercado, Hibou, mostra que, no Brasil, 30% dos idosos não seguem rigorosamente as medidas de isolamento e distanciamento social.

Renato Araújo aponta duas hipóteses principais para o que foi constatado pela pesquisa: necessidade de trabalhar e sentimento de que já viveram o suficiente e, por isso, não querem ficar confinados. Além disso, o especialista destaca a forma como os idosos são julgados pela sociedade. "De tanto as pessoas falarem que os idosos são negligentes, só vemos idosos nas ruas", lamenta o psiquiatra. "Eles vivem com medo do vírus, do julgamento da sociedade e dos transtornos ocasionados por tudo isso", completa o médico.

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