Revista Encontro

Cidade

Minas inteira se encontra no Mercado Central de Belo Horizonte

Ao completar 85 anos de vida - na verdade, essa idade se refere à localização atual -, a principal feira da capital mineira ganha uma exposição com suas memórias, e mostra por que continua atraindo turistas e moradores com seus produtos tipicamente mineiros

Fernanda Nazaré
Pitomba, umbu ou atemoia.
São frutas brasileiras, típicas de regiões semiáridas, que você só no Mercado Central de Belo Horizonte. Justamente as frutas exóticas, o artesanato e a diversidade dos produtos regionais que fizeram a fama da "feira" que atrai moradores e turistas há 85 anos. Localizado no coração da capital mineira, o mercado está em festa, comemorando mais um aniversário. Desta vez, o público poderá conferir uma exposição fotográfica especial, contando toda a história desse comércio que, na verdade, já tem mais de 100 anos. Pois é, o local é quase tão velho quanto a cidade, e isso pode ser visto na exposição, que tem curadoria do historiador Osias Ribeiro.

Além de imagens, a mostra traz objetos e produtos que reproduzem o Mercado Central de 1900, época em que funcionava em outro ponto do hipercentro de BH. Apenas em 1929, na gestão do prefeito Cristiano Machado, que os feirantes foram transferidos para a avenida Augusto de Lima, para dar lugar a uma outra feira que, na década de 1970, deixou de existir, cedendo espaço para a construção do terminal rodoviário, na praça Rio Branco. Por isso a celebração é de 85 anos, e não de 114 – ou seja, comemora-se a existência do comércio no local atual.

Datas à parte, o que importa na biografia desse verdadeiro ponto turístico da cidade é que ele faz parte da história de vários mineiros e turistas que passam por lá todos os dias – especialmente nos finais de semana.
Nas mais de 400 lojas, é possível ter uma "aula" de cultura mineira; beber com os amigos; fazer a feira do mês; e ainda cortar os cabelos saboreando uma fatia de abacaxi gelado. "Causos" de quem foi lá para experimentar o famoso fígado de boi com jiló e beber uma cachacinha também não são raros entre os belo-horizontinos. Afinal, essa iguaria é um dos símbolos do mercado.

Antes da construção do prédio que conhecemos hoje, o mercado de BH tinha a cara de uma grande feira, com sua típica agitação - Foto: APCBH/Ascom PBH/Divulgação

Quem cresceu em meio à principal feira de BH foi o comerciante José Antunes Moreira, de 51 anos. Proprietário da loja Temporana Frutas, ele vende produtos exóticos como as já citadas atemoia e pitomba, além de outras frutas típicas do cerrado. Assim como o mercado, ele teve de se adaptar à modernidade, para continuar ativo: "Herdei o negócio do meu pai, que começou vendendo laranjas. Vinha para cá criança. Comecei como lavador de carro e fui carregador. Sou cria do mercado. Não era muito de estudar, então meu pai me levou pra trabalhar com ele. Só cursei até a sétima série", conta.

Das laranjas, José Antunes passou para as frutas exóticas e vende algumas por até R$ 60 o quilo, como é o caso do sapoti. Lichia, siriguela e jenipapo também fazem parte do cardápio de produtos, que chamam muito a atenção dos turistas estrangeiros. "Eu tento explicar para eles o que é cada fruta.
A gente se vira no 'portunhol' ", diz o feirante. Ele também faz questão de frisar que, com o trabalho no mercado, conseguiu criou as quatro filhas, que, hoje, já cresceram, se formaram, e estão com suas vidas feitas.

Lembranças

O blogueiro e comissário de voo Danilo Michael escreve rotineiramente sobre todos os lugares do mundo que visita, mas um que considera especial é o Mercado Central de Belo Horizonte. "Uma vez minha madrinha me pediu para comprar umas ervas específicas para fazer um chá caseiro para seu marido. Procurei em vários lugares do Brasil, e só encontrei lá. Já perdi as contas de quantas vezes estive no mercado. Sempre que vou a BH costumo dar uma volta nele", diz.

Danilo conta que ao visitar o ponto turístico é de praxe comprar o queijo canastra de Araxá para a avó – que é mineira de Guaxupé –, doce de leite em pedaço, requeijão e mel. Sempre viajando por causa do trabalho, ele já conheceu mercados municipais de grandes cidades como Fortaleza, Recife, São Paulo, Porto Alegre, Belém e Manaus. Para ele, o da capital mineira é especial: "Vejo a identidade do povo mineiro em cada loja. Em alguns mercados, muitas vezes, você não consegue identificar a cultura regional na dinâmica do local. Já em BH, essa identidade é 'demais da conta sô'", brinca o comissário.


Serviço:

O quê: Exposição Histórias e Memórias do Mercado Central - 85 anos
Onde: Mercado Central
Endereço: av. Augusto de Lima 744, Centro, Belo Horizonte
Data: até 6/10
Horário: segunda a sábado das 9h às 17h; domingos das 9h às 13h
Entrada franca
Informações: (31) 3274 9434.