Aos 6 anos de idade, já no 1° ano escolar, Bernardo não tinha um bom desempenho e não conseguia acompanhar a turma nos exercícios de leitura. Depois das avaliações, o boletim sempre chegava vermelho para Regina Fátima de Almeida, que não sabia mais o que fazer para que o filho melhorasse as notas. "Ele conseguia ler as letras separadas, mas quando elas se juntavam, para compor as palavras, havia um bloqueio", lembra a mãe.
Nas atividades cotidianas, o garoto era como todos os colegas: esperto, gostava de videogame e das aulas de hipismo. Depois de uma peregrinação por consultórios médicos, Regina não teve êxito no diagnóstico. “Todos nós ficamos muito desorientados.
Na esperança de desenvolver a leitura de Bernardo para que ele progredisse na escola, Solange Leite, diretora do Centro Educacional São Tomas de Aquino, que era frequentado pelo garoto, sugeriu uma nova psicopedagoga. Daí em diante, tudo mudou. A partir de um questionário de triagem, a especialista Maria Auxiliadora Passos bateu o martelo em relação ao diagnóstico: síndrome de irlen. O garoto, que hoje tem 8 anos, foi diagnosticado no ano passado, e, desde então, tem melhorado as notas da escola e já não dá mais trabalho para sua mãe e professoras.
O déficit do sistema magnocelular, mais conhecido como síndrome de irlen faz com que seus portadores tenham uma sensibilidade à luz além do normal – por isso não conseguem ter uma definição dos objetos. Coceira e lacrimejamento dos olhos, sensação de que o texto fica mais claro, que as letras tremem ou se ajuntam, são sintomas comuns.
Descrita há mais de 30 anos, nos Estados Unidos, pela psicóloga Helen Irlen, a síndrome é uma doença hereditária, pouco comentada publicamente e atinge 15% da população normal. Quem trabalha na divulgação desse problema é Márcia Guimarães, chefe do departamento de distúrbios de aprendizagem relacionados à visão do Hospital de Olhos, em Nova Lima. Responsável pelo estudo da síndrome no Brasil, ela tem como objetivo a expansão do diagnóstico, já que muitos oftalmologistas desconhecem o problema ou o confundem com dislexia. "Nós, em oftalmologia convencional, não testamos o sistema magnocelular. Mas, agora, estamos percebendo que isso é fundamental. Portadores da síndrome de irlen podem passar a vida inteira com essa dificuldade, sem perceber", explica.
De acordo com as características do paciente, o tratamento pode ser realizado de duas formas: transparências coloridas (overlaws), que são colocadas sobre os textos lidos, ou uso do óculos com lentes especiais, feitas nos Estados Unidos.
O uso desses filtros faz com que as distorções visuais sejam neutralizadas e os portadores passem a enxergar normalmente. Os benefícios são imediatos no conforto visual, fluência e compreensão na leitura. Regina, mãe do menino Bernardo, não acreditou quando o filho começou a usar os óculos: "O dia que ele colocou as lentes especiais e leu, eu não conseguia acreditar. Eu temia pelo aprendizado dele todos os dias. Os óculos pareciam um milagre".