A casa de F.D.S. é um lugar simples, mas aconchegante. Na garagem sem carro, pneus, tijolos e outros objetos ocupam espaço. Toda essa desordem nunca havia gerado muitos problemas, até que um curioso fato se deu.
Numa manhã de domingo a mulher de F.D.S gritou da cozinha:
– Mozão, já regou as plantas hoje?
– Não! - respondeu ele.
– Então molha, uai! - ordenou ela.
Com preguiça, ele foi à garagem, mas não encontrou a samambaia. Não deu falta de mais nada.
– Mô, roubaram a samambaia!
– Mentira! Ninguém rouba samambaias! Você sumiu com a planta pra não ter que ficar regando?! - protestou a mulher, chateada.
Condenado sem ser culpado, F.D.S. foi ao bar, beber para relaxar. Lá, ouviu a desabafo de um outro bebum.
– O cretino arrombou o portão essa madrugada para roubar sabe o quê?! Uma samambaia! Inacreditável!!
F.D.S. viu que não era a única vítima e que precisava agir. Mandou a pinga goela abaixo e teve uma ideia. Saiu, comprou outra samambaia, pendurou e montou campana no sofá da sala, de onde podia espiar a garagem. A mulher, confusa, nada disse.
Certa noite, algo aconteceu. F.D.S. ouviu um barulho e acordou. Pela janela, viu um vulto levando sua samambaia. Com medo, ligou para a polícia.
– Emergência policial. Cabo Maria. Em que posso ajudar?
– Um homem entrou aqui e roubou minha samambaia. Mande as viaturas! - sussurrou ele.
– Desculpe, senhor, mas passar trotes para a polícia é crime. Ninguém rouba samambaias. Vou finalizar. Tu, tu, tu...
F.D.S. se revoltou. Não tinha apoio da esposa nem da polícia.
– Ei! Parado aí com essa samambaia! Ela é minha! - gritou.
O ladrão correu em direção ao Anel Rodoviário. F.D.S. foi atrás. Sedentário e fumando e bebendo todo dia, F.D.S. logo arriou. O ladrão continuava sua fuga pelo Anel. O homem esbravejava:
– Te mato! Devolve a samambaia!
Já era tarde. F.D.S. voltou para casa, fracassado. No dia seguinte, ouviu a mesma ladainha da esposa, mas teve outra ideia. Nunca mais seria roubado e humilhado daquele jeito. Saiu e comprou outra planta. Continuou dormindo no sofá da sala até que, novamente, o ladrão apareceu. Da mesma forma que entrou, saiu da casa: de mãos vazias. F.D.S. ria satisfeito, enquanto olhava pela janela. Dessa vez ele havia comprado um enorme e espinhoso cactos..