Hoje o terreno pertence à Secretaria de Patrimônio da União, que, em regime de comodato, cedeu o espaço ao Centro de Africanidade e Resistência Afro-brasileira (Cenarab) para montar sua sede. Embora seja ocupado pela entidade, o local ainda encontra-se em situação precária: apresenta vazamento, pintura descascada e suja, problemas no telhado e parte elétrica, além de o mato tomar conta de parte do terreno.
Mesmo com os problemas estruturais, a entidade oferece à comunidade carente oficinas de formação e qualificação profissional, com aulas de corte e costura, paramentos afro-brasileiros, bordado, informática, introdução à história da África, Educação de Jovens e Adultos (EJA), entre outras atividades. “Em 2012, passaram pelas oficinas mais de 780 alunos”, revela. Mas, para realizar a reforma, a coordenadora terá de seguir algumas regras, pois o imóvel foi tombado pela Fundação Municipal de Cultura (FMC) em 2007.
Segundo o estudo da FMC, não há comprovação de que o projeto seja mesmo de autoria do arquiteto Niemeyer, apenas relatos de moradores e coincidências arquitetônicas. A maior delas é em relação à curvatura do arco na fachada, que de acordo com o dossiê, se comparada à arquitetura da Praça dos Esportes, em Diamantina, apresenta enorme semelhança. O estudo destaca ainda que a edificação do imóvel ficou a cargo da Construtora Ájax Rabello, responsável também pela construção do Complexo Arquitetônico da Pampulha. Porém, a Fundação Oscar Niemeyer afirma que não existe informação ou documento sobre o projeto do Calafate na relação de obras do arquiteto.
O fato é que muito antes de a Cenarab ocupar o espaço, o terreno foi habitado por várias instituições: primeiro ele foi construído para ser um lactário, a pedido de Sarah Kubistchek, esposa do ex-presidente Juscelino. Lá era distribuído leite em pó para as crianças moradoras da favela conhecida como Vila dos Marmiteiros, que ficava do lado oposto da Via Expressa. "Minha avó, Virgínia Zandona, era proprietária do local e vendeu para a dona Sarah, na década de 1950. Muitas mulheres vinham para cá e pegavam as mamadeiras para seus filhos. Mas o negócio começou a ser fraudado e foi fechado", afirma a professora aposentada Virgínia Pereira de Meirelles, que mora na região desde que nasceu.
Mais tarde, o espaço passou a oferecer atendimento médico e odontológico aos moradores e se transformou no centro de saúde Noraldino Lima. Posteriormente, a unidade fechou e deu lugar a uma Loja Maçônica, que permaneceu por cinco anos, de 1985 a 1990.