No estudo, foram acompanhadas 332 crianças da Inglaterra, Dinamarca e França, de recém-nascidas a bebês com até 38 meses de vida, que provaram até dez porções de purê de alcachofra. Surpreendentemente, 40% delas aprenderam a gostar dessa flor, que é muito boa para o organismo, principalmente para o fígado. Do grupo que experimentou o vegetal – que não é muito popular no Brasil –, 21% consumiram quase a totalidade do que lhes foi oferecido. As crianças que comeram menos de 10 gramas de cinco porções que receberam, foram classificadas como "não-comedoras" (16%), que, em sua maioria, eram crianças mais velhas, com 38 meses (pouco mais de 3 anos de vida) e, portanto, mais exigentes.
A nutricionista e educadora Cláudia Dias, que atua na área de nutrição infantil há 10 anos, explica que os dois primeiros anos de idade são fundamentais para que as crianças explorem novos gostos e testem o paladar. "Comer também é um processo de aprendizagem, tão importante quanto aprender a andar e a falar.
O erro na abordagem dos pais, quando oferecem o alimento a seus filhos, acaba contribuindo para que os bebês não gostem de verduras e legumes. "Os pais às vezes cometem o erro de tratar um vegetal como se ele fosse parecido com outro. Deve-se fazer com que a criança aprenda os nomes dos alimentos, ao invés de se referir a todos como 'verdinho', por exemplo. Caso contrário, se a criança não gostar de um vegetal, vai acabar falando que não gosta de nenhum outro que seja semelhante", pontua a nutricionista.
O que também serve de fator para a criança gostar de algo é a forma como experimenta o alimento. Normalmente, o receio do primeiro contato faz com que os pequenos testem a comida usando apenas a ponta da língua, o que a impede de perceber o verdadeiro sabor – cada parte da língua é responsável por sentir diferente gostos: a ponta é capaz de sentir o sabor doce; em seguida, nas laterais frontais, fica a percepção do sabor salgado; mais atrás, nas laterais, é a vez do azedo ou ácido, e, no fundo, somos capazes de sentir o gosto amargo.
A pesquisa sobre os hábitos alimentares infantis também desmente o mito de que esse tipo de comida, legumes e verduras, deva ser dado de forma disfarçada, ou seja, junto com alimentos de gostos diferentes, para que o sabor seja modificado. Os cientistas acrescentaram açúcar ao purê de alcachofra que foi dado às crianças, mas houve pouca diferença na quantidade consumida. "A estratégia ideal seria dar um alimento de diversas maneiras diferentes: cru, cozido, frito, assado, líquido, para que a criança realmente tenha condição de dizer se gosta ou não", explica a educadora nutricional Cláudia Dias.
Sobrepeso
De olho nos problemas alimentares das crianças, a cineasta Estela Renner lançou, em 2012, o documentário Muito Além do Peso (veja o vídeo abaixo), que faz um alerta para a realidade das crianças brasileiras, e promove o debate de como a qualidade da alimentação está ligada à comunicação mercadológica dirigida aos pequenos.
Segundo as informações contidas no longa-metragem, no Brasil, 56% das crianças já experimentaram ou tomam com frequência bebidas gaseificadas, como os refrigerantes, antes de completarem 1 ano de vida. "O número assusta, principalmente se você levar em consideração que nos primeiros seis meses, a alimentação do bebê deve ser apenas de leite materno. Depois, é importante que sejam inseridas frutas, papinha e comida caseira, até que surjam os dentes, quando a comida deve ser modificada para estimular a mastigação", ressalta a nutricionista.
.