Champs-Elysées, em Paris. Montecarlo, em Mônaco. West Side, em Manhatan. Leblon, no Rio de Janeiro. Esses bairros são famosos por concentrar o que há de melhor quando o assunto é moda, cultura, música, arquitetura e gastronomia. Atraem visitantes do mundo inteiro. Em Belo Horizonte, se há algum lugar que chega perto desse status, esse lugar é a Savassi. Ali pode-se encontrar agitação noturna e diurna, pontos turísticos, boas opções para morar e se hospedar, lugares agradáveis para passear e lojas sofisticadas de diversos segmentos.
A opinião de um dos porta-vozes mais conhecidos do bairro não destoa muito da arquiteta. O italiano Alessandro Runcini, presidente da Associação de Moradores e Amigos da Savassi e diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL)/Savassi, que mora há 18 anos na região, utiliza uma expressão de sua terra natal para descrever a situação.
O exemplo mais emblemático disso pode ser o de Fábio Soares Campos, de 62 anos, 19 anos passados na Savassi comandando o famoso Café Travessa, que ficava no quarteirão fechado da rua Pernambuco. Fábio abandonou o espaço depois das obras. “Foi uma grande tristeza”, diz, lembrando que, no período das intervenções, seu movimento caiu 90%. “Ao final, o locatário pediu valores exorbitantes. Cerca de 40% a mais do que já pagava.
Pode-se dizer que o preço dos imóveis acompanhou o aumento do potencial turístico. A Savassi ficou, sim, mais movimentada e acabou atraindo parte da população de rua também. O empresário e morador Gilberto Vespúcio, diretor da GW Administração de Condomínios, empresa que está há 24 anos por aquelas bandas, continua otimista, mas chama a atenção para os “novos vizinhos”. “Ficou mais gostoso andar por aqui, principalmente aos sábados de manhã, mas o número de moradores em situação de rua aumentou”, completa.
Segundo a PM, é sabido que alguns desses moradores de rua têm precedentes criminais. Eles foram atraídos devido ao aumento da concentração de pessoas depois das obras. Tomam banho nas fontes, lavam roupas e pedem esmolas durante o dia e a noite. Há relatos de moradores que reclamam de pequenos furtos e ameaças feitas por flanelinhas, que agem como se fossem donos de algumas ruas e exigem pagamento adiantado dos motoristas.
A sensação é a mesma para o empresário Rubens de Oliveira Batista. Dono da Livraria Status, no quarteirão fechado da rua Pernambuco, há 40 anos no mesmo ponto. Ele conta que paga, atualmente, um aluguel três vezes mais alto do que pagava. “Depois das 21h, morador não pode mais sair de casa. Há marginais que traficam e são perigosos. Muitos inibem clientes, fazem sexo na rua e não respeitam ninguém. As cadeiras giratórias instaladas no nosso quarteirão foram arrancadas, antes havia oito, hoje são três. Vivemos em uma tensão que pode explodir a qualquer momento”, desabafa.
Apesar de todas as denúncias, o comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar, Helbert Figueró, diz que não há motivo concreto para a sensação de insegurança dali. “Os índices e registros de criminalidade não apontam essa realidade”, garante. Ele acrescenta que essa é uma sensação que pode ter a ver com a presença dos moradores em situações de rua. Ainda segundo ele, a 4ª Companhia, responsável pela Savassi, conta hoje com efetivo de 117 militares e viaturas que fazem o patrulhamento 24 horas.
Enquanto reclamações dividem espaço com elogios, alguns moradores se unem e elaboram projetos para dar mais fôlego à Savassi. É o caso, por exemplo, do dentista Nelson Galizzi, que mora há 12 anos no bairro. Há dez anos, ele criou o Via Albuquerque, com o objetivo de transformar a rua Antônio de Albuquerque, entre o Minas Tênis Clube e a praça Diogo Vasconcelos, em uma espécie de Oscar Freire de BH. “São quatro quarteirões, que vão oferecer mais qualidade de vida aos moradores, lojistas e frequentadores”, comenta Nelson.
Aos poucos, segundo ele, lojistas e vizinhos estão participando da iniciativa. “Precisamos agora de empresas privadas para abraçar a causa”, diz, destacando que as reformas trouxeram um novo rumo. “Agora, temos de ir em frente e viver um tempo de excelência, o que vai depender de estratégias de envolver pessoas e atrair o público.” Como bons exemplos, ele cita os projetos de Feira de Flores, aos sábados, e o de apresentações de música clássica.
Fato é que a Savassi ,que chega a ser comparada a bairros chiques até mesmo de fora do Brasil, com suas fontes, quarteirões fechados e apresentações de jazz na praça, traz uma lição e um desafio que já não são novidade para ninguém: mais difícil que tornar belo é manter belo.