Revista Encontro

Cidades

Chácara Jardim América vira disputa entre moradores e construtora

O terreno localizado ao lado da avenida Barão Homem de Melo, na região oeste da capital, é uma lembrança da época em que o Jardim América era uma fazenda, e, agora, está envolvido numa disputa ambiental

João Paulo Martins
Um terreno cheio de árvores em pleno bairro Jardim América, região oeste de Belo Horizonte, está virando uma verdadeira batalha "verde" entre moradores, construtora e prefeitura.
A área, que fica ao lado da avenida Barão Homem de Melo, é um resquício da antiga fazenda que se situava na região. Ela possui 21.528,56 m², é uma propriedade particular, e foi cedida para uma empreiteira, mas um movimento foi criado no bairro para que ela seja transformada em parque ecológico. Uma ação no Facebook está chamando moradores e apoiadores a segurar um cartaz com os dizeres "#SALVE A CHÁCARA JARDIM AMÉRICA".

De acordo com João Batista, que é vizinho da área verde e um dos representantes do movimento popular, eles já parrticipam de todas as discussões do orçamento aprticipativo na regional oeste, e, em 2011, questionaram a destinação que seria dada ao terreno. "Em 2012, quando ficamos sabendo que a construtora teria solicitado à secretaria municipal do Meio Ambiente a liberação para construção na área, fizemos um abaixo-assinado, que levamos à prefeitura e ao Ministério Público ", conta. Ao todo, foram recolhidas quase mil assinaturas.

Os moradores do Jardim América e da região estão se mobilizando no Facebook para chamar a atenção para a possível destruição da área verde - Foto: Facebook/Criação do parque ecológico no Jardim América/Reprodução

Além disso, segundo o morador, a Câmara Municipal chegou a acatar a proposta, que se transformou no Projeto de Lei 947, de 2014, de autoria do vereador Wagner Messias (Preto). Porém, após a escolha do relator, a proposta não deu prosseguimento na casa, e se encontra suspensa . "A prefeitura chegou a dizer que não havia nada decidido sobre o terreno.
Até hoje a regional não procurou nosso movimento. Já tivemos duas audiências públicas na câmara e duas no Ministério Público, mas nada foi feito", diz João Batista.

A secretaria municipal de Meio Ambiente (SMMA), em nota enviada à Encontro, explica que o conselho municipal de Meio Ambiente (Comam) já concedeu uma licença prévia, autorizando a construtora Masb a dar início à obras. "O empreendimento, da forma como está, atende a legislação municipal e há um ganho em área verde acima do que normalmente se pede na referida legislação, isto é, 30% do terreno ao invés de 15% como o habitual. Além disso, serão preservadas 416 árvores nesta área verde e suprimidas 275 para as edificações com o posterior plantio de 1.356 como compensação ambiental", diz o texto enviado pela SMMA.

O projeto da construtora Masb para a área compreende duas torres de 23 andares cada uma, chegando a 276 apartamentos e 552 vagas de garagem. Além disso, serão construídas 23 lojas no andar térreo do empreendimento. Como a situação se encontra em análise na Promotoria de Meio Ambiente do MP, e com decisão judicial para que seja dada continuidade ao licenciamento ambiental do terreno, para possível transformação em parque ecológico, nenhuma obra pode ser iniciada.

- Foto: Encontro Digital

A Masb, que adquiriu o direito de usufruir da área – já que por ser um inventário familiar ainda não finalizado, não pode ser vendida –, explica que 15% do terreno serão transformados em área pública e 12% revertidos para alargamento de calçadas, com preservação das árvores e formação de um parque linear. Ou seja, dos quase 21,6 mil m² atuais, 5.821,56 m² serão liberados para a comunidade.

"Além disso, em 15% da área do terreno será instituída uma reserva particular ecológica. O empreendimento atende a todos os parâmetros da lei de uso e ocupação do solo de Belo Horizonte, e diretrizes da secretaria de meio ambiente, BHTrans, Sudecap, Copasa, aecretaria adjunta de Regulação Urbana e secretaria de Planejamento Urbano, estando portanto, dentro da legalidade", explica a construtora, em nota enviada à redação.

Com relação à aquisição do terreno, o morador João Batista, que coordena o movimento pela criação do parque ecológico, faz uma denúncia: "A prefeitura disse que não tinha dinheiro para comprar a área, para transformar em reserva, por que valia R$ 130 milhões. Mas, na câmara, ficamos sabendo que, na verdade, o terreno é avaliado em cerca de R$ 32 milhões". De acordo com o movimento, eles tiveram acesso aos documentos da transferência para a construtora, por meio do portal da transparência, e, na verdade, fora realizada uma permuta entre as proprietárias e a Masb. A construtora teria dado R$ 1,6 milhão de entrada e os restantes R$ 28,8 milhões serão transformados em imóveis, a serem entregues após a finalização do empreendimento.

"Essa é a última área verde do território 1, da regional oeste, que compreende os bairros entre o Gutierrez e o Salgado Filho. O terreno faz parte da história da região", diz João Batista..