Revista Encontro

Curiosidade

O misterioso caso do ladrão de samambaias

Nem carros, nem joias. Um larápio que agia no Padre Eustáquio estava de olho era nas plantas dos moradores do bairro

Sergiovanne Amaral
Ladrões.
Eles estão no nosso dia a dia, de olho em nossos carros, carteiras, galinhas e, acreditem, em nossas plantas! O vilão dessa história é um especialista em afanar vasos e xaxins de samambaias. A vítima, um sujeito que vamos chamar de F.D.S. e que passou muita raiva até se livrar do gatuno.

A casa de F.D.S. é um lugar simples, mas aconchegante. Na garagem sem carro, pneus, tijolos e outros objetos ocupam espaço. Toda essa desordem nunca havia gerado muitos problemas, até que um curioso fato se deu.

Numa manhã de domingo a mulher de F.D.S gritou da cozinha:

– Mozão, já regou as plantas hoje?

– Não! - respondeu ele.

– Então molha, uai! - ordenou ela.

Com preguiça, ele foi à garagem, mas não encontrou a samambaia. Não deu falta de mais nada.
Chamou a mulher.

– Mô, roubaram a samambaia!

– Mentira! Ninguém rouba samambaias! Você sumiu com a planta pra não ter que ficar regando?! - protestou a mulher, chateada.

Condenado sem ser culpado, F.D.S. foi ao bar, beber para relaxar. Lá, ouviu a desabafo de um outro bebum.

– O cretino arrombou o portão essa madrugada para roubar sabe o quê?! Uma samambaia! Inacreditável!!

F.D.S. viu que não era a única vítima e que precisava agir. Mandou a pinga goela abaixo e teve uma ideia. Saiu, comprou outra samambaia, pendurou e montou campana no sofá da sala, de onde podia espiar a garagem. A mulher, confusa, nada disse.

Certa noite, algo aconteceu. F.D.S. ouviu um barulho e acordou. Pela janela, viu um vulto levando sua samambaia. Com medo, ligou para a polícia.


– Emergência policial. Cabo Maria. Em que posso ajudar?

– Um homem entrou aqui e roubou minha samambaia. Mande as viaturas! - sussurrou ele.

– Desculpe, senhor, mas passar trotes para a polícia é crime. Ninguém rouba samambaias. Vou finalizar. Tu, tu, tu...

F.D.S. se revoltou. Não tinha apoio da esposa nem da polícia.
Catou uma faca (cega), ganhou a rua e viu alguém empurrando um carrinho de mão. Ficou ainda mais possesso.

– Ei! Parado aí com essa samambaia! Ela é minha! - gritou.

O ladrão correu em direção ao Anel Rodoviário. F.D.S. foi atrás. Sedentário e fumando e bebendo todo dia, F.D.S. logo arriou. O ladrão continuava sua fuga pelo Anel. O homem esbravejava:

– Te mato! Devolve a samambaia!

Já era tarde. F.D.S. voltou para casa, fracassado. No dia seguinte, ouviu a mesma ladainha da esposa, mas teve outra ideia. Nunca mais seria roubado e humilhado daquele jeito.  Saiu e comprou outra planta. Continuou dormindo no sofá da sala até que, novamente, o ladrão apareceu. Da mesma forma que entrou, saiu da casa:  de mãos vazias. F.D.S. ria satisfeito, enquanto olhava pela janela. Dessa vez ele havia comprado um enorme e espinhoso cactos..