Na sessão, que durou cerca de três horas e meia, Tancredo derrotou o candidato do extinto PDS, Paulo Maluf, que não tinha apoio unânime entre os militares. Foram 480 votos contra 180. A vitória veio no voto do deputado João Cunha (PMDB-SP), o de número 344, que garantiu a maioria ao candidato da oposição. “Tenho a honra de dizer que o meu voto enterra a ditadura funesta que infelicitou a minha pátria”, disse, entre aplausos, pouco depois das 11h30 daquela terça-feira. Quase uma hora depois, Tancredo Neves leria seu discurso da vitória. “Esta foi a última eleição indireta do país. Venho para realizar urgentes e corajosas mudanças políticas, sociais e econômicas indispensáveis ao bem-estar do povo”.
Deputado à época, o senador Eduardo Suplicy (SP) diz que seguiu a orientação do diretório.
Redemocratização
Os parlamentares são unânimes em um ponto: colocar um fim no ciclo dos presidentes militares. A vitória de Tancredo abriu caminho para a normalidade democrática no Brasil. “Havia um anseio, entre todos os segmentos da sociedade, para que caminhássemos em direção ao fim do arbítrio”, lembra o deputado Mauro Benevides (PMDB-CE), que em 1987/88 foi 1º vice-presidente da Assembleia Nacional Constituinte. “A vitória de Tancredo representou um passo decisivo para que o Brasil, além da redemocratização, tivesse, três anos depois, a Constituição que Ulysses Guimarães chamou de cidadã”.
Vice empossado
Presidente eleito, Tancredo Neves não assumiu o cargo. Na noite de 14 de março, véspera da posse, foi internado no Hospital de Base de Brasília com o diagnóstico de diverticulite. Morreu em 21 de abril.
Foi empossado como presidente da república o vice, José Sarney, a quem coube conduzir o processo de redemocratização e convocar a Assembleia Nacional Constituinte, em 1987. Em 1989, na primeira eleição direta para a presidência da república após o regime militar, foi vencedor Fernando Collor.
(com Agência Câmara).