Se os preceitos previstos no final da década de 1970 e início de 80, quando saíram do papel os primeiros projetos para a região, fossem seguidos à risca, a proximidade do paraíso seria praticamente garantida. Ao menos é o que se pode perceber na fala do arquiteto e urbanista Joel Campolina, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU/MG).
"Fui autor do projeto original do Vila da Serra. O projeto previa, entre outras coisas, a presença de praças para ponto de encontro, a construção de um parque linear e a manutenção de diversas áreas não edificantes. Além disso, próximo às áreas residenciais, estavam previstas construções que tivessem no máximo cinco pavimentos, o que deixaria a região muito mais valorizada. No entanto, as praças não foram feitas e as áreas livres previstas inicialmente estão todas ocupadas. A essência do projeto foi quebrada. É uma pena”, afirma.
De acordo com o arquiteto, algumas medidas já estão sendo tomadas para melhorar o cenário a longo prazo. “Já está em andamento um projeto de mobilidade urbana, envolvendo 36 municípios da região metropolitana de Belo Horizonte, para garantir maior integração entre eles.
Já o arquiteto e urbanista José Eduardo Ferolla, de 66 anos, professor adjunto da Escola de Arquitetura da UFMG, é pessimista em relação ao futuro da região, principalmente no que se refere ao trânsito. Para ele, o problema já tomou dimensões tão grandes que fica difícil encontrar soluções. “Nem dá para pensar em formas de amenizar a situação, pois já passou da hora, teria de ter sido feito muito antes. Aonde vamos parar eu não sei, mas vamos parar por falta de condições para circular”, prevê.
Antônio João de Morais, secretário de Segurança, Trânsito e Transporte Público de Nova Lima, concorda que a região cresceu mais do que o esperado. Ele garante, no entanto, que a prefeitura tem atuado para evitar o agravamento dos problemas. “Como toda cidade histórica, Nova Lima não foi projetada para essa expansão urbana.
A preocupação do secretário não se limita apenas ao trânsito. “Em relação à segurança, já foram instaladas câmeras nos locais de maior aglomeração de pessoas, com uma central na sede da Guarda Municipal de Nova Lima, que atua com a Polícia Militar. Sobre a questão ambiental, temos insistido nas abordagens educativas, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente, e no aumento da fiscalização”, completa.
Outra tentativa da Prefeitura de Nova Lima para minimizar os problemas do trânsito no Vila da Serra foi a adoção, em dezembro de 2011, do sistema de estacionamento rotativo na modalidade parquímetro. A ideia era promover a rotatividade das vagas e, assim, facilitar a vida de quem precisa deixar seus carros na região. De início, eram 200 vagas. Hoje, já passam de 600.
Luciana também não vê boas perspectivas para um futuro próximo. “Antes, 7h era um horário tranquilo. Hoje, logo cedo, já está tudo congestionado. Para completar, todos esses novos prédios residenciais que estão sendo lançados têm previsão de quatro ou cinco vagas de garagem. A tendência é só piorar”, lamenta.
Apesar de todos os contratempos, Luciana não pensa em deixar a região. “Quando me mudei para cá não havia praticamente nada de comércio. Não tinha uma padaria, um supermercado. Hoje já existe toda uma infraestrutura. Ainda é um bairro excelente, bem tranquilo”, garante. Resta saber se esse sentimento de tranquilidade ainda vai perdurar nos próximos dez ou 20 anos..