O processo corre no nome de Francisco, que, debilitado, vive em Ibirité, sustentando-se com aproximadamente um salário mínimo. Quem responde por ele é o irmão, Danilo de Abreu, soldador, de 63 anos. Ele se recorda do sofrimento da família. “Meu pai olhava da janela o trator limpando o terreno e pedia a Deus para que lhe tirasse tudo de uma vez”, conta. Quando os pais morreram, alguns filhos foram viver com parentes, enquanto Francisco e o irmão Ismael, de 74 anos, ficaram com a casa, na margem do rio Arrudas, que foi novamente desapropriada em 2011, para obras de duplicação da avenida Tereza Cristina. O estado pagou apenas as benfeitorias, uma vez que não teve fim o processo que reconhece o terreno como propriedade da família. Enquanto isso, Danilo e os dez irmãos esperam uma grande virada. “Nossa família está morrendo e não vê nada. Ganha na Justiça e não vê nada”, afirma.
Uma fotografia guardada pela dona de casa Geovania Cortes de Abreu, prima de Francisco e Danilo, mostra a visita de alemães na área que seria ocupada pela Mannesmann e pela construção da via do Minério, na década de 1950. “Quando meu pai contava, eu não acreditava. Meu avô com tanta posse e minha família vivendo tão carente”, recorda.
Nos últimos anos, impostores tentaram se aproveitar da situação, dizendo ter direitos sobre as terras e estima-se que mais de 100 herdeiros das famílias Abreu e Hilário tenham morrido na miséria. Embora tenha sido sentenciado o direito de indenização, a assessoria de imprensa do Fórum Lafayette informa que o processo está travado porque o governo de Minas Gerais discute a quem pagar a dívida. O juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública Estadual, Adriano de Mesquita Carneiro, não comenta o caso e a Advocacia Geral da União também não se posiciona enquanto o processo corre. Agora, Geovania Abreu, que tem mobilizado os herdeiros, busca um acordo extrajudicial com o governo, sem esperança sobre o pagamento total da indenização.