De acordo com o hematologista Nelson Tatsui, diretor técnico da Criogênesis, a criopreservação é utilizada há alguns anos em células-tronco embrionárias, do cordão umbilical e outros tecidos. "Essa técnica é possível porque foram criadas substâncias químicas que impedem que o líquido existente dentro dessas células congele e cause ruptura das organelas celulares, levando à morte celular", esclarece.
Ainda de acordo com o especialista, com as propriedades do congelamento o homem encontrou uma maneira de preservar a vida e até mesmo seus corpos. "A criobiologia, ciência que estuda o efeito do resfriamento em seres vivos, surgiu na década de 1950, a partir do congelamento de esperma de touros para inseminação artificial. Esta ideia originou inúmeras práticas, que vão desde o congelamento de esperma humano, embriões, sangue, e até mesmo de corpos inteiros. Hoje, é incontável a quantidade de embriões congelados que se transformam em animais e seres humanos", ressalta.
Atualmente, com o congelamento de ovários de mulheres com doenças crônicas, por exemplo, poderá possibilitar que elas possam engravidar e ter seus filhos depois que a doença for erradicada.
Em todo o mundo, inclusive no Brasil, existem bancos privados dedicados exclusivamente à coleta de sangue do cordão umbilical logo após o nascimento do bebê. O aproveitamento das células-tronco, contidas no sangue, é mais uma demonstração do potencial da criobiologia, já que, a partir delas mais de 79 doenças poderão ser tratadas. "Desta forma, a ciência tornou-se um investimento que amplia as expectativas de prolongamento da vida", avalia o especialista.
Arqueologia
Há pouco tempo, cientistas descobriram um vírus gigante de mais de 30 mil anos de idade, na Sibéria, em uma camada profunda de permafrost, o solo encontrado na região do Ártico, formado por terra, gelo e rochas permanentemente congelados.
Após descongelado, o vírus, denominado Pithovirus sibericum, voltou a se tornar contagioso. Ele ataca amebas, mas é inofensivo às pessoas. No entanto, a fragilidade do solo siberiano, cuja camada de gelo torna-se menor e mais exposta a cada ano, é um risco iminente de trazer à tona outros tipos de microorganismos que podem ser prejudiciais à saúde humana.
"Isso mostra o quanto ainda é incompleta a compreensão da biodiversidade microscópica, quando se trata de explorar novos ambientes. Mas a ciência é ousada e com a evolução da tecnologia muito mais poderá ser descoberto, estudado e avaliado", explica Nelson Tatsui..