Com 37 anos, Maurício entrou para a escola de infantaria do exército americano, que fica no Fort Benning, no estado da Geórgia. Após o período de treinamento, foi enviado para a Alemanha, em 2007. Ficou apenas um ano em terras alemãs, na base ultramar americana, até ser enviado, com outros 5 mil soldados, para ajudar os colegas no Iraque. Seu pelotão era formado por militares de várias partes do mundo, como Inglaterra, Rússia, Ilhas Fiji, México, Cuba, Porto Rico e Ucrânia.
Quando foram encaminhados para o país do Oriente Médio, a batalha que se instalou lá vivia o pior momento de sua história – os Estados Unidos invadiram o país de Saddam Hussein em 2003, e o ditador foi enforcado em 2006.
Além dos conflitos constantes que aconteciam no país árabe, o pelotão de Maurício Lima se instalou numa base situada na mais violenta favela do país, próxima da capital Bagdá, chamada de Sadr City. “Dos 90 soldados que morriam por mês, no Iraque, em 2008, 60 eram vitimados apenas em Sadr City”. Ele também se lembra de onde foi travada a batalha que mais mobilizou tanques e soldados na guerra: na chamada route gold (rota ouro), ou seja, na rua al-Quds, que fica ao norte de Bagdá, próximo à principal avenida da cidade.
Cotidiano militar
De acordo com o mineiro, o ano de um soldado americano, durante a guerra iraquiana, se resumia a uma rotina de três dias, que se repetem indefinidamente: o primeiro dia é dedicado a missões, por exemplo, de patrulha, de busca ou de investigação de denúncias; no segundo, o soldado fica por conta de situações de emergência, dando suporte a equipes de patrulha; por fim, no terceiro dia, o militar se dedica à manutenção dos equipamentos e ao período de vigilância nas torres que circundam as bases americanas. Descansos só são concedidos após 15 meses de trabalho, e neste caso, o militar tem direito a 18 dias, apenas.
Questionado sobre o terror que é vivenciar uma batalha tão sangrenta, Maurício recorda do momento mais trágico que presenciou em solo iraquiano: um atentado. “Um carro-bomba acertou em cheio um ônibus escolar que transportava meninas, todas estudantes. Quando a equipe de socorro estava atendendo as vítimas, e recolhendo os corpos das garotas, um homem-bomba explodiu no meio desse resgate. Foi chocante”.
Depois de dois anos servindo no Iraque, o mineiro foi enviado para a guerra no Afeganistão. Seu esquadrão se instalou na cidade de Kandahar, que fica na parte sudoeste do país, a mais de 450 km de distância da capital, Kabul. “Em Bagdá a guerra era urbana, e quando fui para o Afeganistão, passou a ser nas montanhas. Fiquei lá até 2011, no período em que Osama Bin Laden foi capturado”, conta o sargento. A captura do líder do grupo terrorista al-Qaeda, responsável pelo ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em 2001, na verdade, foi uma ação ultrassecreta do exército americano, e, segundo Maurício, foi realizada por um grupo pequeno de soldados altamente especializados, que formam a elite dos Navy Seals (fuzileiros da marinha).
“Estávamos realizando uma patrulha na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, sem saber o que estava se passando no resto do país. Quando retornamos à base da montanha, vimos outros soldados comemorando, e ficamos sabendo da captura e morte do Bin Laden”, lembra. Com relação às teorias da conspiração que surgiram após esse célebre acontecimento, que chegam a dizer que o líder terrorista estaria vivo, ao invés de ter sido morto e o corpo jogado no mar pelos militares americanos, Maurício as desmente: “Eu não acredito nessas teorias.
Hoje, com 44 anos, e já aposentado, depois de sofrer uma fratura no pé, no Afeganistão, Maurício Lima passou a trabalhar com serviço de segurança privada, na cidade em que vive, Colorado Springs, no estado do Colorado, região central dos Estados Unidos. Em suas lembranças, restam momentos diversos e até destoantes, sejam os de descontração entre os amigos de farda, que chegaram até a criar um mercado paralelo para troca de DVD’s de filmes – essa era a maior distração disponível na base militar –, sejam as cenas bárbaras de civis matando civis nas ruas de Bagdá. O ex-DJ, na verdade, guarda a amizade como principal medalha das batalhas que vivenciou: “Numa guerra, não se pode fazer nada sozinho, é preciso trabalhar em equipe”. .